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Dom Joaquín reflete sobre futuro da Igreja após morte de papa Francisco

Foto: Sérgio Vale

Em uma conversa íntima e cheia de memórias no Bar do Vaz nesta terça-feira, 22, o bispo de Rio Branco, Dom Joaquín Pertíñez, compartilhou reflexões sobre o Papa Francisco e o papel transformador que ele desempenhou na Igreja Católica. O encontro também revelou bastidores de visitas ao Vaticano, relatos pessoais com o pontífice e uma análise profunda do legado deixado pelo Papa argentino.


Dom Joaquín começou rememorando o impacto da mensagem pascal do Papa neste ano, marcada por simbolismo e despedida. “No dia da Páscoa, o Papa falou: a Páscoa é a festa da vida, e ele foi para a festa, a festa plena, a vida plena. E a frase que me marcou na mensagem dele, e o dia seguinte partiu”, afirmou.


Segundo Dom Joaquín, Francisco enfrentou resistência dentro da própria instituição ao tentar tornar a Igreja mais próxima dos excluídos. “Ele sofreu muito com isso, com essa perseguição. Queria uma Igreja pura e para os pobres, uma Igreja em saída, não uma Igreja esperando que chegasse o povo”, pontuou.


O bispo lembrou o gesto revolucionário do Papa ainda no primeiro ano de pontificado, ao realizar a cerimônia do Lava-Pés em um presídio, lavando os pés de presos, homens e mulheres. “Isso nunca tinha acontecido. Ele não celebrou a missa na Basílica de São Pedro, foi no presídio. Todos os anos fazia isso”, relembrou.


Foto: Sérgio Vale

Dom Joaquín compartilhou, com carinho, a simplicidade do Papa nas visitas à Casa Santa Marta, residência papal escolhida por Francisco por sua característica modesta. “Eu fazia refeições junto com todos os que estávamos lá, se auto-servia. Podia encontrar ele no elevador, na capela, em qualquer lugar, tão tranquilo, tão normal”, revelou.


A convivência direta com o Papa também revelou fragilidades físicas que marcaram os últimos anos de Francisco. “Ele sofreu artrose, e nos últimos anos teve que andar de cadeira de rodas. Ele não queria fazer cirurgia. Quando fomos em 2022, eu sentei ao lado dele e perguntei. Ele me disse: ‘Se me obrigarem a fazer cirurgia, eu renuncio’”, compartilhou.


O afeto do pontífice pela Amazônia foi um ponto abordado na entrevista. Dom Joaquín revelou que o Papa planejava visitar o Brasil para encontrar os povos indígenas, mas as circunstâncias políticas o fizeram escolher o Peru. “Ele tinha esse interesse. Era para ter sido aqui no Brasil, mas o ambiente político não era favorável. Preferiu ir a Puerto Maldonado, onde teve esse encontro com os indígenas. Eu estava lá”, pontuou.


Segundo o bispo, o Papa deixou claro, na ocasião, que os indígenas eram os protagonistas daquele momento. “Todos os indígenas lá se alinham na frente dele, e eles estão tranquilos, e nós nem nada. Preferência eram os indígenas”, compartilhou.


O compromisso com a causa ambiental e social também foi lembrado como um dos principais legados do pontífice. “Lutou muito pela questão climática, a encíclica Laudato Si’ é reflexo do que ele pensava… a preocupação pelo futuro do planeta Terra. Fez os sonhos da sua querida Amazônia, expressou o que sonhava que fosse a Amazônia”, revelou.


Francisco, para Dom Joaquín, representou mais que um líder religioso. “Era um ser humano comum, entrava na filhinha para pegar sua bandeja. Não ficava lá no canto esperando ser servido. Era muito simples, muito natural.”


A memória do Papa Francisco, ainda em vida ou já em processo de transição, ecoa nos gestos de quem tenta seguir seu exemplo. E para Dom Joaquín, essa missão continua: “A Igreja deve ir ao encontro dos necessitados, dos doentes, dos idosos, dos marginalizados, das periferias existenciais”, pontuou.


Foto: Sérgio Vale

Dom Joaquín abordou também a questão da realidade do Hospital Santa Juliana, mantido pela Igreja no Acre. “Lucro não dá, não. Somos uma entidade filantrópica, e portanto, 60% dos atendimentos têm que ser SUS. Se não, seria impossível. Quem está internado no Santa Juliana, tanto faz um SUS como um particular ou um convênio. É a mesma comida, o mesmo atendimento, os mesmos enfermeiros, os mesmos doutores, tudo igual”, relatou.


A fala do Papa Francisco sobre não julgar pessoas por sua orientação sexual marcou profundamente Dom Joaquín. “Ele falou: ‘Eu não posso julgar ninguém por causa da opção sexual. Quem sou eu para julgar?’ E isso está no evangelho. Não julgueis, para que não sejais julgados. Não condeneis, e não sereis condenados”, revelou.


Para ele, Francisco rompeu esquemas e quebrou paradigmas. “O Papa enfrentou estruturas. Rompeu muitos esquemas. Mexer na cadeira incomoda. Ele teve o controle total das ações do Vaticano. A mudança foi expressiva. Ele colocou pessoas de confiança nos dicastérios. A mão dele estava em todo lugar.”


Dom Joaquín também comentou o testamento simples deixado por Francisco. “Só diz onde quer ser enterrado, na Basílica Santa Maria Maior, que ele tinha um carinho especial. E já providenciou um benfeitor para pagar os gastos do seu funeral, para não causar despesa com sua morte”, revelou.


Ainda que evite apostas pessoais sobre o próximo Papa, Dom Joaquín lembrou que nem sempre a escolha segue o favorito. “Tem um ditado popular na Europa, aqui não se conhece, que quem entra papa no conclave sai cardeal. Ou seja, eu entro com todas as expectativas de que vai ser o novo papa, mas na hora que termina a votação eu saio cardeal”, compartilhou.


Ao final da conversa, perguntado se acredita em previsões sobre o Papa Francisco será o último papa da igreja Católica, Dom Joaquín preferiu manter os pés no chão e o olhar no Evangelho. “Eu nem ouvi falar, nem sei, nem quero saber, porque o Evangelho fala que não sabemos nem o dia, nem a hora, pronto. Ainda não revelou, nem o dia, nem a hora”, encerrou.


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