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De refrigerante a café: a metamorfose gourmet de Jorge Viana

Por
Luiz Calixto

Durante muito tempo, o nome de Jorge Viana no Acre foi sinônimo de refrigerante. Não exatamente por uma preferência pessoal nem porque coincidiu com governo petista a saída da Coca-Cola do Estado, um episódio emblemático que resultou na perda de centenas de empregos.


A ligação de Jorge com refrigerante tem a ver com um meme, possivelmente um dos primeiros memes políticos do nosso Estado. Se o leitor der um Google provavelmente vai lembrar do que se trata.


Corta para os dias atuais.


Agora, Jorge reaparece tentando encarnar uma nova persona: menos gaseificado, mais encorpado. O refrigerante ficou no passado. O Jorge de hoje se apresenta como produtor de café. E não qualquer café. É especial, de qualidade, de exportação. Tudo muito premium.


A ironia? Não falta.


O mesmo Jorge Viana que, durante anos, demonizou a produção rural e defendeu a floresta em estado virginal, agora posa como barão da cafeicultura.


O mesmo que tratava agricultores como inimigos do meio ambiente hoje planta, colhe e ostenta. Teria sido tocado pelo espírito empreendedor? Ou, como dizem nos bastidores do poder, teria apenas aprendido uma lição valiosa em suas viagens internacionais: money talks.


Se você, leitor, não domina o inglês — e Jorge também demonstrou certa dificuldade quando alterou o estatuto da Apex-Brasil para seguir no cargo —, eu explico: “o dinheiro fala”. Ou melhor, grita.


Não é difícil entender: Jorge recebe quase R$ 1 milhão por ano só em pensões acumuladas como ex-governador e ex-senador. E mesmo assim, desfila por aí se dizendo muito preocupado com a desigualdade social. Uma preocupação, digamos, teórica e bastante confortável.


Recentemente, em entrevista, Jorge fez questão de exaltar os tempos de ouro do PT, afirmando que o PIB do Acre era de quase R$ 10 bilhões sob seu comando. Faltou dizer que hoje o Produto Interno Bruto do Acre ultrapassa R$ 30 bilhões — com Gladson Cameli no governo. Sim, o mesmo Gladson que, segundo os petistas, “não sabia administrar nem a própria agenda”.


Vale lembrar que Jorge e seu partido deixaram obras paradas por anos, como o Hospital de Urgência de Rio Branco — finalizado e inaugurado em menos de seis meses pelo atual governo. De quebra, ainda vieram mais três hospitais no interior e uma nova maternidade prestes a ser entregue.


Na segurança pública, o legado do petismo também foi memorável — no pior sentido. Viaturas sucateadas, sem combustível. Policiais sem farda. E, para completar o quadro tragicômico: combatiam o crime com apitos. Literalmente.


Diante disso tudo, fica difícil levar a sério essa nova versão de Jorge Viana. A tentativa de rebranding (reformulação da marca) pode enganar os desatentos, mas não apaga o histórico. Sai o refrigerante, entra o café — mas o gosto amargo, esse continua.


Luiz Calixto – Secretário de governo de Gladson Cameli


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Luiz Calixto