Diálogo Honesto

Por
Irailton Lima

É comum que as mulheres sejam mais duramente atacadas do que os homens quando ocupam cargos de poder. E é compreensível que o uso da autoridade — sobretudo quando exercida nos limites e no rigor da lei, em defesa dos mais vulneráveis — assuste aqueles que, por tanto tempo, se beneficiaram das sombras do poder.


Não, não me espanta que Dulce Benício, a presidente do TCE do Acre, tenha sido “fritada em banha de porco” — como diz o dito popular —, ao longo desta semana. É justamente por trazer um jeito novo, sensível e corajoso de conduzir o poder que isso vem acontecendo. O que Dulce Benício representa é mais do que uma pessoa em função pública: ela carrega em si o gesto inédito de escutar o que nunca foi ouvido, de acolher o que sempre foi descartado, de iluminar o que historicamente se manteve à margem.


Daqui para frente, veremos Dulce Benício com mais frequência nas manchetes. Porque ela ousou vestir a roupa — mal talhada, é verdade — dos que nunca tiveram vez. A roupa do povo anônimo, das mulheres violentadas, das vozes marginalizadas que teimam em existir.


Esse movimento em torno de seu nome, essa tentativa de deslegitimar uma mulher íntegra e proba, nos convida à reflexão: até onde avançamos no diálogo democrático honesto? Que ética queremos sustentar na vida pública? Que política do cuidado ainda precisamos aprender?


Que sentido há quando a defesa do sagrado direito de humildes crianças de uma área rural ao ensino público em condições dignas é tomado como ofensa ao poder, que reage, nos submundos, com ataques pessoais e ofensas desmesuradas? Onde está o sentido público da ação de quem assim opera?


Os que atacam instituições tentando destruir reputações pessoais, o fazem pondo em risco o próprio sentido do poder político do Estado, na medida em que na confiança dos cidadãos reside a legitimidade deste. Quando assim agem, talvez até ignorando o elevado risco de seus atos, põem em xeque estruturas institucionais que se assentam em arquétipos sociais delicados.


Dulce nos convoca, com sua presença, a olhar, cara a cara, a dura realidade dos que já não têm sequer a esperança — e a fortalecer, com coragem, os caminhos de um controle público que, enfim, se parece com o povo


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Irailton Lima