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O PT do Acre passa por um momento de ajustes. Normal. É mais um. Mas é um ajuste diferenciado porque feito marginal à rotina da corte. O refino das articulações políticas agora não tem o charme natural dos cargos e dos orçamentos, sempre tão encantadores. É empresa para poucos, feito catraieiro experiente que rema só com metade da pala.
Quais são as agruras do PT no Acre atualmente? De uma forma genérica e até simplista, é possível afirmar, comodamente, que a principal é estar fora do poder. Não é uma afirmação inverídica, mas está muito longe de dizer tudo. Há mais coisas em jogo. O leitor, sempre desconfiado das coisas, pode ter dificuldades em enxergar que há alguns fundamentos que passam ao largo do manejo do dinheiro público e da rotina de distribuição de cargos em nome da tão perniciosa “governabilidade”.
Para analisar o cenário interno, é preciso fazer uma ressalva inicial: os limites entre os partidos políticos e os governos. Não é uma relação banal. Principalmente para quem é forjado nos referenciais de uma corrente muito específica da esquerda, sobretudo de matriz italiana. E o que reza a cartilha?
Em síntese (e violenta como toda manchete de jornal): Os partidos políticos são maiores do que qualquer governo. É uma premissa que faz “ingúiar” lideranças como Lula, Jorge Viana, Rui Costa e incomodava igualmente figuras como Miguel Arraes e Brizola, para lembrar duas figuras de proa no barco da esquerda brasileira. No entanto, existem pontos de fusão em que partido e governo se retroalimentam: um necessita do outro; um se alimenta do outro.
No exercício do poder, compreender (e respeitar) a lógica dos partidos não é para qualquer governante. No plano nacional, quem melhor consegue entender essa dinâmica na seara petista é José Dirceu. No plano local, uma liderança do partido que tem postura equiparada é o professor Francisco Nepomuceno, o “Carioca”.
São pessoas que sabem que os governos têm permissões, em nome da sustentabilidade política, que são proibitivas para os partidos. E os partidos, por sua vez, têm dogmas e restrições que inviabilizam governos. Gerenciar esses limites é uma arte que o PT do Acre conseguiu manejar por cinco mandatos no Governo do Estado e por três mandatos e meio na Prefeitura de Rio Branco.
O cenário agora é de solidão quase completa: sem as máquinas administrativas do Governo do Estado e da maior prefeitura do Acre, o único remo de salvação poderia ser a presidência da República, mas esta, mostram as pesquisas, vai aos poucos se fragilizando diante de um Congresso que se agiganta e se lambuza no orçamento público a cada movimento, apesar da resistência republicana do STF.
Com experiência em travessias tumultuadas, Jorge Viana sabe que a mira da extrema direita está na renovação de dois terços do Senado. Esse é o alvo tático, imediato. O estratégico, para a extrema direita, é o STF, com a retórica de eleição para ministros da corte e possibilidade de impeachment dos magistrados.
No Acre, em um ambiente ainda muito hostil ao PT, Viana não tem muita munição a não ser o histórico de gestão. É uma história que se mistura com a do PT? A resposta não é tão simples. Mas, certamente, enaltecer o partido durante a campanha, não deve estar entre as prioridades do roteiro de Viana.
Jorge Viana nunca foi militante do PT. E não é porque nunca andou no lendário “Fusca do Nilson Mourão”. É porque o PT já tinha uma história de militância de alegrias e tragédias vividas por Célia Pedrina, Reginalda da Silva, Lhé e tantos outros. A inclusão de Jorge na história do partido se efetivou no calor da administração pública. De prefeito a presidente da Apex, é um currículo talhado pelo Executivo. A militância parece lhe causar alguma alergia.
O atual presidente do PT do Acre, professor Daniel Zen, tem plena consciência do processo histórico e do atual cenário. Em recente declaração ao jornalista Luiz Carlos Moreira Jorge, pavimentou internamente no partido o caminho para Jorge Viana. “Ele é o nosso maior líder, sua candidatura ao Senado, que defendo que deve ser única no campo da esquerda, é prioridade e não podemos prescindir dele no momento mais difícil do PT”, ajoelhou-se Zen.
É uma declaração de um jovem e sonhador militante? É claro que não! Antes, é a fala de um homem que amadureceu dentro de um partido, enfronhado no poder. O presidente Zen estende o combalido Exército de Brancaleone a Jorge Viana, a única liderança com capacidade eleitoral de alimentar no grupo a ideia de que fazer a travessia em busca da terceira margem vale à pena. Zen sabe que não há remanso: a correnteza está forte e os balseiros são medonhos.