Enfim, a Câmara de Vereadores de Rio Branco foi onde o povo está. É evidente que o clichê é parte de uma retórica. O parlamento já tem os mecanismos de participação popular no debate público. No entanto, são instrumentos que exigem o movimento contrário: quando o povo procura. E quando isso acontece a agenda é sempre plena de cobranças e reclamações. Ninguém busca a Câmara para elogiar.
Na primeira sessão itinerante do ano, é bem verdade, que cobranças não faltaram nos debates que aconteceram na Baixada da Sobral. Como diria outro bordão: “foi pau para comer sabão e pau para saber que sabão não se come”. O presidente Joabe Lira, evidentemente, não foi surpreendido. Aliás, ninguém foi. Estar ali já pressupunha um preparo para uma guerra com papéis bem definidos: uns foram armados para bater; outros para escutar. E é assim mesmo.
Essas sessões da Câmara Itinerante também cumprem um papel catártico: deixar a comunidade esbravejar é parte do rito também. Distensiona relações. O cidadão se sente participante da construção de algo que ele nem sabe ao certo no que vai resultar. Mas ele (ou ela), de alguma forma, contribuiu.
Uma postura democrata entende isso. Uma postura democrata defende esse direito à crítica. Uma postura democrata avalia que a construção para uma cidade melhor é coletiva. Não depende da ação de apenas um iluminado sentado na cadeira de prefeito. Joabe Lira, o presidente da Mesa Diretora da Câmara de Vereadores, tem consciência disso. Se não tivesse, as Sessões Itinerantes não seriam possíveis.
E se teve uma coisa que o presidente Joabe Lira exercitou nesta sessão itinerante foi a capacidade de ouvir. Inicialmente, foi tentado limitar o tempo de fala dos moradores. A medida foi imediatamente rechaçada. “Aqui mesmo não! Vocês limitem o tempo nas sessões de vocês por lá. Aqui nós viemos foi pra falar!”. E dá-lhe, povo! As abordagens foram, basicamente, em torno de três temas: os efeitos e causas da alagação; a execução do programa Asfalta Rio Branco e a mudança do Centro Pop para as imediações da Baixada da Sobral.
À exceção do coordenador da Defesa Civil de Rio Branco, os demais gestores justificaram os olhos vermelhos e a boca salivando dos moradores da comunidade: ou escolhiam abordagens tecnicistas que em nada comunicavam ou partiam para a afronta. Um deles (o secretário de Assistência Social e Direitos Humanos), inclusive, saiu do ambiente com menos de uma hora de sessão. Conversar com o povo exige um compromisso que pode estar à disposição de todo mundo, mas não é para qualquer um.
Em síntese: Joabe Lira acertou. Na ideia e na forma. Se a administração de Rio Branco vai cooperar para que outras sessões aconteçam como devem acontecer, isso o tempo dirá. Porque o presidente da Câmara, certamente, não pode se iludir: o papel do parlamento reside, justamente, nessa mediação. Se não houver consequência prática na vida da comunidade, o debate, como instrumento de conquista do cidadão, passa a se fragilizar.
À Câmara cabe alimentar o debate como uma poronga a iluminar o ambiente escuro. À Prefeitura de Rio Branco, cabe a execução da política pública. Com uma ressalva: a poronga de nada serve para um seringueiro que não está com disposição de andar. É luz inútil para quem não quer enxergar. O povo começou a falar, peleja nisso faz tempo. Escuta quem tem compromisso.