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Geraldo defende redemarcação da Resex e critica modelo: “engessamento do Acre”

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Da redação ac24horas

Durante entrevista concedida ao programa Boa Conversa – Edição Aleac, o ex-deputado estadual e produtor rural Geraldo Pereira foi um dos principais porta-vozes do movimento que, nesta terça-feira, 17, ocupou o plenário da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) contra os embargos ambientais aplicados pelo ICMBio.


Em fala contundente, Pereira criticou a forma como as reservas ambientais, em especial a Reserva Extrativista Chico Mendes, têm sido conduzidas ao longo dos anos, defendendo sua redemarcação e alegando que o modelo atual impede o desenvolvimento econômico e social do estado.


“Ela Marina Silva é uma figura importante na defesa do meio ambiente, mas a gente não está preocupado somente com essa causa [ambiental], nós estamos agora defendendo o desenvolvimento econômico e social do estado do Acre”, pontuou.


Segundo Geraldo, a criação de reservas federais como a Chico Mendes , que ocupa 900 mil hectares dos 16 milhões de hectares do território acreano, corresponde a um verdadeiro “engessamento” da produção rural.


“Quando criaram a reserva Chico Mendes e as outras reservas, foi uma grande intervenção federal no estado do Acre. Cê tem uma ideia, a reserva Chico Mendes são 900 mil hectares de terra, das 16 mil de hectares do estado do Acre, isso aí é em torno de 8% de terras engessadas só com a reserva Chico Mendes. Todas as reservas representam uma intervenção no desenvolvimento econômico do estado do Acre, na ordem de 47%”, justificou.


O ex-parlamentar defendeu que a reserva seja redemarcada, respeitando as ocupações humanas e redirecionando áreas para a produção agrícola. “O que nós estamos defendendo é que essa reserva, a reserva Chico Mendes, ela seja redemarcada, regularizando essa situação das pessoas que já estão ocupando a área, que essa região seja destinada para o desenvolvimento econômico e social”, destacou.


Ele também apontou a escassez de áreas produtivas em municípios como Brasiléia e Rio Branco como resultado direto da limitação imposta pelas unidades de conservação. “O município de Brasiléia não tem terras mais destinadas à agricultura. Todas as suas terras que podem ser trabalhadas com a agricultura estão dentro da reserva. Rio Branco, se você fechar os olhos da população e imaginar pra onde o Rio Branco pode crescer, não tem mais pra onde. A agricultura só tem como crescer para dentro da reserva. Então é preciso que, com muito bom senso, se faça uma revisão dos limites dessas reservas”, ressaltou.


Geraldo também questionou o modelo extrativista defendido inicialmente nas reservas, que hoje, segundo ele, configura condições similares ao trabalho escravo. “Nossa vocação era extrativista, mas aquele extrativismo que a Resex Chico mendes se propõe hoje já é tratado como trabalho análogo à escravidão. Portanto, o governo federal que combate o trabalho escravo dentro das propriedades rurais, se você tiver as mesmas instalações onde mora o seringueiro, o castanheiro, se você levar aquelas instalações para dentro de uma propriedade particular, o Ministério Público do Trabalho vai lá e retira você de lá preso”, salientou.


Ele propôs que o governo federal e a bancada do Acre atuem para remodelar a política de reservas florestais, destinando áreas à produção agrícola de forma planejada e sustentável.


“Nós queremos que sejamos todos coerentes: o governo federal, o governo do estado, os prefeitos, envolver todo mundo, principalmente o Congresso Nacional, a bancada federal do Acre e da Amazônia, pra que trabalhe essa remodelagem das reservas florestais e destinar a maior parte de área possível para o desenvolvimento da agricultura. Nós só podemos desmatar 20%. O estado do Acre todo tem 16%. Então nós temos uma folga grande ainda, então basta que tenha coerência em tudo isso”, explicou.


Questionado sobre a atual ofensiva de fiscalizações e destruições de áreas produtivas, Pereira voltou a criticar o ICMBio, apontando omissões históricas e defendendo incentivos à produção sustentável.


“Sem tirar o mérito do ICMBio e a função que eles exercem, o ICMBio e toda a política nacional de preservação do meio ambiente negligenciou ao longo do tempo. Vou só dar um exemplo: se tinha lá em 1990, criada a reserva pelo José Sarney, então ali ela tinha um argumento forte de criar reserva. Nós tínhamos muita terra sobrando, então poderia criar daquele tamanho. E houve a negligência do governo estadual, na época, que não contestou isso, ou seja, pessoas que não tinham visão de futuro. Portanto, engessaram essa parte”, pontuou.


Ele ainda apresentou alternativas econômicas de baixo impacto, como o cultivo de cacau e café, financiados com recursos internacionais. “Se as mesmas 20 hectares tivessem sido plantadas nessas condições para plantar o cacau nativo, as pessoas teriam lá 50 vezes mais renda do que têm hoje com gado. Se lá dos 20 hectares tivesse 10 hectares de café, isso financiado com esse dinheiro que vem do exterior, do Fundo da Amazônia, dá um rendimento mínimo de 600 mil reais por família, líquido. Então o povo não teria que estar abrindo floresta e nem criando gado lá dentro. Basta que o governo federal, o governo do estado, comece a sentar e conversar o que fazer lá e parar de tirar as pessoas de lá de dentro, porque isso não vai resolver”, justificou.


Ao encerrar, Geraldo Pereira reforçou que a devastação ilegal ocorre justamente pela ausência de planejamento e incentivo à produção sustentável, e estimou o impacto econômico que o aproveitamento racional da floresta poderia ter gerado ao Acre nas últimas décadas:


“De 90 pra cá, o Acre quanto avançou? Sempre foi proibido e avançou no desmate. Se esse aproveitamento das nossas florestas tivesse sido racional, isso já teria produzido mais de 10 trilhões de reais. O Acre poderia ter aí uns 20 andares do que é hoje”, finalizou.


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Da redação ac24horas