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Acre amplia o seu comércio exterior, mas ainda não chegou ao porto de Chancay

Por
Orlando Sabino

No primeiro trimestre de 2025 o Acre já exportou US$ 25,704 milhões e importou US$ 365 mil, apresentando um saldo de US$ 25,339 milhões. No mesmo período de 2024 o Acre tinha exportado US$ 15,679 milhões e importado US$ 1,204 milhão, apresentando um saldo de US$ 14,475 milhões. Na comparação entre os trimestres de 2024 e 2025,  verificou-se um crescimento de 63,9% nas exportações e uma queda de 69,7% nas importações. Então, os dados apontam um crescimento da balança comercial, entre um período e o outro, de 57,1%.


Como pode ser observado no gráfico a seguir, o domínio das exportações no período veio da carne bovina (36,8%). Merece destaque, o preço da castanha no mercado internacional, que subiu, em média, quase 100% em relação ao mesmo período do ano anterior, o que influenciou no valor  da sua exportação, que representou 21,8% do valor total exportado. As exportações de soja aumentaram com significância a partir no mês de março, mesmo no início, já representam 18,9% do total exportado pelo Acre.  Os meses de alta das exportações da soja vão de fevereiro a junho.


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As exportações de carne suína continuam com uma alta representatividade nas exportações, estimulado por um leve crescimento dos preços pagos e representam  16, 5% do total. Já a madeira apresenta um cenário de baixa nos preços no mercado internacional refletindo a sua baixa participação nas exportações acreanas e atinge somente 3,4% do total exportado.


O Acre ainda não utiliza os portos do Pacífico no seu comércio internacional


Cerca de 36% dos produtos exportados, no primeiro trimestre de 2025, foram para o Peru, um pouco acima da participação do mesmo período de 2024 (34,2%). Em relação as importações, até o período, não tinham nenhum registro com o Peru. No mesmo período do ano passado, as importações do Peru representaram somente 6,4%. Apesar desse significativo comércio com o Peru, principalmente nas exportações, o Acre ainda não conseguiu fazer comércio internacional utilizando os portos daquele país, para acessar, principalmente, os países asiáticos.


As nossas exportações, em 2024, para a Ásia, totalizaram US$ 12,225 milhões, correspondente a 14% de tudo o que o estado exportou no ano. Por sua vez, as importações, que totalizaram US$ 4,43 milhões, 54% vieram de países asiáticos, valor extremamente significativo. Todo esses comércio exterior feito foi realizado pelos portos brasileiros, principalmente, os de Rio Grande e  Manaus.


Os desafios para alcançar o porto de Chancay


Em matéria publicada pelo Jornal Valor Econômico do dia 14/4/2025, assinada pelo jornalista  Guilherme Meirelles, com o título: “ Chancay, o porto com projeto auspicioso, mas com início de operação cheio de desafios”, descreve que, exportar para a Ásia por meio do novo porto do Peru ainda é inviável pelos altos fretes, trâmites aduaneiros e, principalmente, pela falta de estrutura rodoviária e ferroviária para transpor a Cordilheira dos Andes. Destacamos a seguir, os principais pontos levantados por Meirelles na sua matéria.


  1. As exportações por Chancay vão encurtar o trajeto marítimo pelo Oceano Pacífico em direção à Ásia em dez dias, se comparado às saídas dos portos brasileiros pelo Oceano Atlântico;
  2. Um navio partindo de Chancay alcança o porto de Xangai entre 20 e 30 dias; pelo porto de Santos, o mesmo trajeto, dobrando o cabo da Boa Esperança, pode demorar até 45 dias, conforme as condições climáticas.

  3. Meirelles ouviu o Sr. Luiz Pedro Bier, presidente da Aprosoja-MT, ele afirma que “Não há nenhuma movimentação de soja pelos portos do Chile e do Peru. A soja é um produto de baixo valor agregado. Teria de haver uma ferrovia até Chancay. Nossas carretas de nove eixos transportam até 55 toneladas, enquanto o limite nas cordilheiras é de 27 toneladas por veículo. É preciso uma integração para desburocratizar as aduanas nos países vizinhos e no Chile.”

  4. Em termos de políticas do Governo Federal visando a integração Sul-Americana, em um primeiro momento, as rotas com mais afinidade ao acesso pelo Pacífico via região Norte são as rotas 2 (Amazônica) e 3 (Quadrante Rondon), essa última de maior interesse para o Acre.

  5. Pela Rota 3, o programa prevê obras nas rodovias BR-364 e BR-317, que seriam canais de acesso pelo Acre ao Peru.

  6. Meirelles ouviu também o Sr. Augusto Cesar Barreto Rocha, diretor da comissão de logística do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam),  que afirma que, entre outras coisas, põe ainda em dúvida as vantagens competitivas de Chancay afirmando: “O tempo que se ganha no trajeto marítimo seria compensado pelos transbordos, armazenamento, fiscalização policial, documentação aduaneira, intempéries climáticas e condição precária da infraestrutura”. O ideal, segundo ele, seria o asfaltamento da BR-319 (Manaus-Porto Velho), hoje praticamente intransitável em um trecho de 400 quilômetros.

  7. Olivier Girard, CEO da consultoria Macroinfra, também ouvido pelo autor da matéria, diz que há anos se buscam soluções modais para o acesso ao Pacífico, mas os fretes inviabilizam. Destaca que nos últimos anos, houve o esboço de dois projetos ligando por modal ferroviário o Brasil e o Peru. O primeiro seria a Ferrovia Transoceânica, conectando os portos de Açu (RJ) e Callao (Peru), em um trajeto de quase 17 mil quilômetros. O projeto nunca saiu do papel , afirmando que  tanto na região de Pucalpa (Peru) como no lado brasileiro, no Acre, há reservas ambientais intocáveis.

  8. Girard complementa dizendo que no governo Bolsonaro, houve a proposta de uma ferrovia ligando os portos de Santos e Ilo (Peru), passando pela Bolívia. A ideia foi descartada pelo governo Lula e substituída pelo programa de integração de rotas.

São questões importantes que precisamos incorporar como armas para buscar soluções para o Acre alcançar Chancay, Fará muito bem para o nosso comércio exterior.



Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas


 


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