Após a primeira rodada de interrogatórios no processo que investiga suposta tentativa de golpe de Estado, os advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) consideraram as falas do tenente-coronel e ex-ajudante de ordem Mauro Cid “extremamente positivas” para a defesa, por apresentarem “contradições” que podem ser usadas em benefício do ex-presidente.
Celso Vilardi, que integra a equipe de defesa ao lado do advogado Paulo Bueno, afirmou que as falas de Cid demonstraram “memória seletiva” e contradições que serão exploradas no decorrer do processo. Ele pretende, inclusive, usar as contradições para questionar a delação.
“Quando confrontado, ele diz que esqueceu. Assim é fácil delatar”, criticou o advogado, após o término da sessão na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (9/6).
Vilardi destacou, ainda, que fez perguntas específicas sobre uma reunião com empresários no Palácio da Alvorada, citada pelo militar. Segundo ele, Cid “inventou uma reunião”, esqueceu detalhes importantes como o documento que pediu dois dias antes da reunião na casa do general Walter Braga Netto, e o contexto do encontro. “É o sétimo depoimento diferente, não tem um idêntico”, acrescentou.
Durante o depoimento, Mauro Cid negou ter recebido ordens de Bolsonaro para desmobilizar os manifestantes em frente a áreas militares após a eleição de 2022 e afirmou que não percebeu incentivos do ex-presidente para os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro de 2023.
Bolsonaro “enxugou minuta”, diz Cid
Por outro lado, o militar confirmou que Bolsonaro recebeu e modificou o texto da chamada “minuta do golpe”. Segundo Cid, o ex-presidente teria “enxugado a minuta”, que inicialmente previa a prisão de diversas autoridades, para restringir a ação apenas ao ministro do STF e relator do processo, Alexandre de Moraes.
Além do depoimento de Cid, também foi ouvido o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem.
A sessão foi suspensa na noite desta segunda e será retomada nesta terça (10/6), a partir das 9h, com o depoimento do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier.
No total, a Primeira Turma do STF reservou cinco dias para ouvir, além de Bolsonaro e Cid, outros seis réus, incluindo nomes como Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do GSI; Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto, ambos ex-ministros da Defesa.
Celso Vilardi ressaltou que o ex-presidente Bolsonaro deverá esclarecer amanhã o episódio do “enxugamento da minuta”, citado por Cid.