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Povos originários: 525 anos de luta e seguindo

Thiago Gomes/Agência -Pará

Os clichês, os jargões, as frases feitas, o raciocínio de senso comum são os mais variados. Têm vários tons e adjetivos. Quando o assunto em questão é o polêmico 19 de abril, o espírito dos “não indígenas” fica largo de superioridade. Sem o hábito de respeitar referenciais que não estejam fundamentados no consumo, colocam a métrica segundo critérios que estão bem longe da rotina das comunidades dos povos originários.


Para muitos, é difícil conceber outro modo de vestimenta; outra maneira de educar as crianças; outra lógica de construção de uma moradia. Para outros, se não tiver alguém um pouco mais criterioso perto, defende que as comunidades dos povos originários devem obedecer à lógica do “menininho veste azulzinho e menininha veste rosinha”.
Dando um mísero passo à frente, algumas lideranças dos povos originários olham com impaciência para esse debate sobre os padrões: consideram-no ultrapassado, embora essencialmente verdadeiro. A agenda dos povos originários é mais real, concreta, sem muita tolerância com o subjetivo.


Entendem que enquanto muitos se apegam às questões de imposição de valores, agendas como o Marco Temporal, cronograma de demarcações, Educação, Saúde, invasões, exploração mineral e madeireira em terras indígenas ficam alheias ao debate público. É essa agenda que importa. E é essa agenda que a classe política insiste em ignorar ou em não priorizar.


Às lideranças indígenas que acompanham o debate político não cabe muita dúvida: são 525 anos de luta. Independente de quais governos estejam sendo avaliados, a relação entre o Estado e as comunidades indígenas foi sempre de opressão. Mesmo os administradores mais simpáticos às causas, a violência foi a regra.


E foi a regra porque a lógica de Estado não entende a água como uma entidade; a lógica de Estado não observa a chuva e o valor que ela tem molhando e fecundando tudo; a lógica do Estado não comunga do rapé e da Ayahuasca; a lógica do Estado não paralisa o efeito do veneno do sapo com um banho gelado no igarapé.


O que se entende é a Ciência Agronômica e os cultivares, cada vez mais adaptados a um clima mais quente e agonizante. Os não indígenas têm muita dificuldade de compreender a produção caótica da floresta. O que se entende é a régua cartesiana da plantação com calculadora: do grão enxertado ao fruto ensacado tem-se o controle absoluto de tudo. A floresta não é assim. Compreender a complexa rede de relações de cada ser naquele determinado espaço exige muito mais do que tempo e disposição. Exige espírito.


Nesse aspecto, a ideia de celebração inexiste. Não cabe. Não há o que celebrar. E não há o que comemorar, não é porque os indígenas não têm acesso aos meios de consumo: de produtos eletrônicos aos modelos de Saúde. Não é isso. Não há o que comemorar porque a história dos últimos 525 anos dos povos originários do Brasil e, aqui na região do Acre, nos últimos 170 anos, aproximadamente, é um itinerário de exclusão e genocídio. Quem comemora isso?


Caso se queira focar atenção para os modelos de Saúde, Educação (na língua e nos referenciais não indígenas), “geração de renda” nas aldeias, o cenário não é diferente. O acesso a esses “aparelhos de Estado” não é para todos.


Essa ideia de haver um dia específico para celebrar nasceu em um governo de natureza populista, cuja sanha desenvolvimentista pouco se importava com os povos originários. De Cabral a Lula, para os indígenas, todo dia é dia de luta. Simples assim.


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