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Cooperativas da Amazônia participam de encontro sobre produção sustentável da borracha

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Da redação ac24horas

A marca francesa de calçados sustentáveis Veja realizou, esta semana, o 4º Comitê da Borracha, reunindo representantes de cooperativas e associações extrativistas da Amazônia para debater temas ligados à produção sustentável do látex, qualidade da borracha e preservação ambiental. O encontro ocorreu em Rio Branco dias 13 e 14 de maio e contou com a participação de 21 organizações de cinco estados, sob articulação da Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre).


“O encontro debateu várias pautas, mas esta edição foi muito voltada para a questão da qualidade da borracha e do desmatamento”, afirmou François-Ghislain Morillion, cofundador da Veja. “Tem também o cuidado com a seringueira e o cooperativismo, que fazem parte dos quatro zelos que norteiam essa parceria.”


François relembrou o início do trabalho da marca no Brasil: “Sou cofundador da Veja e desembarquei aqui há 20 anos pra procurar borracha da Amazônia pra fazer um tênis. Na época a gente só tinha um escritório na França, e depois o projeto cresceu. Hoje é um tênis feito com a borracha daqui, com algodão agroecológico, feito no Brasil e vendido no Brasil como no exterior.”


Foto: Sérgio Vale

Comitê da Borracha


O Comitê da Borracha é realizado anualmente e serve como espaço de troca entre a empresa e os produtores da matéria-prima. “Todos os anos a gente tem esse encontro, que a gente chama de Comitê da Borracha, que é o momento em que encontramos todas as cooperativas parceiras, tanto do Acre como dos outros estados da Amazônia”, explicou François.


A parceria entre a Veja e os produtores locais é mediada por cooperativas, especialmente as que compõem a Rede Cooperacre, que articula atualmente 21 cooperativas e associações. Destas, 12 são do Acre e da Rede Cooperacre. “A empresa não compra borracha diretamente de seringueiro. Só com organização social, cooperativa ou associação. Isso é parte do zelo cooperativo”, reforçou o presidente da Cooperacre, José Rodrigues de Araújo.


De Araújo, como é mais conhecido, explica que este modelo de atuação começou em 2007 com um contrato assinado com a Associação dos Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes (Amoprebe), em Assis Brasil, e se expandiu para outros municípios do Acre e estados, e segue princípios dos quatro zelos: o zelo pela floresta, pela seringueira, pela qualidade da borracha e pelo cooperativismo.


Foto: Sérgio Vale

Moda, sustentabilidade e justiça social


“Desde o início estamos pagando um preço melhor do que o mercado, e essa relação veio se fortalecendo. Há quatro anos, começamos a pagar também uma prestação de serviço socioambiental, que é basicamente a preservação da floresta. Então a família recebe pela produção, mas também recebe pela preservação”, explicou François.


Atualmente, a Veja mantém contratos que envolvem meio milhão de quilos de borracha por ano, oriunda de áreas de manejo sustentável. A borracha é usada na fabricação de tênis comercializados em diversos países, reforçando uma cadeia que une moda, sustentabilidade e justiça social.


“A floresta é o meu lugar”: produtora do Acre relata transformação na vida de seringueiros após parceria com empresa internacional


Natural do município de Capixaba, no Acre, Nilva da Cunha de Lima é presidente da Cooperativa Agroextrativista Santa Fé (Copasfe) e também produtora de borracha. Com orgulho de suas raízes, Dona Nilva carrega consigo a história de gerações de trabalhadores da floresta, marcada por lutas, desafios e conquistas.


“Nasci e me criei em seringal. Desde os oito anos de idade já acompanhava minha mãe nas estradas de seringa, ajudando a levar o balde, a farofa. Foi assim que cresci, dentro da floresta, e não me vejo morando na cidade. O que eu gosto mesmo é da mata”, conta.


Foto: Sérgio Vale

Dona Nilva lidera uma das cooperativas que integram a cadeia produtiva da borracha fornecida à empresa francesa Veja, que utiliza matéria-prima da floresta amazônica em seus produtos. Segundo ela, a chegada da empresa à região representou uma virada de chave para centenas de famílias que vivem do extrativismo.


“A relação com a Veja é muito boa. Eu sempre digo que, depois que a empresa trouxe esse contrato, mudou a vida de muita gente. Antes, meu pai vendia borracha por 50 centavos o quilo. Às vezes, nem vendia: trocava por açúcar, por mercadoria, e a gente vivia endividado com o patrão. Hoje, a Veja compra direto da cooperativa, que compra do produtor e paga em dinheiro — e com preço justo”, afirma.


Atualmente, o quilo da borracha é vendido por R$ 15, um valor significativamente mais alto do que o oferecido por outros compradores no mercado. “Não tem nem comparação. Outras empresas já nos procuraram, mas querem pagar bem menos. A Veja reconhece o valor do nosso trabalho”, reforça.


Com duas estradas de seringa sob sua responsabilidade, Dona Nilva ainda encontra tempo para atuar diretamente na extração do látex. “Quando tenho um tempo, vou lá cortar. Gosto muito. Isso faz parte de quem eu sou.”


Seu depoimento reflete a realidade de muitos produtores da floresta que, por meio da organização cooperativista e de parcerias sustentáveis, estão construindo novos caminhos para a valorização do extrativismo, com dignidade, autonomia e respeito à floresta.


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