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Rio Acre, rio da minha vida!

Dias de verão… uma corrente serena, a água espelhando a luz do Sol, leves ondas feitas pela brisa vibravam como cristais. Eu, menino, correndo livre nas praias, sem pressa, sem dor, despido de angústias. Era um espelho de sonhos, um refúgio de amor.


As margens adornadas com embaúbas, uranas e canaranas, suas folhagens verdes dançando ao vento. No leito do rio, velhas carcaças de árvores se erguiam como fantasmas silenciosos, testemunhas da passagem do tempo.


Em noites de luar, essas sombras ganhavam vida na minha imaginação de menino, como se a própria natureza estivesse contando histórias.


Cada pedra, cada folha, cada curva do rio guardava um segredo. As pequenas corredeiras murmuram suavemente, enquanto algumas lavadeiras conversavam ou cantavam ao vento, suas vozes se misturavam ao som da água. Um lugar onde o tempo parou dentro de mim, mas a vida seguiu seu curso de dores.


Displicente, alheio ao tempo, nadava e corria, corria em direção ao futuro. Cheguei no futuro, não era o que eu sonhava.


Dias de inverno… A chegada das chuvas trazia vida nova às cabeceiras dos rios, marcando a mudança de estação e o ciclo da natureza. As águas barrentas e volumosas permitiam a navegação de lanchas, batelões e pequenos navios, que vinham e iam de Belém, Manaus e Rio Branco, carregados de pessoas, produtos, castanha e borracha.


Borracha valiosa era o tesouro da região. Eu, menino, quando não estava na beira do barranco olhando o rio, corria sobre as peles de borracha, sentindo o cheiro forte do sernambi, um aroma que valia ouro. Memórias de um tempo vibrante e cheio de vida, onde a natureza e o comércio se encontravam em harmonia.


Hoje, o rio não é o mesmo. Seu curso alterado, seu brilho perdido assim como eu. A água que outrora dançava com o sol agoniza na realidade escaldante.


Dentro de mim o rio ainda vive como na infância. Fecho os olhos e sua lembrança persiste. Um guardião de memórias de tempos passados. Um rio eterno, em meu coração marcado pela existência.


Seja o rio jovem, ou o rio velho e cansado. Seu legado de vida jamais será apagado.


Onde andarão as águas em que eu me banhava e os grãos de areia que eu pisava com meus pés de criança?


As águas que refletiam o céu azul e as nuvens brancas seguiram seu curso, levando consigo as memórias de dias felizes. Os grãos de areia que eu pisava, agora estão dispersos pelas cheias das águas e pela fúria do tempo no ciclo eterno do universo.


O rio que me viu criança é mais do que um lugar, é uma parte de mim, uma parte da minha história.


Rio da minha infância, rio da minha vida… rio Acre!


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