No programa Médico 24 Horas, exibido nesta segunda-feira (28) pelas redes sociais do ac24horas, a infectologista Dra. Rita Uchôa, referência no Acre, abordou os desafios no combate à malária, HIV e hepatite delta. Entrevistada pelo médico Fabrício Lemos, a especialista, que atua há 27 anos no estado, destacou que a classe precisa ter sensibilidade para compreender as necessidades dos pacientes.
Dra. Rita enfatizou que a malária permanece um problema grave na região amazônica, que concentra mais de 90% dos casos do Brasil. “Toda febre na região amazônica deve ser investigada para malária. Peça uma gota espessa, porque é melhor pecar por excesso do que por omissão”, alertou.
Uchôa destacou que o atendimento médico vai além da técnica, exigindo sensibilidade para compreender as necessidades do paciente. “Olhar no olho do paciente e fazer o máximo que você pode naquele momento é fundamental. Aquele médico que já baixa a cabeça para escrever quando o paciente chega não é um bom médico. Deixa o papel de lado, conversa primeiro, ouve as dores do paciente, e só depois escreve”, disse.

Foto: Whidy Melo/ac24horas
A especialista explicou que Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Rodrigues Alves são os municípios com maior incidência no Acre, devido a fatores como tanques de piscicultura que favorecem a proliferação do mosquito transmissor, e destacou a introdução da tafenoquina, um medicamento de dose única que substitui a primaquina no tratamento da malária vivax, para a redução de recaídas.
“A tafenoquina é excelente, mas exige a dosagem da enzima G6PD para evitar hemólise. Esse exame já está disponível no SUS”, afirmou. Sobre a malária falciparum, mais grave, ela explicou: “O falciparum causa altas parasitemias e pode levar a complicações como malária cerebral, porque as hemácias se grudam, obstruindo vasos.”
No combate ao HIV, Dra. Rita celebrou os progressos nos tratamentos oferecidos pelo SUS. “Hoje, com dois comprimidos por dia, o paciente pode ter carga viral indetectável, não transmitir o vírus e levar uma vida normal”, disse. Ela destacou a importância da adesão ao tratamento, já que a interrupção pode fazer a carga viral retornar. “O SUS oferece medicamentos e exames gratuitos. Um paciente com carga viral zero não transmite o HIV, mesmo em relações sexuais, e pode ter uma vida plena, como um dos meus pacientes que fez mestrado e tem um filho, sem infectar a esposa”, relatou, reforçando a necessidade de combater o preconceito contra a doença.
Dra. Rita chamou atenção para a hepatite delta, uma doença pouco discutida, mas com alta prevalência no Acre, especialmente em Tarauacá e Boca do Acre (AM). “A hepatite delta, associada à hepatite B, evolui rapidamente para cirrose e câncer de fígado. Precisamos de mais testes rápidos e acesso a exames como carga viral no SUS”, afirmou.
Veja a entrevista na íntegra:
