Categorias: Editorial

O atraso da pauta e a falta de reação do Estado

Por
Itaan Arruda

O Governo do Estado não pode se omitir em relação à “pauta do boi”, como tem feito. A indiferença como o assunto tem sido tratado pelo Palácio Rio Branco até o momento está levando os diversos níveis da cadeia produtiva da carne a um grau de tensão que não é saudável para ninguém.


Ou o estado intervém, com racionalidade e lógica, de maneira urgente, ou uma das cadeias produtivas mais consolidadas do Acre pode ficar comprometida, justamente no momento que deveria mostrar mais unidade.


Em tempo: o setor frigorífico tem conquistado vitórias inéditas. Por meio de articulações políticas, tem aberto caminhos novos, nunca antes trilhados pelo setor acreano. A carne daqui tem chegado a lugares que nunca esteve. E pode ampliar ainda mais a atuação. O segmento tem feito investimentos que ultrapassam os R$ 100 milhões.


É o que mais emprega: com a ampliação e reforma do Frigonosso (prevista para acontecer no meio do ano) e a retomada das operações do frigorífico de Tarauacá, o segmento pode chegar a 3,2 mil empregos diretos. Nenhum segmento específico da iniciativa privada emprega tanto. Só mesmo o cooperativismo, mas aí já é um outro modelo de organização.
O que se expõe aqui não chega a ser nem opinião. São fatos. Com a articulação da Apex, as decisões e diplomacia do Governo Federal, abrindo mercados para o agro brasileiro, o cenário para a agropecuária acreana pode ser outro, mais dinâmico, dentro das limitações que estão postas. Há regras ambientais que precisam ser seguidas (e têm sido seguidas); há gargalos relacionados às documentações da terra, há problemas de áreas embargadas. Não faltam desafios a serem superados. Mesmo assim, é possível crescer.
Mas não é razoável que o problema da “pauta do boi” ainda seja algo de importância na agenda do produtor. Esse tipo de situação ainda pautando o debate no segmento rural acreano demonstra uma falta de protocolo, uma falta de método. É preciso dar racionalidade a esse debate. E essa intervenção cabe ao Estado.


É óbvio que a indústria precisa do produtor de bezerro. É evidente que o trabalho do invernista também é salutar. O produtor de bezerro, por exemplo, é o início de um ciclo fundamental para toda a cadeia. Sem ele, nada funciona. O pequeno pecuarista também tem desafios talvez mais graves. Por quê? Porque ele é o menos capitalizado. E esse problema nesse tipo de cadeia produtiva é mortal. Nesta cena, um ator sem dinheiro é fadado a perecer. O produtor de bezerro produz quase na teimosia.


Para que se perceba como a omissão do Estado é daninha no processo. No Acre, o produtor que trabalha com pecuária tem o seguinte perfil: 74% dos pecuaristas têm até 100 cabeças de gado na propriedade. Caso se amplie a análise, e avalie quem tem até 500 cabeças na fazenda, esse percentual sobe para 95%. E o que isso aponta: isso escancara que quando se fala em “pecuarista do Acre”, fala-se, sobretudo, do pequeno produtor.


Portanto, a omissão do Estado nesse processo, prejudica, sobretudo, o pequeno pecuarista: aquele que tem até 100 ou até 500 cabeças de gado na propriedade. É esse o maior prejudicado.


Sem contar um detalhe vital nesse debate: a indústria frigorífica não defende que o Estado bloqueie a saída de bezerros. Nenhuma liderança do segmento defendeu isso. O que se quer é que o Estado intervenha com racionalidade. Não é razoável um bezerro ser vendido a R$ 2 mil e o Governo, omitindo-se, pautar o tributo como se o animal tivesse sido vendido a R$ 1,3 mil. É uma flagrante evasão de divisas. O Estado do Acre, dessa forma, está estimulando a geração de empregos e fomentando a indústria de outros estados e prejudicando o segmento aqui no Acre. Isso é uma maneira lógica e racional de enfrentar o problema?


A questão é grave e exige reação rápida. O Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento tem contribuído com qualidade em busca de uma solução. Mas não se percebe, por parte do Estado, um gesto com a força e com a rapidez que o problema exige. Essa questão da “pauta do boi” ainda gerar debate na economia da região deveria envergonhar o Estado. É reveladora. É preciso reação ouvindo todos e definindo parâmetros. Mas para isso é necessário ter Estado forte. É o que se tem?


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Itaan Arruda