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Morte de Toniquim completa 1 mês e guerra pelo comando da Federação é marcada por narrativas

Por
Whidy Melo

A morte de Antonio Aquino Lopes, o Toniquim, completa nesta sexta-feira (16), um mês. Além das histórias de seu trabalho como presidente da Federação de Futebol do Acre, quase que imediatamente, já em ambiente de velório, surgiam bochichos sobre quem emergiria como líder da federação, o que segue com certa incógnita até hoje, apesar de ter hoje um comandante autodeclarado.


O empresário Adem Araújo, sócio proprietário da maior rede supermercados do Acre, o Arasuper, havia sido eleito vice-presidente da FFAC, mas pediu a renúncia do cargo, conforme disse em entrevista à Rede Amazônica no dia 16 de abril. “Concorri às eleições com ele, mas logo em seguida eu fundei o Santa Cruz, então é SAF, a lei não permite que eu faça parte da Federação, por isso aí eu renunciei”, declarou.


Mesmo assim, após o enterro de Toniquim, Adem falou como presidente da Federação. Questionado pela imprensa, voltou atrás e disse que pediu renúncia do cargo, mas que Antonio Aquino não havia aceitado o pedido, e que por isso o seu mandato é legal. “Vamos descompatibilizar da gestão do Santa Cruz e vou assumir. Não era meu interesse. Eu tinha pedido renúncia, mas o presidente não aceitou. Eu continuo vice por isso. Depois de muitas reuniões, antes de ontem, ontem, da parte dos desportistas, até alguns dirigentes também, eu decidi continuar, pelo menos, até finalizar o mandato”, afirmou. .


Diante da ascensão ao cargo de presidente da Federação de Futebol do Acre, presidentes de clubes passaram a questionar a legitimidade de Adem como novo gestor. No dia 8 de maio, representantes do Independência Futebol Clube e do Rio Branco FootBall Club enviaram uma representação contra Adem a ele mesmo, mencionando supostos impedimentos legais e éticos e requerendo a convocação de assembleia-geral da federação.


O que diz a representação


No documento, José Eugenio de Leão Braga, o Mapacá, que já foi ex-conselheiro do TCE/AC, representante do Independência, e Valdemar Mendes de Figueiredo Neto, representante do Rio Branco, escrevem que, “com o devido respeito institucional e elevada consideração à história do futebol acreano”, veem com preocupação legal e ética a condução de Araújo ao cargo de presidência da FFAC.


“A ocupação do cargo de vice-presidente por vossa senhoria, já antes mesmo do lamentável falecimento do nosso presidente, à luz do ordenamento jurídico, estatutário e desportivo, tornou-se eivada de manifesta nulidade, uma vez que vossa senhoria passou a manter vínculo direto com entidade desportiva filiada a esta Federação – o Santa Cruz”, diz um trecho da representação.


Em outro momento, o texto argumenta que tal exercício do cargo por parte de Adem – que até hoje é sócio do Santa Cruz -, discorre do Código de Ética da FIFA, da Lei Geral do Esporte (Lei n° 14.597/2023), do Código de Ética e Estatuto da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do próprio estatuto da FFAC. Apontam ainda que o fato de Adem ser proprietário da rede de supermercados Araújo, que é patrocinadora de clubes federados, implica numa sobreposição de interesses esportivos e comerciais gravíssimos. “Quão constrangedor será para os árbitros atuar em partidas em que um dos times é de propriedade do Presidente da Federação?”, questionam os clubes.


“Que vossa senhoria reflita, com serenidade e espírito público, sobre a conveniência de renunciar ao cargo, como gesto de respeito à legalidade, à ética esportiva e à confiança coletiva depositada nesta instituição centenária”, finaliza o documento.


Ao ac24horas, nesta quarta-feira (14), Valdemar Mendes afirmou que entrou protocolou na última segunda-feira (12) um pedido de análise sobre o caso e ficou de enviar à reportagem uma cópia do documento, o que não ocorreu até o fechamento desta matéria. Por outro lado, 11 clubes federados divulgaram apoio conjunto a Adem: Associação Desportiva Vasco da Gama; Sport Club Humaitá; Náuas Esporte Clube; Plácido de Castro Futebol Club;Santa Cruz Acre Esporte Clube; Associação Desportiva Assemurb; São Francisco Futebol Clube; Atlético Acreano; Galvez Esporte Clube; Associação Desportiva Senador Guiomard; Esporte Clube Sena Madureira; e Andirá Esporte Clube.


TJD nega que tenha sido protocolada ação sobre o tema


Na tarde de quinta-feira (15), o Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol do Acre emitiu nota de esclarecimento negando que o Independência e o Rio Branco tenham protocolado qualquer tipo de ação sobre o caso. “O TJD esclarece não existir, até a presente data, na secretaria, ofício, petição ou processo sobre os temas acima para deliberação […] em ocorrendo o protocolo de qualquer pedido na secretaria, sua análise será pautada em regras processuais do Direito Desportivo, em especial naquelas existentes no Código Brasileiro de Justiça Desportiva”, diz a nota (veja na íntegra ao final da matéria).


Perguntado sobre a nota do TJD, o presidente do Rio Branco enviou à reportagem uma imagem do documento já mencionado nesta matéria, que é endereçado ao presidente da Federação, e não ao Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol do Acre, e justificou: “São dois documentos, vai um pro presidente da Federação e eles encaminham outro pro TDJ”.


