Em tempos de pesquisas e especulações sobre as chapas para a eleição de 2026 no Acre, meto aqui o meu bedelho, sempre reconhecendo que há articulistas e jornalistas mais informados do que este escriba. Há também os que traduzem nas suas “profecias” mais os próprios desejos do que a razão. Tratemos aqui das vagas do Senado.
É necessário, desde já, trabalhar com duas hipóteses. A primeira, a de que as coisas correrão normalmente, Gladson Cameli não sofrerá nenhum revés judicial e será candidato ao Senado. A consequência mais lógica é de que terá assegurada uma das vagas, restando outra para a disputa entre Jorge Viana, Marcio Bittar, Petecão e Mara Rocha. Cabe então verificar as condições e possibilidades de cada um.
Jorge Viana terá seguramente todos os favores do Sistema que governa o Brasil. Infelizmente, chegamos ao ponto em que a eleição de um senador interessa mais ao Supremo Tribunal Federal – STF, do que aos partidos e ao executivo. Considerando que o futuro Senador Gladson é alinhado à direita, o Sistema fará o diabo para não perder a vaga que tem hoje em dia, representada pelo Petecão, que vota 100% Lula e não ameaça o establishment. O Jorge é então a cartada mais segura, tem proximidade com ministros do STF, é amigo do Lula, aparece bem nas pesquisas, tem aqueles 20-30% da esquerda, dinheiro saindo pelo cós das calças, uma presença afirmada quase diariamente na mídia local e uma atiradeira pronta para fuzilar o governo local e os opositores.
O que Jorge Viana não tem é um candidato ao governo para chamar de seu. Os que apareceram são mais fracos do que caldo de piaba, e todos sabemos que a associação a um candidato ao governo sem chances é prejuízo na certa. Daí o esforço do Jorge Viana em difundir a ideia de que ele será um candidato de centro-esquerda (utilizaram o mesmo ardil com o Marcus da vez passada), que é contra a polarização, que ele tem votos também na direita, que não tem nada contra o agronegócio (até inventou de plantar café), enfim, já é notável o esforço para adocicar o florestanista e atrair o eleitorado mais à direita. Há até quem fale num segundo voto (Gladson – Jorge), o que soa ridículo.
Embora já esteja na alta Casa há 15 anos, o Petecão, campeão de votos na sua última eleição está vendo se dissolver seu capital político. A última experiência com sua esposa companheira de chapa do Marcus Alexandre, foi desastrosa. Como ideologicamente não é carne nem é peixe, embora vote sistematicamente com o governo, o bom Petecão está pagando o preço. Em um ambiente muito polarizado, o meio não é equilíbrio nem sabedoria, é indecisão, é vacilo. Os números das pesquisas já entregam o resultado.
Marcio Bittar, além de ter realizado um mandato muito profícuo em termos de direcionamento de recursos para o Acre, de não ter se envolvido em nenhum esquema de fraudes e, efetivamente ter subido de patamar na hierarquia de círculos do Senado, é tatuado como bolsonarista e recebe, portanto, os ônus e os bônus da posição que assumiu. Tem o amor de uns e o ódio de outros. É claro que no Acre, o povo muito mais ama do que odeia o Bolsonaro, e isto a princípio resolveria a questão, ou seja, colocaria no ringue da segunda vaga, Marcio e Jorge Viana, com a vantagem para o Marcio por se associar ao Gladson e ao seu candidato ao governo que será fortíssimo em todas as simulações.
Para dar uma bagunçada nessa disputa, renasceu a boa Mara Rocha, que andou afastada desde a disputa de 2022. Também bolsonarista, também odiada pelo lulopetismo, Mara tende a disputar com Marcio esse voto à direita, se aliando a uma candidatura que já pegou vento que é a do Alan Rick, também do campo bolsonarista. Terá a Mara Rocha a assinatura de Bolsonaro na sua candidatura? Não. Essa pertence ao Marcio, mas ninguém pode proibi-la de, coerentemente, se declarar em apoio à candidatura presidencial bolsonarista, até porque de fato ela sempre esteve à direita. Com uma estrita vinculação voto a voto com o candidato ao governo Alan Rick, Mara Rocha adquiriu viabilidade e já está nos calcanhares de Jorge Viana e Marcio Bittar.
A segunda hipótese vem de um possível desastre judicial (há gente interessada trabalhando fortemente neste sentido), que impeça o Gladson de ser candidato. Bem, aí as coisas mudam. Fica para a próxima.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.