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População de rua se posiciona contra mudança do Centro POP: “ afeta a sobrevivência”

Por
Saimo Martins

Representantes do Movimento da População em Situação de Rua do Acre, enviaram uma exposição de motivos ao Comitê do Tribunal de Justiça do Acre da População em Situação de Rua. O documento é assinado por Josemir Alves (Baiano) e Rudson Nunes, lideranças do movimento, e expressa a insatisfação com a gestão municipal de Rio Branco, que, segundo eles, têm ignorado o diálogo com o grupo em decisões que afetam diretamente suas vidas.


O texto entregue na Câmara Municipal remonta à criação do Movimento Acreano da População de Rua (MAPSIR), fundado em 2016, e à articulação com o Movimento Nacional da População em Situação de Rua, cuja atuação conjunta resultou em propostas para políticas públicas construídas a partir da vivência nas ruas. O movimento participou da formulação de metas e planos de trabalho, incluindo a criação de uma lei estadual voltada à garantia de direitos da população em situação de rua.


Os líderes afirmam que, apesar de avanços no âmbito estadual — como a atuação do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Estadual para a População em Situação de Rua —, o município de Rio Branco tem falhado em oferecer acolhimento digno e escutar a voz do movimento. “O município tem deixado muito a desejar. As estruturas existentes estão longe de oferecer um acolhimento digno. O Supremo já determinou que o município cumpra orientações para minimizar nossos sofrimentos”, diz o documento.


Foto: Jardy Lopes

Apesar das limitações, o movimento parabenizou a nova equipe do Centro POP por seus esforços, mas destacou que a falta de autonomia e de apoio político-administrativo prejudica a implementação de melhorias.


Contra a remoção do Centro POP do centro da cidade

Uma das principais reivindicações do movimento é a permanência do Centro POP no centro de Rio Branco. Segundo os representantes, a maioria da população em situação de rua depende economicamente dessa região — atuando como guardadores de carro, lavadores, ambulantes ou carregadores de mercadoria nos mercados locais.


“A remoção do Centro POP para regiões distantes significaria romper com o cotidiano dessas pessoas, que já enfrentam limitações impostas por facções criminosas em relação aos territórios que podem frequentar. Levar o serviço para longe é impedir o acesso e comprometer a sobrevivência dessas pessoas”, afirma o manifesto.


O movimento considera a medida um ato de aporofobia — termo que se refere à aversão aos pobres — e denuncia a forma desumana como a população de rua é tratada.


Foto: Jardy Lopes

Diálogo ignorado e ausência de escuta

A carta aponta ainda a ausência de diálogo por parte da gestão municipal. Um pedido de audiência com o prefeito, feito por meio de ofício, não foi atendido até o momento. Os representantes pedem ao Comitê do TJAC que recomende à Prefeitura de Rio Branco a reativação do Comitê Municipal da População em Situação de Rua, que deve incluir a participação efetiva dos interessados e da sociedade civil na construção de um plano municipal.


“A política pública deve ser construída com a nossa participação. Nada sobre nós sem nós. Não podemos mais ser tratados como lixo pelo poder público. Queremos dignidade, moradia, emprego, renda, cultura, saúde, e a possibilidade de montar nossa própria cooperativa de reciclagem”, reforça o texto.


Apelo final: cumprimento do Plano Ruas Visíveis


Ao final do documento, os representantes exigem que o prefeito de Rio Branco cumpra com o Plano Ruas Visíveis, assinado em 2024 com a participação do movimento. Eles também pedem que a gestão municipal nomeie profissionais comprometidos e empáticos para atuarem nos serviços do SUAS e do SUS, conforme determina a ADPF 976 MC/DF do Supremo Tribunal Federal. “Chega de sermos discriminados, rotulados como vagabundos, delinquentes ou marginais. Queremos respeito, dignidade e políticas públicas que nos enxerguem como seres humanos”, conclui o manifesto.


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Saimo Martins