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As listas, as réguas e a busca por nova medição

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Editorial ac24horas

As listas, quaisquer que sejam elas, sempre resultam em alguma injustiça. Sejam quais forem: filmes, livros, amigos. Não importa. Ranqueou, injustiçou. Não há critério e metodologia que abarque a complexidade humana e suas contradições.


Essa semana, uma lista novamente coloca o Acre, o Norte e a Amazônia como um todo em uma situação bem delicada. Aos olhos dos critérios da urbanidade, bem entendido. Fala-se do IPS Brasil 2025, o ranking estabelecido pelo Imazon e outros cinco parceiros junto com 16 empresas apoiadoras. O Índice de Progresso Social não é coisa de amador.


São avaliados 57 indicadores sociais e ambientais. Esses indicadores são agregados a um índice geral com notas que variam de 0 a 100. O índice geral, por sua vez, é dividido em três categorias: Necessidades Humanas Básicas; Fundamentos do Bem-Estar e Oportunidades. Há ainda 12 dimensões a serem avaliadas: Nutrição e Cuidados Médicos Básicos; Água e Saneamento; Moradia;
Segurança Pessoal; Acesso ao Conhecimento Básico; Acesso à Informação; Saúde e Bem-Estar; Qualidade do Meio Ambiente; Direitos Individuais; Liberdades Individuais e de Escolha; Inclusão Social e Acesso à Educação Superior.


Eis o drama em forma de critérios para quem vive por aqui. É evidente que com essa régua como medida, não apenas as cidades da floresta se lascam. Mas as cidades em que as florestas estão ameaçadas também. Explica-se. Primeiro é preciso dizer: das 20 piores cidades do ranking do IPS Brasil no país, 17 estão no Norte.


Dessas 17 cidades do Norte, 12 estão no Pará. E nunca é demais lembrar: o Pará é um estado que talvez melhor sintetize a falta de uma política de sustentabilidade para a Amazônia. No Pará tem de tudo: mineração, pecuária, agricultura, comunidades indígenas. O Pará é um mundo. É preciso ressaltar, no entanto, que a maior parte das cidades paraenses com pior IPS está no centro-sul do Estado, região com forte atuação da pecuária e da mineração. Sem esquecer que o Pará tem o segundo maior rebanho bovino do país com mais de 26 milhões de cabeças de gado, sem contar o plantel de búfalos.


Se o agro demonstra não ser “pop” em tudo o tempo todo, é preciso lembrar que há dois municípios do Acre na lista. Santa Rosa do Purus e Feijó. O primeiro é um município “florestal” por excelência e o outro arde em chamas nos últimos verões na busca de alternativas econômicas que neguem a floresta.


Por mais cuidadoso que o Imazon seja, por mais criterioso, por mais que busque o equilíbrio, os fatores que constroem o ranking jamais conseguirão reproduzir com justiça o respeito ao modo de vida de cada comunidade.


Medir com as mesmas réguas as cidades de Uiramutã, de Roraima, e Florianópolis; ou Santa Rosa do Purus, no Acre, com
Curitiba; ou a também acreana Feijó com Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, não será justo nunca. A lista até se esforça para levar em conta a Geografia, mas tem dificuldade em tabelar na planilha Excel os componentes culturais e a relação destes com os fatores geográficos. Jamais conseguirá, na verdade. Não há régua capaz de fazer essa medição.


Colocado em perspectiva histórica, existe um aspecto positivo na lista do IPS Brasil: a demonstração óbvia de que os governos (sejam eles quais forem) não têm a mínima noção do que fazer na região amazônica. Sob essa ótica, a lista é reveladora: expõe a incapacidade de conferir à região modelos sustentáveis que respeitem a sócio-etno-biodiversidade. O clichê de que existem várias amazônias e de que os governos ignoram todas acaba se mostrando verdadeiro.


Na outra ponta, o Sul-Sudeste maravilha. Das 20 cidades com melhores índices, 13 estão em São Paulo, incluindo a melhor, Gavião Peixoto. Em 15º lugar entre as melhores, brilha a meca da agricultura e da pecuária brasileira, Campo Grande. Em alguma medida, as duas listas mostram que há contradições nos diversos ambientes econômicos que precisam ser equacionadas. O desafio que se tem atualmente é buscar os instrumentos de medição corretos. As réguas atuais têm números como medida. E não estão conseguindo solução no universo dos Reais.


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