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No Dia do Trabalhador, o Acre fecha as portas

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Por Roberto Duarte


Neste 1º de Maio, enquanto discursos oficiais exaltam o trabalhador brasileiro com promessas recicladas e slogans de ocasião, aqui no Acre, o cenário é outro. Em vez de festa, temos despedida. Em vez de celebração, temos o silêncio de mais uma loja que fecha as portas. O Atacadão do Celular encerra suas atividades em Rio Branco. Não é apenas uma empresa que se vai. É mais um sintoma de um estado que expulsa quem tenta produzir.


Não escrevo estas linhas para fazer homenagem a um empresário específico. O caso de Jefferson Rodrigo, dono da rede que está encerrando operações, serve apenas como retrato de algo maior, mais grave, mais estrutural. O Acre está se tornando um lugar onde empreender virou sinônimo de sofrer. Onde abrir um CNPJ é, antes de tudo, assinar um atestado de paciência para enfrentar a burocracia, a perseguição fiscal e o abandono estatal.


Em pleno Dia do Trabalhador, a verdade é que o Brasil, e especialmente o Acre, não tem entregado condições mínimas para quem quer trabalhar. Não me refiro apenas ao emprego formal, que anda escasso, mas também ao pequeno e médio empreendedor, que arca com os impostos mais pesados, enfrenta fiscalizações arbitrárias e ainda é tratado como suspeito mesmo quando está em conformidade com a lei.


O caso do Atacadão do Celular é revelador. Mercadorias com nota fiscal foram apreendidas pela Receita Federal em Rondônia. Documentação em ordem. Impostos pagos. Ainda assim, prejuízo. A empresa afundou porque o sistema, em vez de proteger quem produz, prefere presumir culpa. E não houve resposta nem do governo federal, responsável pela Receita, nem do governo estadual, avisado diretamente sobre o risco de fechamento. Silêncio, omissão, descaso. O script de sempre.


Essa loja que fecha poderia ser qualquer outra. E, infelizmente, será. Porque no Acre, hoje, quem ousa sonhar com um negócio próprio tem mais chances de encontrar entraves do que incentivos. Incentivos fiscais que só existem no papel. Crédito que não chega. Burocracia que consome tempo, energia e dinheiro. Fiscalização que age como se arrecadar fosse mais importante do que desenvolver.


O resultado não poderia ser outro: êxodo. Mais de 80 mil acreanos deixaram o estado em um único ano, segundo o último Censo. É gente que foi procurar o que não encontrou aqui: oportunidade. Perspectiva. Dignidade. Jovens, profissionais, famílias inteiras que abandonam suas raízes porque não enxergam futuro. Essa diáspora silenciosa é um grito que os gabinetes não ouvem, ou fingem não ouvir.


Em uma data tão simbólica, é necessário lembrar que o Acre precisa de um choque de realidade. Precisa urgentemente de um ambiente de negócios mais justo, com menos burocracia e mais segurança jurídica. Precisa de políticas públicas que apoiem o pequeno empreendedor, em vez de tratá-lo como inimigo. Precisa que os governos, federal e estadual, assumam suas responsabilidades e entendam que cada loja que fecha não é só um CNPJ a menos, mas um pedaço da economia que desmorona e várias famílias que se desesperam.


É tempo de parar de fingir que está tudo bem. A retórica oficial não paga aluguel, não gera emprego e não impede que sonhos sejam sepultados a cada esquina. Se queremos de fato honrar o trabalhador brasileiro, comecemos por não sabotar quem tenta construir algo.


Hoje, no Dia do Trabalhador, o que se ouve no Acre é o som de uma porta sendo fechada. E isso diz mais sobre o estado das coisas do que qualquer discurso.


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