As circunstâncias não foram favoráveis à realização da 15ª Reunião Anual da Força Tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas. Primeiro, dias antes do encontro, vieram os dados do Map Biomas, alertando para a redução do desmatamento em toda Amazônia Legal, à exceção do Acre. Por aqui, houve aumento de 30% na área desmatada em relação a 2023.
Na sequência, veio uma pancada institucional forte e orquestrada como poucas vezes se viu no Congresso Nacional: a aprovação do PL 2159/21. Por parte dos ambientalistas, foi chamado de PL da Devastação. Institucionalmente, constrói um novo marco legal para o licenciamento ambiental. Formalmente, é a Lei Geral do Licenciamento Ambiental.
É preciso ser justo: foram situações construídas à revelia da organização do evento. Mas também para ser justo, não é possível negar que trouxeram um certo quê de constrangimento. Afinal, os participantes queriam propor novos referenciais para a bioeconomia. Mas a construção de mecanismos institucionais e legais para o trabalho em rede em prol deste objetivo parecem não encontrar defensores à altura na arena política.
O Governo do Acre merece um crédito positivo não apenas pela boa organização do evento, mas porque soube entender (e valorizar) a sociobiodiversidade como parte da agenda de governo. É evidente que é preciso transformar a intenção em ação prática, efetiva. E os dados do MapBiomas (para além das diferenças de metodologia com o Prodes) mostram como o Governo do Acre ainda tem muita tarefa de casa a fazer.
É necessário ressaltar, no entanto, que, politicamente, o governador Gladson Cameli está quase solitário nessa agenda. Em um encontro com pontos de discussão de interesse global, que reuniu representantes de 43 estados subnacionais e 11 países, não se gerou uma imagem em que a classe política do Acre estivesse unida em torno do tema.
E não há essa imagem porque a classe política acompanha uma percepção tosca de que defender as políticas voltadas para o Meio Ambiente é, na mesma medida, negar o crescimento econômico. Ou, para piorar um pouco mais: “defender as pessoas é diferente de defender os macacos”. Existe uma concepção muito popular (e manipulada por parte considerável da classe política) de entender as políticas ambientais como uma trava ao crescimento econômico.
É a mesma classe política que sataniza o trabalho das ONG’s; que entende o Fundo Amazônia como uma “esmola” para a manutenção da miséria na região. Não por acaso, essa mesma classe política defende grandes projetos de infraestrutura que, historicamente, já promoveram atividades econômicas que concentraram renda na Amazônia em nome do mercado imobiliário, a grande meta, afinal.
Iniciativas de financiamento climático, como a do Tropical Forest Forever Facility (TFFF), apresentado no encontro promovido no Acre, reacendem a esperança. Não são soluções prontas e acabadas. Mas apontam alguma luz. A ideia será levada para Belém na COP 30.
É evidente que o mundo rico, incluindo China, Estados Unidos e os países do Velho Continente precisam mudar a postura. Qual a dúvida sobre isso? Mas é evidente também que “o tempo não nos permite ter mais tempo”, um raciocínio do professor Eufran Amaral, o acreano integrante da Academia Brasileira de Ciências e pesquisador da Embrapa.
Se em outras cinco vezes houve degelo e aquecimento global, quem é que ficará por aqui para ter o privilégio de assistir à sexta vez?
O encontro do Acre teve a humildade de tentar propor algum caminho. Colocou luz modesta em um varadouro escuro e enlameado. E as frases da militância que protestou com todas as verdades do mundo também têm os méritos, apesar da lógica maniqueísta. Mas alguma rebeldia também é necessária. Qual juventude não ditou certezas para que todo o mundo ouvisse? Como diz a rapaziada hoje nas redes sociais: “quem nunca?”