Em artigo publicado no final de janeiro, apresentamos dados das estimativas da produção de café no Acre, em 2025, que, conforme o IBGE, pode crescer quase 60% em relação a 2024. Esse crescimento estimado para o Acre é17 vezes maior que o percentual estimado para o crescimento da produção no Brasil (3,4%). Pelas estimativas o Acre deveria colher 4 921 toneladas, são mais de 1840 toneladas, em relação a 2024.
Várias são as explicações sobre esse crescimento. Mas, sem dúvidas, a força que vem do Juruá, pode explicar, em grande monta, essa mudança estrutural que estamos observando no meio rural acreano. Refiro-me a importância da Cooperativa de Produtores de Café dos municípios do Vale do Juruá – Coopercafé, criada no município de Mâncio Lima, que chegou com a proposta de incluir vários pequenos produtores rurais do Juruá na produção de café. Vamos contar, no artigo de hoje, um pouco desse movimento cooperativista que vem do Juruá.
A Coopercafé é uma cooperativa singular da Cooperativa Central de Comercialização Extrativista no Acre – Cooperacre. Lembrando que a Cooperacre se estende por 18 municípios acreanos e reúne mais de 2,5 mil famílias cooperadas, 12 cooperativas singulares e 25 associações. O artigo é um resumo de uma longa entrevista prestada pelo seu Presidente Jonas Lima, à equipe do Projeto Legal da Ufac, no dia 15/4/2025.
A Coopercafé tem 04 anos e foi criada por uma necessidade. O Presidente Jonas, na qualidade de ex-deputado deputados estadual, se interessou pela cultura do café, cultura até então, desconhecida no Juruá. Adquiriu conhecimento e passou a plantar café. Já no primeiro ano de colheita, alguns outros produtores começaram também a plantar café. Jonas conta, que um certo dia, dois pequenos produtores, foram visitar a propriedade de Jonas, que falaram o seguinte: “…Jonas, está bom, tu tens o teu secador aqui, tem a máquina para descascar, e nós?… e nós, como é que nós vamos vender o nosso café? Como nós vamos descascar?” (depoimento do Presidente Jonas).
Foi desse diálogo que surgiu a ideia de criar uma cooperativa. Jonas já contava com a experiência de cooperativismo. Foi presidente da Cooperativa dos Proprietários de Veículos e Máquinas Pesadas do Estado do Acre – Transterra. Então, partiram para uma parceria com a OCB/Acre e surgiu, então, a Coopercafé.
A Coopercafé atua desde a execução do projeto do produtor. Atua na hora de implantar o projeto, através da assistência técnica com o SEBRAE e SENAR. O começo foi incentivando a produção. Depois, quando se certificaram que a produção ia muito bem, partiu para trabalhar a comercialização. Já vende para todas as indústrias de café do Acre. Já está abrindo um canal com Rondônia, poque o nosso vizinho já está exportando para o exterior.
Hoje, a Coopercafé, já conta com uma certa estrutura de assistência técnica, são quatro profissionais do SENAR e um do Sebrae que atuam na região de Juruá que atendem também a cooperativa. Apoios importantes vindos da Embrapa e UFAC também são contantes. Recentemente o Sebrae anunciou a contratação de um outro técnico que atuará, exclusivamente, em Mâncio Lima.
A Coopercafé conta com um quadro social de 173 associados. Existem mais de 50 que estão solicitando adesão, na espera de cumprir as duas condições, exigidas pela Coopercafé para permitir o acesso ao seu quadro social. O primeiro é participar de treinamentos sobre cooperativismo e técnicas de plantio. A segunda de ter, pelo menos, mil pés de café, já plantado.
O Conselho Administrativo da Coopercafé é formado por três membros: o Presidente, um Diretor Administrativo e Financeiro e um Diretor Técnico. A gestão administrativa com técnicos que fornecem os registros contábeis para uma empresa, localizada no Paraná, que realiza toda a gestão contábil da cooperativa, incluindo escrituração contábil, fiscal, tributária, RH e obrigações acessórias. Essa empresa, financiada pela OCB, vai acompanhar a Coopercafé por três anos, ofertando serviços que operam o que há de melhor em parâmetros de contabilidade para o ramo agropecuário.
Na primeira semana de cada mês é realizada uma assembleia, com a participação de membros do Conselho Fiscal. A assembleia é para tratar pautas diversas, inclusive uma prestação de contas das ações empreendidas pela administração. Ademais, quando surge a proposta para novos projetos, uma assembleia extra é convocada para uma decisão coletiva.
A Coopercafé possuí um Planejamento Estratégico elaborado, em consonância com a Cooperacre, construído em parceria com a OCB. Este documento, conforme o Presidente, é o guia da cooperativa. Possuí também um Programa de Gestão em Governança – PDGC, elaborado sob a orientação de um consultor especialista na área do café.
A Coopercafé, tem contado com ajuda de vários políticos, através de emendas parlamentares, destinados, principalmente, para financiar insumos agrícolas (adubo e mudas). O Presidente destacou que os insumos conseguidos são destinados para os pequenos cooperados, conforme deliberação da assembleia geral da cooperativa.
Inicialmente, pensada em atuar somente do cultivo do café, a cooperativa, parte agora, para atuar no beneficiamento do café, principalmente, em função de um grande investimento em uma unidade de beneficiamento do café, financiada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – ABDI, com investimento de mais de R$ 5,3 milhões. O Complexo, conta com um grande galpão, de aproximadamente 1.000 m2 de área construída em terreno adquirido pela Coopercafé. Com equipamentos para a usina de beneficiamento do café, além de uma usina solar fotovoltaica. O complexo deverá ser inaugurado até o final deste mês de maio. O próximo passo, conforme o presidente, já acordado com a ABDI, será investimento pesado no processamento do café.
Neste ano, a dimensão do nível de produção esperado pela cooperativa, será de uma colheita de 35 a 40 mil sacas de café. Superando em mais de 6 vezes, o que foi colhido no ano passado (5.800 sacos). Sem contar que o café colhido agora, com a nova estrutura de beneficiamento, vai ter uma qualidade muitas vezes maior.
Portanto, de uma estimativa do Acre produzir 4.900 toneladas de café , aproximadamente, 50% dessa produção, deverá vir do Juruá, via Coopercafé.
É uma revolução na produção rural no Juruá. A Coopercafé é um exemplo de competência na gestão, rigor técnico e inclusão dos pequenos produtores, apenas para citar algumas das qualidades de todo o processo. O espaço foi curto para relatar tudo o que nos contou o incansável e competente presidente Jonas Lima. Voltaremos ao tema no próximo artigo.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas