Foto: assessoria MST-PA
O Acre registrou 59 conflitos por terra em 2024, conforme dados divulgados nesta quarta-feira, 23, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), no relatório anual que acompanha as violências no campo em todo o país. O número posiciona o estado entre os dez com maior número de ocorrências desse tipo, ao lado de Maranhão, Pará, Bahia, Roraima, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins.
O levantamento aponta um cenário de agravamento das tensões no meio rural brasileiro. No total, o país teve 1.768 conflitos por terra em 2024 — um aumento em relação aos 1.724 registrados no ano anterior. No Acre, a maior parte dos registros está relacionada à violência contra a ocupação, categoria que representa ações como despejos, destruição de casas, ameaças e ataques diretos a comunidades.
Além das disputas fundiárias, o relatório também revela aumento dos conflitos por água, que passaram de 225 para 266 no Brasil. Já os conflitos trabalhistas — que envolvem, por exemplo, o trabalho escravo contemporâneo — foram os únicos a apresentar queda. No entanto, a CPT alerta para uma possível subnotificação: foram 151 casos identificados em 2024.
Outro dado que chama atenção é a escalada da contaminação por agrotóxicos, que teve um salto expressivo: de uma média de 24 casos por ano entre 2015 e 2023 para 276 registros apenas em 2024. Embora o Acre não esteja entre os estados com maior incidência, a CPT aponta que a generalização do uso indiscriminado dos químicos representa risco para populações rurais em todo o território nacional.
A violência no campo também foi marcada por um aumento no número de ameaças de morte — 272 casos —, o maior registrado nos últimos dez anos. Em contrapartida, o número de assassinatos caiu para 13, o menor desde 2015. Os principais alvos das agressões foram indígenas (29%), posseiros (25%), quilombolas (13%) e integrantes do MST (11%). Entre os principais agentes envolvidos nos conflitos estão fazendeiros (44%), empresários (15%) e o governo federal (8%).
Na região da Amazônia Legal, onde está inserido o Acre, houve crescimento significativo de incêndios e desmatamento ilegal. Os focos de incêndio mais que dobraram no Brasil (de 91 para 194), sendo que Mato Grosso concentrou 25% dos casos. O Pará foi responsável por 20% do desmatamento ilegal.