A transferência do Centro Pop — espaço de acolhimento para pessoas em situação de rua — para uma casa localizada no bairro Castelo Branco, gera revolta entre os moradores da região, que bloquearam novamente a via na manhã desta quarta-feira (21). A mudança do serviço, antes instalado no centro da cidade, ocorreu durante a madrugada, por volta de 0h40, o que intensificou a insatisfação da comunidade.
Além de moradores do Castelo Branco, participam do protesto residentes de bairros vizinhos, como Volta Seca e adjacências. Eles alegam que não foram informados previamente da mudança e que temem um aumento da insegurança na área. Com faixas e caixas de som, a manifestação deve continuar durante o dia, segundo os líderes do movimento.
“Fizeram a transferência de madrugada, com escolta policial, como se nós fôssemos bandidos. Queremos respeito e diálogo. Não estamos aqui para discriminar ninguém, mas para exigir uma política pública digna para todos”, declarou uma moradora.
Imagens divulgadas pela comunidade mostram o momento em que a mudança foi realizada durante a madrugada. Segundo os moradores, havia a expectativa de manifestação às 21h, mas a transferência acabou ocorrendo fora desse horário, de forma inesperada.
Mudança foi determinada por decisão judicial, diz secretário
Em coletiva à imprensa, o secretário de Assistência Social e Direitos Humanos de Rio Branco, João Marcos Luz, justificou a medida como parte do cumprimento de uma decisão judicial. Segundo ele, a ação tem respaldo do Ministério Público e visa reordenar o atendimento à população em situação de rua.
“Nós vamos atender essas pessoas no Restaurante Popular, com dignidade e integração. A ideia é fazer a triagem, rodas de conversa e reencaminhamento ao seio familiar. Para quem não tem para onde ir, temos a Casa Dona Elza, casas terapêuticas e o aluguel social. Já temos 10 pessoas atendidas e vamos ampliar esse número com critérios técnicos”, afirmou o secretário.
João Marcos ressaltou que o imóvel no Castelo Branco servirá apenas como ponto de recepção e orientação, e não será utilizado para pernoite ou alimentação. “Lá ninguém vai dormir, ninguém vai comer. É um ponto de atendimento, não um abrigo. A alimentação será feita no restaurante popular, com dignidade e acompanhamento”, completou.
Como contrapartida à instalação do novo Centro Pop, a prefeitura promete reforçar a segurança no entorno com a instalação de câmeras do programa Rio Branco Mais Segura e aumento do patrulhamento policial, em parceria com o governo do Estado. O secretário também afirmou que equipes técnicas estão avaliando moradores de rua para inclusão em programas como o aluguel social, casas terapêuticas e acolhimento institucional.
“Sabemos que há pessoas que se aproveitam da situação para cometer crimes, e a segurança dos moradores é prioridade”, acrescentou.
A antiga sede do Centro POP, localizada no Centro da cidade, será devolvida ao Tribunal de Justiça, que decidirá o novo uso do espaço. O secretário também denunciou que há pessoas utilizando indevidamente os serviços, se passando por pessoas em situação de rua para ter acesso a benefícios.
A casa utilizada para receber o novo Centro Pop pertence a particulares e já gerava controvérsias desde uma tentativa anterior de implantação. O secretário confirmou que, desta vez, houve apoio do Ministério Público para garantir a segurança das proprietárias e dos servidores envolvidos na mudança.
Em resposta ao secretário, o presidente do bairro Volta Seca, Edmilson, defende que a mudança deveria ter ocorrido com diálogo e transparência. “Fizeram duas paralisações pacíficas, ninguém ofendeu ninguém. Pedimos apenas para que viessem conversar com os moradores antes de instalar o serviço aqui. O próprio restaurante popular já é frequentado por muitos idosos, e agora querem colocar esse público vulnerável lá também. Isso não vai funcionar como estão dizendo”, finalizou.
