Em meio à ameaça de cassação de seu mandato, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) participou neste domingo, 25, de um encontro em Rio Branco, reunindo lideranças da esquerda, movimentos sociais e representantes da comunidade acadêmica no auditório da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Acre (ADUFAC). O evento faz parte da “Caravana Nacional Glauber Fica”, uma mobilização do parlamentar para defender seu mandato após a aprovação, pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, de parecer que recomenda sua cassação por quebra de decoro parlamentar.
Glauber é acusado de agredir um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) em abril de 2024. A decisão do Conselho foi tomada em abril deste ano, com 13 votos a favor e 5 contra a cassação. Durante o encontro, o deputado reafirmou sua disposição de enfrentar o processo com o apoio popular e criticou o papel das redes sociais como substituto da organização popular de base.
“Eu saio daqui com uma outra percepção, inclusive da necessidade da nossa organização política de luta, não baseando em uma estruturação de redes sociais. Quem conhece a forma de lutar é quem está no território, é quem está ajudando os trabalhadores, é quem está se organizando e quem vem encarregando, inclusive, as lutas históricas daquele povo”, afirmou.
Braga também expressou solidariedade a estudantes agredidos durante protestos no Acre, e condenou o uso da violência policial contra manifestantes. “Reagir quando a arbitrariedade se impõe, e quando a tentativa de silenciamento também tenta se impor como fato foi uma violência física, e nós não podemos naturalizar”, declarou. “Eu estou para ser cassado do mandato de deputado federal, mas estou convicto que a gente vai conseguir resistir para que essa virada aconteça”, pontuou.
O deputado recordou ainda episódios de sua atuação na Câmara dos Deputados, mencionando diretamente o presidente da Casa, Arthur Lira, e a perseguição a parlamentares da oposição. “Essa é uma forma de mobilização coletiva. Aqui estão aqueles e aquelas que vão ter a possibilidade de ampliar a repercussão sobre esse caso para que essa virada aconteça”, disse.
Ex-presidente estadual do PT e atual superintendente do Ministério do Desenvolvimento Agrário no Acre, Cesário Braga classificou o processo contra Glauber como parte de uma tentativa de silenciamento da esquerda. Ele lembrou episódios de violência policial contra militantes no estado e pediu que os ataques não sejam naturalizados.“O pessoal agredia a militância que está se manifestando foi fora do comum. Não pode acontecer e não pode continuar. O que estão tentando fazer com Glauber é o que estão tentando fazer com a esquerda brasileira. É nos amordaçar”, disse.
Para Cesário, é fundamental resistir. “A esquerda não pode ter uma postura passiva. Se eles nos atacarem, resistir e revidar é direito nosso. Esse mandato é simbólico pro enfrentamento. Silenciar o parlamentar, tentar tirar um dos lados do parlamentar é um ataque gravíssimo à democracia brasileira. Quando a gente tem um dos nossos que representa efetivamente os interesses da classe trabalhadora, eles tentam silenciar”, observou.
O vereador de Rio Branco, André Kamai (PT), também prestou apoio a Glauber Braga e destacou a importância da coragem política em tempos de retrocessos. “É natural que a gente adote mais melancolia mesmo, porque a dor não é brincadeira. Mas eu queria tentar abordar isso por outro caminho. Eu acho que aqui a gente está para celebrar a coragem”, afirmou.
Durante sua fala, o vereador de Rio Branco, André Kamai, destacou a coragem de Glauber Braga diante dos ataques que enfrenta no Congresso Nacional. “Porque você, na luta que você faz lá no Congresso Nacional, no enfrentamento que você faz a um dos homens mais poderosos desse país, que você fez, é o Arthur Lira, a um dos bandidos mais poderosos desse país, vamos chamar assim. Você está aqui agora, lutando pelo Brasil, e conversando pelas consequências da sua coragem. Ganhar ou perder o mandato é consequência da nossa luta”, afirmou Kamai, em tom de apoio e resistência.
A visita ao Acre integra a série de encontros da “Caravana Nacional Glauber Fica”, que tem percorrido estados para denunciar o processo de cassação como perseguição política e mobilizar a sociedade em defesa do mandato. Segundo a organização, o objetivo é “expor as falcatruas do Congresso” e ampliar a discussão sobre o papel dos parlamentares que representam a classe trabalhadora.
Glauber Braga encerrou sua fala reforçando a importância da mobilização social como caminho para resistir às tentativas de silenciamento: “A minha convicção não se baseia numa ilusão de uma institucionalidade, mas se baseia numa opção política que sabe que a força do povo pode muito mais do que a definição de um teatro que está pré-fixado”, apontou.
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