Categorias: Acre 01Orlando Sabino

Transformações da fé: o avanço evangélico e a resistência católica no Acre

Por
Orlando Sabino

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na última sexta-feira (6/6), os dados referentes ao “Censo Demográfico 2022: Religiões – Resultados Preliminares da Amostra”. A divulgação contemplou informações sobre as religiões e cultos professados no país por todas as pessoas com 10 anos ou mais de idade na data de referência da pesquisa.


Os dados foram apresentados por grandes grupos de religiões declaradas, desagregados por sexo, cor ou raça, grupos de idade e nível de escolaridade da população. As informações estão disponíveis para o Brasil, grandes regiões, estados e municípios.


No artigo de hoje, apresentamos os dados gerais sobre religião no Acre e seus municípios, com destaque para católicos e evangélicos — grupos que, juntos, somam mais de 83% das declarações religiosas no estado.


Entre 2010 e 2022, o perfil religioso da população acreana passou por mudanças significativas. Os dados do Censo Demográfico revelam uma queda na proporção de católicos apostólicos romanos, que passaram de 51,94% para 38,93%, e uma leve redução entre os que se declararam sem religião, de 11,91% para 11,2%. Em contrapartida, os evangélicos apresentaram crescimento expressivo, saltando de 32,66% para 44,38% da população com 10 anos ou mais. Os números refletem uma tendência já observada em outras regiões do país: a ascensão do grupo evangélico e o recuo da hegemonia católica. Em 2022, o Acre apresentou maior percentual de evangélicos do Brasil.


Os dados revelam mudanças importantes na composição religiosa do Acre entre 2010 e 2022. A proporção de católicos apresentou uma queda de 13,1 pontos percentuais, enquanto o grupo dos que se declararam sem religião teve uma leve redução de 0,71 ponto percentual. Em contrapartida, os evangélicos registraram um crescimento expressivo de 11,72 pontos percentuais no mesmo período. Esses números reforçam a tendência de reconfiguração do cenário religioso no estado, marcada pela perda de predominância católica e pela consolidação do segmento evangélico como o maior grupo religioso.


Na tabela a seguir, apresenta-se a nova configuração entre católicos e evangélicos, com base na comparação dos dois últimos Censos Demográficos, de 2010 e 2022, abrangendo os 22 municípios do Acre. Somente no município de Plácido de Castro não houve redução na participação dos católicos. Já o crescimento dos evangélicos foi registrado em todos os municípios.


Screenshot

Em 2022, católicos ainda dominavam 4 das 5 regionais, apesar do avanço evangélico


Rio Branco, a capital do estado e pertencente à Regional do Baixo Acre, é a principal responsável pela predominância dos evangélicos no Acre. Segundo o Censo de 2022, havia 51 mil evangélicos a mais do que católicos na capital. Essa diferença expressiva em Rio Branco é o fator determinante para a superioridade evangélica no estado. Nas quatro demais regionais, no entanto, os católicos ainda superam os evangélicos, como pode ser observado no gráfico a seguir.


Na Regional do Alto Acre, assim como em Rio Branco, todos os demais municípios apresentam um número de evangélicos superior ao de católicos. Já no Baixo Acre, apenas no município de Assis Brasil os evangélicos superam os católicos.


Assim como no Baixo Acre, na Regional do Juruá a superioridade evangélica foi registrada somente em Rodrigues Alves. No Tarauacá/Envira, havia mais de 12 mil católicos do que evangélicos, com predominância católica em todos os municípios.


Por fim, na Regional do Purus, a vantagem de 5,4 mil católicos sobre os evangélicos em Sena Madureira foi suficiente para garantir a predominância católica na regional, apesar de Manoel Urbano e Santa Rosa do Purus apresentarem maioria evangélica.


Screenshot

Os dados evidenciam que, embora os evangélicos tenham alcançado maioria no estado do Acre como um todo — impulsionados principalmente pela expressiva vantagem em Rio Branco — a presença católica ainda é dominante em grande parte do interior. O contraste entre capital e interior reflete não apenas diferenças regionais, mas também dinâmicas sociais, culturais e demográficas distintas. Essa reconfiguração religiosa aponta para um processo de mudança gradual no perfil da fé no estado, em que a tradição católica ainda se mantém forte, especialmente fora dos grandes centros urbanos.


Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas


Compartilhe
Por
Orlando Sabino