Foto: David Medeiros
Com cerca de 80 casos de sarampo confirmados na Bolívia — incluindo registros em Cobija, cidade vizinha a Brasileia e Epitaciolândia — o Acre acendeu o alerta e intensificou a vigilância epidemiológica nas regiões de fronteira. Apesar de o estado não registrar casos da doença desde o ano 2000, autoridades de saúde reforçam que a proximidade com áreas afetadas e a baixa cobertura vacinal em algumas faixas etárias podem favorecer a reintrodução do vírus.
Na manhã desta terça-feira (8), a reportagem do ac24horas esteve na sede da Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre), em Rio Branco, onde conversou com especialistas sobre os riscos atuais e as medidas adotadas para prevenir novos casos.
Foto: David Medeiros
A secretária adjunta de Atenção à Saúde, Ana Cristina Moraes, explicou que o surto no país vizinho levou o estado a intensificar ações em conjunto com o Ministério da Saúde e com as autoridades bolivianas. “Quando recebemos o alerta da Bolívia, acendemos também o nosso alerta epidemiológico para evitar a entrada do sarampo no Brasil. A nossa rede assistencial, tanto hospitalar quanto laboratorial, está preparada para atender casos suspeitos. Estamos fortalecendo a vigilância hospitalar e trabalhando para garantir o resultado laboratorial em até 72 horas”, afirmou.
Ainda segundo a gestora, o Acre está articulando ações específicas nas áreas de fronteira. “O Ministério da Saúde chega ao território acreano no dia 15 de julho para realizar oficinas com profissionais de saúde em Brasileia e Epitaciolândia. A ideia é capacitar e reforçar as ações de controle na linha de fronteira”, disse.
Questionada sobre a adoção de barreiras sanitárias, Ana Cristina informou que o estado está atuando com o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), promovendo a intensificação da vacinação, ações educativas e diálogo direto com autoridades de saúde do Departamento de Pando, na Bolívia.
Doença altamente contagiosa
O sarampo é uma doença viral de alta transmissibilidade, mais até do que a Covid-19, segundo a coordenadora estadual do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Renata Quiles. O vírus é transmitido por gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar.
“A última vez que tivemos casos confirmados no Acre foi no ano 2000. Ou seja, há 25 anos estamos sem registros da doença. No entanto, esse tempo sem casos nos traz um conforto frágil, porque nossas coberturas vacinais não estão em níveis ideais”, alertou. Atualmente, a cobertura da primeira dose da vacina em crianças menores de dois anos está acima da meta, com 96,67%, mas a segunda dose ainda é considerada insatisfatória: apenas 70,32%.
Renata reforça que o risco não vem apenas da entrada do vírus pelo exterior, mas da vulnerabilidade interna. “Se estivéssemos com as coberturas vacinais altas e homogêneas, a doença poderia entrar que não causaria impacto. A culpa não é dos estrangeiros, é nossa, quando não fazemos o dever de casa, que é vacinar.”
Vacinação é única forma de prevenção segura
A vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, está disponível em todas as 246 salas de vacina do Acre. As doses são indicadas para todas as faixas etárias, conforme o histórico vacinal.
“Se você tem de 1 a 29 anos, deve ter duas doses registradas. Entre 30 e 59 anos, uma dose é suficiente. A vacina pode aparecer na sua caderneta com as siglas TV, DV, tríplice viral ou SRC”, explicou Renata Meirelles, responsável técnica pelas doenças imunopreveníveis da Sesacre. Ela também reforça que, diante do cenário atual, quem não sabe se está imunizado deve procurar uma unidade básica para tirar a dúvida e atualizar o esquema vacinal.
Sarampo pode evoluir para formas graves
Foto: David Medeiros
De acordo com a médica infectologista Cirley Lobato, os primeiros sintomas podem ser confundidos com outras viroses: febre, dor de cabeça, manchas no corpo, conjuntivite e dor muscular. O agravamento pode resultar em complicações como pneumonia, meningite e até a morte.
“A transmissão é respiratória, por gotículas. O período de incubação pode chegar a 14 dias. O risco aumenta muito em locais com aglomerações. Se tiver febre e manchas no corpo, evite sair de casa e procure atendimento médico”, orientou.
A infectologista também explicou que quem teve a doença na infância está imune. “Se você já teve sarampo, está protegido para o resto da vida. Mas se não teve ou não sabe, o ideal é se vacinar.”
Atenção redobrada nas fronteiras
Segundo a Sesacre, o surto na Bolívia está relacionado a eventos de massa com grande circulação de pessoas. Além disso, o vírus já foi identificado em municípios como Santa Cruz, La Paz e Potosí — e a proximidade com Cobija, que faz fronteira com o Acre, aumenta o risco de disseminação. “É uma fronteira aberta, com grande fluxo de pessoas. Estamos tomando todas as medidas para conter o avanço do vírus. O momento é de alerta e prevenção”, reforçou Ana Cristina.