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Coordenadora do Comitê Chico Mendes, a ativista ambiental Ângela Mendes, filha do líder seringueiro assassinado em 1988, se manifestou nesta terça-feira, 17, sobre os ataques sofridos por agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) durante a Operação Suçuarana, realizada na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, em Xapuri, no Acre.
A operação tem como objetivo cumprir mandados judiciais para a retirada de gado criado de forma irregular na unidade de conservação. De acordo com o ICMBio, a ação ocorre dentro dos limites legais e foi determinada pela Justiça após repetidas notificações a moradores que desrespeitavam o limite de criação de animais previsto nas normas da Resex.
Nas redes sociais, Ângela Mendes lamentou o cenário de tensão na região e relembrou a memória do pai. “Tem sido muito grave. Me traz uma lembrança muito triste, me parece que a gente está voltando àquela época de extrema violência que resultou no assassinato do meu pai. Nada fácil assistir a isso”, afirmou.
A ativista criticou a propagação de notícias falsas nas redes sociais e a tentativa de transformar uma ação de fiscalização ambiental em um conflito político. “Pessoas de má índole estão se aproveitando da ação do ICMBio para fazer política vil, jogando a população da Resex contra os servidores do instituto e contra lideranças locais importantes, como o tio Raimundão, que agora está sendo ameaçado. Vamos continuar combatendo, porque o sangue do meu pai ainda jorra nessa floresta”, alegou.
Segundo ela, os criadores notificados não foram pegos de surpresa. “Não são inocentes que perderam o pouco que criavam. São pessoas que mantinham gado acima do permitido, foram notificadas diversas vezes e, mesmo assim, acreditaram que nada aconteceria. Agora, usam isso para defender pautas como a desmarcação da Resex e a desafetação, impulsionadas por interesses políticos ligados ao PL 6024”, afirmou, em referência ao projeto que previa a redução da área da unidade de conservação.
Em outro trecho de sua manifestação, Ângela Mendes fez um apelo por uma resposta mais incisiva do governo federal. “O legado para a humanidade, cuja criação meu pai pavimentou com seu próprio sangue, está ameaçado. Apoio o presidente. Em muitos momentos, discordei das posições políticas da ministra Marina Silva, mas compreendo os desafios que ela enfrenta como mulher, negra e seringueira nesse ninho de cobras. Peço uma forte intervenção nessa situação, sob pena de termos mais sangue derramado”, declarou.
Bloqueios e protestos
A tensão na Resex Chico Mendes aumentou nas últimas semanas com protestos de moradores da região contrários às ações de fiscalização. No dia 8 de junho, manifestantes interditaram a BR-317, na entrada de Xapuri, permanecendo no local até as 19h do dia seguinte. Após a suspensão do bloqueio, o grupo voltou a fechar a rodovia na sexta-feira (13), alegando que a operação estava prejudicando sua produção e resultando na apreensão de gado.
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