O ex-presidente Jair Bolsonaro discursa a apoiadores na Avenida Paulista — Foto: Miguel Schincariol/AFP
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta-feira que recebeu com “senso de responsabilidade” a notícia da carta enviada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao governo brasileiro, “comunicando e justificando o aumento tarifário de produtos brasileiros”. Em postagem nas redes sociais, Bolsonaro disse que o “Brasil caminha rapidamente para o isolamento e a vergonha internacional” e pediu que os Três Poderes “ajam com urgência”.
“A medida é resultado direto do afastamento do Brasil dos seus compromissos históricos com a liberdade, o Estado de Direito e os valores que sempre sustentaram nossa relação com o mundo livre. Isso jamais teria acontecido sob o meu governo (…) A escalada de abusos, censura e perseguição política precisam parar. O alerta foi dado, e não há mais espaço para omissões”, disse o ex-presidente em postagem no X.
Bolsonaro também ressaltou nutrir “respeito e admiração pelo governo dos Estados Unidos”.
“Essa caça às bruxas – termo usado pelo próprio presidente Trump – não é apenas contra mim. É contra milhões de brasileiros que lutam por liberdade e se recusam a viver sob a sombra do autoritarismo. O que está em jogo é a liberdade de expressão, de imprensa, de consciência e de participação política. Conheço a firmeza e a coragem de Donald Trump na defesa desses princípios”, ressaltou.
O anúncio das tarifas acirrou a disputa nas redes entre governo e oposição. Enquanto aliados de Lula responsabilizam o ex-presidente pelo desgaste na relação com os EUA, bolsonaristas acusam o atual presidente de adotar uma política externa ideológica que estaria prejudicando os interesses comerciais do país.
Crise diplomática
Em carta endereçada a Lula, Trump expôs motivos ideológicos para a medida ao criticar as ações da Justiça brasileira contra Bolsonaro, tratadas por ele como “caça às bruxas”. Ao escalar a crise num patamar inédito na gestão petista, o americano também elencou suposta ofensiva contra big techs e à liberdade de expressão para erguer uma barreira comercial, causando reação imediata do Brasil.
Após se reunir com ministros, Lula anunciou no início da noite de quarta-feira que irá agir com base na “Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”, o que pode implicar na sobretaxação de todos os bens americanos em percentual igual. A legislação, sancionada em abril, foi aprovada pelo Congresso justamente no contexto das políticas protecionistas empregadas pelo líder americano.
A tensão se refletiu em mais de um milhão de publicações em português que foram registradas entre 13h de quarta-feira e 10h desta quinta, segundo levantamento da consultoria Arquimedes feito a pedido do GLOBO.