O que diz Adem Araújo


Adem Araújo, criticou os presidentes Valdemar e Macapá. Em entrevista ao Globo Esporte (ge), na terça-feira (13), o empresário afirmou que os dirigentes não têm interesse em melhorar o futebol acreano.


“Não vale a pena comentar sobre o assunto, advindo de dois representantes que não têm interesse em melhorar o futebol do Acre. O interesse deles é pelo que o cargo pode dar a eles”, disse.


Em 29 de abril, quando foi à Câmara Municipal receber moção de aplauso pelo apoio ao futebol acreano, Araújo já havia explicado a sua situação de eventual impedimento para assumir a federação, e declarou que há jurisprudências que o favorecem.


“O estatuto nos permite assumir, pois o único impedimento que eu tinha era ser presidente de clube, mas me afastei totalmente. Tem um porém, que alguns se apegam porque sou sócio deste clube. Sou um dos acionistas do Santa Cruz e isso tem dado subsídio para alguns falarem o que não deve. Tem alguns clubes como o Cuiabá, que um dos acionistas é presidente da federação mato-grossense de futebol, tem o Bangú, cujo um dos donos do time é presidente da federação do Rio de Janeiro, então por estes motivos a gente crê que o cargo é nosso”, disse.


Para compor essa matéria, o ac24horas procurou novamente Adem Araújo com novos questionamentos, na quarta-feira (14). Veja como foi o diálogo:


 O sr. foi convidado para uma reunião* convocada por Ednaldo Rodrigues [naquele momento presidente da CBF] com presidentes de federações?  

R: Não fui convidado.


 Me chegou uma informação de que o seu nome não consta na lista da CBF como vice-presidente da FFAC. O sr. saberia por que isso ocorre?

R: Talvez a CBF não tenha a ata de posse do nosso mandato iniciado em 2024. Mas se não tiver, está disponível na junta comercial.


Mas isso não é algo que o sr. se interessou em reparar imediatamente, já que isso pode implicar diretamente na continuidade de seu trabalho à frente da FFAC?

R: Como assim? Estou presidindo a federação do Acre de acordo com o estatuto, não a CBF.


 Digo, se assumiu por uma questão de subir ao posto de vice para presidente, seria fundamental que a CBF soubesse que o sr. é o vice, porque isso embasaria a naturalidade do seu novo título, concorda?

A partir deste ponto, Adem Araújo bloqueou o número do repórter que fazia as perguntas.


*A reunião mencionada pela reportagem aconteceu na última terça (13). Segundo apurou a ESPN, Ednaldo Rodrigues organizou uma “reunião de emergência” com presidentes de Federações Estaduais e cartolas, pedindo apoio para lidar com a repercussão de investigações contra ele, que acabaram culminando em seu afastamento por ordem judicial nesta quinta-feira (15).


Adem recebe apoio de deputados na ALEAC


Durante sessão ordinária realizada nesta quarta-feira (14), na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), os deputados Pedro Longo (PDT), Nicolau Júnior (PP), Eduardo Ribeiro (PSD), Gilberto Lira (União Brasil) e Emerson Jarude (Novo) manifestaram apoio ao atual presidente da Federação de Futebol do Acre (FFAC), Adem Araújo. Na tribuna, o deputado Pedro Longo defendeu a atuação do dirigente e apresentou uma moção de aplauso em reconhecimento ao seu trabalho. “Adem foi aclamado como presidente e tem dado demonstrações práticas do que é investir na juventude e profissionalizar o futebol acreano. Tenho certeza de que sua gestão será marcante”, afirmou.


O apoio também veio de Emerson Jarude, que criticou o que classificou como tentativas de politização do futebol. “Não podemos prejudicar o futebol acreano com politicagem. O Adem faz um trabalho brilhante, mas talvez isso esteja incomodando quem tem interesses escusos”, declarou.


Eduardo Ribeiro reforçou a credibilidade do presidente da FFAC e destacou a seriedade da família Araújo. “É bom ver a federação nas mãos de pessoas comprometidas. Reafirmo meu apoio a esse empresário que tem contribuído com o nosso esporte”, disse.


Gilberto Lira também se posicionou a favor da permanência de Araújo. “Assino a moção com prazer. O esporte de Sena Madureira dá total apoio ao trabalho do Adem, que tem se mostrado sério e comprometido”, declarou o parlamentar.


Encerrando os discursos, o presidente da Aleac, Nicolau Júnior, destacou a confiança no trabalho do empresário. “Adem é uma pessoa séria e tenho certeza de que fará um trabalho importante à frente da federação. Parabéns pela moção”, afirmou.


Falta de homologação da Confederação Brasileira de Futebol


De forma geral, o processo de homologação de um presidente de federação estadual por parte da CBF envolve, em caso de substituição do presidente pelo vice, o envio de documentação como atas de assembleia, comprovantes de elegibilidade e ausência de impedimentos legais. Em seguida, a Confederação verifica se o processo atende às normas estatutárias e legais e, se for o caso, faz-se a homologação. O processo pode levar de algumas semanas a poucos meses, dependendo da complexidade do caso ou de eventuais irregularidades.


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Whidy Melo