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Não Existe Almoço Grátis: quando a meia-entrada vira obstáculo para quem produz eventos

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A proposta apresentada pelo vereador Bruno Moraes — que garante meia-entrada para trabalhadores terceirizados em Rio Branco — pode até soar simpática, mas revela um profundo desconhecimento da realidade de quem paga a conta: o produtor de eventos. Em um mercado já sufocado por impostos, encargos, insegurança jurídica e estrutura pública precária, essa medida só agrava um problema crônico no setor: o altíssimo custo de se fazer um evento no Brasil.


A meia-entrada, na prática, nunca é bancada pelo poder público. Ela é imposta ao produtor, que precisa absorver a perda de receita ou repassá-la ao ingresso cheio, encarecendo o acesso para o restante do público. O resultado é perverso: menos pessoas pagando preço cheio, menos margem, mais insegurança e menor incentivo para novos investimentos. Num efeito dominó, a cidade vê menos shows, menos peças teatrais, menos cultura, menos lazer — e mais desemprego no setor.


Rio Branco já não é, por natureza, uma cidade de grandes públicos ou farta infraestrutura cultural. Organizar um evento aqui exige coragem e risco. Os custos com segurança, som, iluminação, transporte, taxas, tributos e estrutura física são elevados — e a previsibilidade de receita é essencial para que o produtor se mantenha ativo. Cada nova obrigação legal, mesmo com a melhor das intenções, é um prego a mais no caixão da economia criativa local.


E não se trata de ser contra os terceirizados — pelo contrário. Mas a inclusão social não pode ser construída à custa da asfixia do setor produtivo. Uma política pública séria exigiria diálogo com quem realiza eventos, análise de impacto fiscal e compensações reais. O que se vê, no entanto, é um projeto superficial, que busca aplausos fáceis nas redes sociais, enquanto transfere ainda mais peso para as costas de quem empreende.


A lógica de estender meia-entrada a cada nova categoria sem contrapartida é insustentável. Quando todos têm desconto, o sistema quebra. Quando o ingresso não cobre os custos, o evento não acontece. E quando o evento desaparece, quem perde é a cidade inteira: o garçom que deixaria de servir, o taxista que deixaria de levar, o camelô que deixaria de vender, o artista que deixaria de se apresentar.


Não há mágica na economia. O ingresso vendido é o que paga o palco, o som, a luz, a segurança, o artista e os empregos envolvidos. Transformar esse ingresso em moeda política, sem responsabilidade, é minar a base de todo um ecossistema cultural e econômico.


Por isso, é preciso repetir: não existe almoço grátis. E quem se alimenta de populismo hoje, pode estar destruindo o banquete que a cultura e o entretenimento ainda tentam oferecer à sociedade.


MARCELLO MOURA é empresário, presidente do CDL Rio Branco e idealizador do movimento Cidadania Empreendedora.


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