A operação de fiscalização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), realizada neste final de semana na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri (AC), tem gerado tensão entre os moradores da região. A base de apoio da ação foi montada justamente na área onde vive, há cinco anos, o produtor rural Josenildo Mesquita, que afirma ter sido surpreendido pelas autoridades ambientais. O videomaker do ac24horas, Kennedy Santos, acompanha a situação in loco neste domingo (8).
Em entrevista ao ac24horas, Josenildo relatou que a propriedade, fruto de uma troca, possui 125 hectares e abriga cerca de 160 animais. Segundo ele, a principal fonte de renda da família vem da venda de leite. “Rapaz, eles chegaram aqui de surpresa. A gente tinha terminado de almoçar, chegou um monte de caminhonete, umas 15. Pararam aqui e já vieram dizendo que eu precisava desocupar a área toda, sair de dentro de casa. Perguntaram quantas cabeças de gado eu tinha. Aí eu falei, e ele disse: ‘Seu gado está todo preso’. Aí pensei que não, um rapaz foi ali pegar o cavalo, eu falei: ‘Não, meu cavalo não pode pegar’. Ele falou: ‘Não, mas está tudo preso. Você não tem nada aqui, porque tudo é do governo. Você não tem mais nada nessa área. Só tem que desocupar e sair daqui, porque aqui é tudo do governo”, relatou.
Josenildo vive com a esposa e os filhos e afirmou que não tem para onde ir. Emocionado, contou o impacto da operação na subsistência da família. Ele vende cerca de 60 litros de leite por dia para garantir o sustento do lar. “Essa é a minha indignação: de um produtor que trabalha todo dia, cedo, quatro horas da manhã, para tirar leite, levar pra cidade, vender, comprar o alimento de casa, sustentar a família, arrumar um dinheiro.. Desculpa [momento que ele começa chorar], para pagar a faculdade da minha filha, dos meus filhos. Isso é muito doído, desculpa demais eu estar falando isso, mas não queira passar pelo que eu estou passando aqui”, disse, chorando.
A apreensão da família começou ainda antes da chegada das equipes, segundo relatou a também produtora rural Luciana Oliveira. Ela descreveu momentos de medo desde que helicópteros começaram a sobrevoar a área na última quinta-feira (5). “Foi uma angústia muito grande. Quando a gente viu, desde quinta-feira, que eles passaram de helicóptero aqui por cima, a gente já ficou angustiado, sabendo que a qualquer momento eles podiam aparecer. Na hora do almoço, na sexta, eles apareceram. Aí ninguém nem conseguiu comer. Passei um dia nessa angústia toda”, afirmou.
Pelo lado do ICMBio, o agente de fiscalização Guilherme Petiolo afirmou que as abordagens seguem os protocolos legais e são conduzidas com respeito. Ele explicou que os moradores são informados sobre a finalidade da operação, e que não houve conflitos até o momento. “Então, nós chegamos aos moradores, a gente sempre se identifica, obviamente. Estamos no ICMBio, numa operação de fiscalização na Resex Chico Mendes, explicando qual é a finalidade dela. Tratamos a pessoa com toda a urbanidade que todo cidadão merece. E temos recebido, por mais que às vezes as pessoas fiquem um pouco impactadas pela quantidade de pessoas, todos até o momento foram colaborativos. Da nossa parte também não houve problema algum”, explicou.
A gerente regional do ICMBio, Carla Lessa, afirmou que o gado de Josenildo está oficialmente apreendido e que o destino dos animais será definido conforme os trâmites legais. O instituto atua em parceria com o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf), responsável pela avaliação sanitária e contagem do rebanho. “O gado dele está apreendido, já está sob a tutela do ICMBio, sendo avaliado e contabilizado pelo Idaf. Então, é um gado que o ICMBio, conforme nossos trâmites legais e processuais, vai dar uma destinação final no momento exato”, afirmou.
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