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“Te avisei que a cidade era um vão”

Por
Astério Moreira

A cidade é um reflexo da solidão e do abandono, onde as relações humanas se tornaram distantes e frias. Às vezes ir ao centro da cidade é como viajar para um lugar vazio, onde os mortos-vivos habitam.


Enquanto homens de ternos entram em prédios públicos imponentes, outros reviram o lixo, falam sozinhos e deitam-se no chão cinzento, como se fossem parte do próprio asfalto.


A cidade é um palco de contrastes, onde a opulência e a miséria coexistem em um silêncio ensurdecedor.


O Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago parece ter sido escrito para essa cidade. Uma sociedade que perdeu a visão, que não enxerga a realidade. Estamos cegos para o mundo ao nosso redor, e para nós mesmos.


A sede do Rio Branco Futebol Clube é um exemplo disso. Um prédio abandonado, sem vida, que ninguém sabe o que fazer com ele. É como se fôssemos nós mesmos, perdidos e sem rumo.


O admirável mundo novo que nos foi prometido se revelou uma prisão, onde a liberdade é uma ilusão e a conexão uma forma de controle.


Transeuntes vão e vêm em um frenesi, presos aos seus celulares, escravos da grande rede mundial que nos prendeu em sua teia de vidro e aço. Eles caminham com os olhos baixos, sem ver o mundo ao seu redor, sem sentir o pulsar da vida.


O centro da cidade é um palco, onde a desigualdade é o roteiro e a indiferença é o público. E nós, os espectadores, assistimos à representação, sem reagir, sem questionar, sem sentir esse vão, esse abismo.


… os letreiros a te colorir embaraçam a minha visão (As Vitrines – Chico Buarque)


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Astério Moreira