Neste 15 de abril, Dia Mundial da Arte, três artistas de Rio Branco compartilham suas trajetórias e visões sobre o fazer artístico no Acre. Em diferentes formas de expressão, todos têm em comum a persistência diante das dificuldades, o comprometimento com a arte e o desejo de transformar o território por meio de suas expressões.
O Acre já revelou nomes como o músico João Donato e o artista plástico Hélio Melo, que marcaram época e levaram a cultura amazônica para além das fronteiras do estado. Hoje, novas gerações seguem produzindo, ensinando e ocupando espaços – muitas vezes de forma independente – com criatividade e resistência.
Dança como linguagem de transformação

Foto: Cedida
Dheyvison Bruno começou a dançar ainda na infância, participou de projetos escolares e, em 2018, fundou a Fluxo Cia de Artes. Desde então, a companhia já realizou dezenas de eventos culturais em Rio Branco e no interior do estado, além de oferecer aulas de dança a preços acessíveis.
“O maior desafio de fazer arte no estado é a ausência de patrocínio. Por diversas vezes tive que custear figurinos, cenários e adereços. Mesmo com sete anos de história, ainda enfrentamos muitas barreiras. Mas quando se ama o que faz, nada desestimula”, afirma o artista.

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A companhia oferece aulas de modalidades como ballet, jazz, sapateado e teatro, com a proposta de democratizar o acesso à arte e permitir que alunos da comunidade, que muitas vezes não têm condições de pagar por cursos tradicionais, também possam participar dos espetáculos e vivenciar a experiência de estar no palco.
“Quero aproximar as pessoas das artes, fazê-las vivenciar isso. Nosso propósito é crescer e levar o nosso trabalho adiante.”
Tecido acrobático: arte que inspira e forma novos artistas

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Com quase dez anos de experiência em modalidades circenses, Aldemir Ferreira iniciou sua trajetória oferecendo aulas de tecido acrobático ao ar livre, de forma independente. A partir dos treinos, formou um grupo que passou a se apresentar em escolas e eventos na capital.
“Me sinto muito feliz de ensinar. Quando vejo alguém superar uma dificuldade e ouvir o público vibrando, é uma emoção que não dá pra explicar. A arte une, transforma, dá força”, relata.
Atualmente, Aldemir ministra aulas na Usina de Arte João Donato e segue incentivando os alunos a explorarem o corpo e a criatividade por meio da modalidade circense.
Grafite como expressão e memória coletiva

Foto: Cedida
A grafiteira e ativista climática Vands conheceu o grafite ainda na adolescência, inspirada pelas pinturas dos muros no bairro Cadeia Velha. A partir de oficinas e mutirões, passou a atuar de forma mais ativa na cena da arte urbana, consolidando-se como uma das referências locais no grafite feminino.

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“Eu pinto porque preciso. Porque calaram muitas vozes antes da minha. Minha arte não é só estética, é eco. É presença. É permanência”, afirma.
Além dos murais espalhados pela cidade, Vands também participa de projetos sociais e ministra oficinas em escolas e centros culturais. A atuação como artista e educadora vem acompanhada dos desafios de ser mulher em um espaço historicamente masculino e pouco valorizado.
“No início, tive medo de ousar e de me expor. Mas hoje, pintar sozinha virou um ato de liberdade. Compartilhar isso com outras pessoas é um privilégio.”
Arte no Acre é resistência cotidiana
Apesar da falta de patrocínio, da precariedade da estrutura e da ausência de políticas públicas consistentes, artistas locais seguem produzindo e formando novos públicos e criadores. Seja dançando, ensinando acrobacias ou pintando muros, eles reafirmam que há arte no Acre – e que ela resiste.
“Ser uma companhia independente é enfrentar barreiras todos os dias”, resume Dheyvison Bruno. E mesmo com os obstáculos, eles continuam. Porque, no Acre, a arte é também uma forma de existir e resistir.