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Grávida morre após 5 dias internada na Maternidade de Cruzeiro do Sul

Por
Sandra Assunção

Ana Cleide Cruz de Souza, 39 anos, grávida de sete meses que estava internada na Maternidade de Cruzeiro do Sul desde a última quinta-feira, 15, morreu nesta terça-feira, 20, na unidade hospitalar junto com o bebê que esperava, uma menina. Os áudios da vítima enviados à família, de dentro da Maternidade de Cruzeiro do Sul, estão no final desta matéria.


De acordo com a família da vítima, Ana Cleide, que mora em Mâncio Lima, foi para a maternidade em Cruzeiro na última quinta quando começou a sentir dores e a bolsa amniótica estourou. Nos 5 dias em que esteve na Maternidade, o bebê não foi retirado e ela e a filha foram a óbito nesta madrugada.


Antes de morrer, a mulher enviou mensagens a familiares, alegando mal atendimento na Maternidade. Disse também que estava com febre e com frio. “Estou tentando ser forte, mas a gente fala as coisas e eles nem ligam. Eles tratam a gente como num sei nem o quê. Desde quinta-feira, eu sofrendo direto, isso é uma injustiça pelo amor de Deus, quem é que aguenta?! Desde quinta-feira sentido dor”, disse a mulher.


Em outro áudio, enviado na noite desta segunda-feira, poucas horas antes de morrer, ela contou estar com infecção e dizia estar “nas últimas”.


“Até amanhã mesmo não aguento não, gente. Desde quinta-feira que ele sabe que a minha bolsa está estourada e lá fizeram o que ele pôde. Que hoje mesmo o médico fez a avaliação e disse que não podia fazer mais nada. O que tinha que fazer e já fizeram. Não tem como ficar mais essa menina mais dentro da minha barriga, não, porque eu estou com infecção medonha. Mas como é que vai esperar para amanhã, diretora? Não quero, não. Eu prefiro sair de casa e morrer sozinho em casa”, ela disse.


A sobrinha dela, Andressa Cruz, que a acompanhava na Maternidade, conta que implorou para atenderem Ana Cleide, que já estava com as unhas e os pés roxos, mas não houve socorro.


“Os médicos, os médicos do hospital, o hospital inteiro tem culpa, a maternidade inteira tem culpa, porque ela tava morrendo, ela morreu em cima da cama, e eles dizendo que tava tudo bem, tava normal. E eu vi as unha dela roxa, eu disse, a unha dela tá ficando roxa, o pé dela tá ficando roxo. O médico olhou pra mim e disse, não, ela tá bem, sente aqui que ela tá bem, tá tudo normal, ele não tava, eu sabia que não tava”, contou ela emocionado.


A diretora da Maternidade de Cruzeiro do Sul,Iglê Monte, enviou uma nota sobre a morte da grávida afirmando que todos os protocolos foram seguidos no caso de Ana Cleide.


“O Hospital da Mulher e da Criança do Juruá lamenta profundamente o falecimento da gestante de 30 semanas atendida na unidade e se solidariza com a família neste momento de dor. A paciente deu entrada na maternidade com ruptura prematura da bolsa e um quadro grave de infecção, estando em uma gestação de prematuridade extrema, com 30 semanas. Desde o primeiro atendimento, foram adotadas todas as medidas cabíveis para preservar a vida da mãe e do bebê, conforme os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Com a evolução do quadro clínico e o surgimento de febre, houve indicação para interrupção da gestação. Devido ao alto risco de infecção, a equipe médica optou pela indução do parto normal, sendo a cesariana contraindicada. Reafirmamos que todos os cuidados foram prestados de acordo com as melhores práticas médicas e os protocolos vigentes”, pontua Iglê Monte, Diretora do Hospital da Mulher e da Criança do Juruá.


Mulher já tinha perdido filha em hospital


A vítima, Ana Cleide Cruz de Souza, já tinha sentido na pele as consequências de erros cometidos dentro de unidade hospitalar.


Em julho de 2023, a filha dela, a adolescente Adriangela de Souza, de 12 anos, morreu após dar entrada no Hospital do Juruá, em Cruzeiro do Sul, com dores no corpo, febre, baixa pressão e saturação e suspeita de leptospirose. A família diz que o atendimento do Hospital Abel Pinheiro, em Mâncio Lima, foi inadequado.


A menina morava com os pais na comunidade São Salvador, no Rio Môa, zona rural de Mâncio Lima. Ela começou a se sentir mal e foi levada para o Hospital Dr. Abel Pinheiro. Ela recebeu os atendimentos, foi colocada no oxigênio, apresentou uma melhora e foi levada para a sala de emergência. Conforme a família, nessa sala, a adolescente teria ficado em uma cadeira somente tomando soro. No dia seguinte Adriangela voltou a se sentir mal, com dores no peito. Os familiares afirmam que um dos funcionários aplicou o oxigênio da forma errada, quando a adolescente piorou e começou a vomitar sangue. O oxigênio, liberado da forma errada teria machucado os pulmões da garota. Ela foi transferida para o Hospital do Juruá, em Cruzeiro do Sul, onde morreu.


Na ocasião, a direção do Hospital Dr. Abel Pinheiro, em Mâncio Lima, informou que a paciente deu entrada na unidade com queixa de cefaleia, dor torácica, febre, dor em membros inferiores, baixa pressão, saturação e respiração alterada.


“Diante disso, passou pela emergência, onde foi estabilizada e em seguida encaminhada para sala laranja, onde ficou em observação hospitalar até ser encaminhada ao leito, onde foram feitos exames de sangue, PCR, raio-x do tórax e de Covid-19”, pontuou.


Ouça o áudio:


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Sandra Assunção