Foto: Reuters/Carlos Barria
A lei proposta por Donald Trump para promover uma verdadeira mudança no arcabouço fiscal e tributário nos EUA ameaça atingir os imigrantes brasileiros e suas famílias que ficaram no país.
No projeto de lei que já passou pela Câmara dos Deputados e que está já no Senado americano, a Casa Branca quer a aplicação de um imposto de 3,5% sobre as remessas de estrangeiros que trabalham nos EUA, de volta a seus países, independente se estão de forma regular ou não em empregos americanos.
A “One, Big, Beautiful Bill” de Trump, como vem sendo chamada pelo presidente, promete causar um profundo impacto na América Latina, que já está sendo abalada pelas deportações e prisões de seus nacionais em território americano.
Mundo nunca teve tantos refugiados, e vai piorar
O presidente deu um prazo até 4 de julho para que os senadores cheguem a um entendimento para colocar o projeto de lei à votação. O impasse, porém, não se refere aos temas relacionados aos imigrantes.
De uma forma geral, as remessas de trabalhadores latino-americanos de volta para suas casas representam 2,5% do PIB do continente.
Em 2024, os imigrantes nos EUA enviaram para a região US$ 161 bilhões, segundo o levantamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento —US$ 64 bilhões foram para o México e outros US$ 21 bilhões para a Guatemala.
Mas as remessas dos EUA ao Brasil tampouco são desprezíveis, principalmente para famílias de regiões como Governador Valadares (MG).
Em 2023, o Banco Central estimou que os brasileiros trabalhando nos EUA enviaram ao país US$ 2 bilhões, metade de tudo o que os imigrantes brasileiros pelo mundo enviaram. A Prefeitura de Governador Valadares estima que a economia local movimenta cerca de US$ 700 milhões abastecidos pelo trabalho de conterrâneos que estão nos EUA.
A taxa que deve entrar em vigor é apenas mais um problema enfrentado pelos brasileiros hoje nos EUA. Muitos daqueles que vivem de forma irregular estão sentindo no bolso o impacto da ofensiva de Trump contra os imigrantes.
Cátia, que pediu para não ter seu sobrenome revelado, contou à reportagem que recebe por semana no bar onde trabalha, nas proximidades de Miami. “Mas quando há operação das autoridades, eu não saio de casa. E não recebo naquele dia ou semana”, contou. O resultado tem sido uma diminuição do volume de recursos que são enviados ao Brasil. “A prioridade agora é pagar as contas aqui”, disse.
Um casal de Sorocaba (SP) revelou que suspendeu por enquanto o trabalho de renovação de uma casa de uma parente no interior de São Paulo. “Vamos ver o que vai acontecer. É hora de poupar agora”, disse Carlos, que vive em Nova York.
Em outros casos, muitos brasileiros temem ir às lojas de câmbio, principalmente depois de rumores de que a polícia de imigração conhecida pela sigla ICE estaria fazendo batidas nas proximidades desses comércios, cientes da presença de estrangeiros.
Ainda que a taxa tenha um impacto para certas famílias e regiões do Brasil, ela ameaça ainda mais as remessas de imigrantes para outros locais da América Latina. Hoje, o envio de dinheiro por brasileiros no exterior representa apenas 0,2% do PIB nacional.
Mas os recursos dos trabalhadores enviados para os países da América Central somam 12% do PIB da região. Para El Salvador, o envio representa 24% do PIB do país, taxas similares para locais ainda como Honduras e Nicarágua.