Representantes de sindicatos de diversas categorias do serviço público estadual realizaram uma coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira (23), no Salão Azul da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac). O encontro reuniu lideranças dos setores da Educação, Saúde, Segurança Pública (Polícias Civil, Militar e Penal), Fazenda e órgãos da administração indireta.
Na pauta principal, os sindicalistas anunciaram a realização de uma manifestação pública e unificada, marcada para a próxima terça-feira (25), além da sinalização de um possível indicativo de greve geral em todo o estado.
O presidente do Sindicato dos Engenheiros do Acre, Cláudio Mota, destacou a união das categorias em torno de uma pauta única e criticou a postura do governo estadual diante das negociações com o funcionalismo público. Segundo ele, há sete anos os sindicatos vêm recebendo as mesmas justificativas por parte do Executivo, sempre amparadas nos limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
“Todos os sindicatos têm escutado as mesmas desculpas. Por isso, construímos uma pauta unificada, entregue ao governo, representando servidores da Educação, Saúde, Segurança, Produção, Infraestrutura, gestores, especialistas e servidores das administrações direta e indireta”, afirmou Mota.
Ele relembrou que, na audiência pública realizada na Aleac, na quinta-feira retrasada, os sindicatos solicitaram a apresentação de um plano de recuperação fiscal, mas o governo não enviou o próprio governador, apenas um representante. “Se não houver resposta até quarta-feira, 25, todos os servidores estarão mobilizados em uma grande manifestação. Caso não haja diálogo, sairemos com indicativo de greve para a próxima semana”, completou.
Cláudio Mota também criticou o aumento salarial concedido aos secretários de Estado, enquanto os servidores acumulam perdas salariais. “Quando teve folga fiscal, o governo aumentou o salário dos secretários de R$ 23 mil para R$ 32 mil. Nós, servidores, estamos até aqui, com perdas calculadas em 20,39% nos sete anos da gestão Gladson Cameli. Aqui hoje estão representados cerca de 40 mil servidores de todo o estado. Esperamos que o governo volte a dialogar com quem realmente move o desenvolvimento do Acre”, declarou.
As categorias cobram do governo estadual uma resposta concreta sobre três pontos centrais de reivindicação: a majoração do auxílio-alimentação, a extensão do auxílio-saúde a todos os servidores ativos e inativos, e a concessão de um reajuste linear para todo o funcionalismo público, por meio da Revisão Geral Anual (RGA).
Rafael Diniz, presidente do Sindicato dos Oficiais de Justiça e Avaliadores do Acre (Sindojus-AC), representando a Frente Única da Segurança Pública, também criticou a falta de diálogo do governo com os servidores e destacou a mobilização das categorias em torno das pautas salariais.
“Fazemos parte hoje da Frente Única da Segurança Pública, que o governador Gladson Cameli e sua equipe, pelo descaso com os servidores, conseguiram unificar. Agora, essa frente também integra a Frente Ampla, que reúne servidores públicos de diversas áreas e representa mais de 25 mil trabalhadores. Cerca de 30 sindicatos estão unidos em torno da mesma pauta, que é a recomposição salarial diante da perda do poder de compra acumulada nos últimos anos, estimada em cerca de 20%. Reivindicamos também o aumento do auxílio-alimentação para R$ 1.000 e a extensão do auxílio-saúde, também no valor de R$ 1.000, incluindo os servidores aposentados”, afirmou.
Questionado sobre o papel da Assembleia Legislativa no processo, Rafael ressaltou a importância do apoio parlamentar. “Agradecemos mais uma vez esta Casa, na figura do deputado Adailton Cruz, servidor público da área da saúde, que tem liderado esse diálogo. Também contamos com o apoio de outros parlamentares da base. Como foi bem explicado pelos colegas, a recomposição salarial não fere a Lei de Responsabilidade Fiscal. Queremos que a população entenda: estamos apenas reivindicando a devolução do nosso poder de compra diante da inflação”, explicou.
João Neto, representante dos servidores da administração direta, criticou duramente o descaso do governo estadual com a categoria dos efetivos. Com formação em Administração e cursando Arquitetura, ele relatou as dificuldades enfrentadas pelos servidores, que acumulam décadas de serviço público sem qualquer valorização.
“Temos uma perda que ultrapassa os 100%. O governo teve oportunidade, no segundo mandato, de promover algum tipo de ajuste para os servidores efetivos, mas preferiu enviar à Assembleia Legislativa um projeto voltado apenas ao secretariado. Esqueceu completamente da base do funcionalismo, os menos privilegiados. Por isso, hoje somos conhecidos como ‘os esquecidos’”, afirmou.
João Neto também denunciou a defasagem salarial que atinge servidores com décadas de serviço. “Imagine alguém com 40 anos de Estado, duas faculdades, e recebendo R$ 2.500. Como essa pessoa vai se sustentar? É essa a realidade de muitos colegas”, lamentou.
Ele ainda destacou que são os servidores efetivos que mantêm a máquina pública funcionando ao longo dos anos. “Quando o governo fala que contemplou o servidor público, ele se refere de forma genérica. Mas a verdade é que os efetivos continuam sendo negligenciados. Somos nós que tocamos este Estado, e seguimos invisibilizados.”
Os representantes sindicais afirmaram que as medidas têm caráter emergencial diante do que classificam como estagnação nas negociações com o Executivo. A expectativa é que o movimento do dia 25 sirva como um alerta ao governo e à sociedade sobre as demandas acumuladas do funcionalismo público.