A guerra comercial iniciada por Donald Trump se amplia conforme países começam a implementar respostas contra as tarifas criadas pelo governo norte-americano. A partir de hoje, entram em vigor também barreiras canadenses contra os produtos dos EUA, e a Europa votou pela aprovação de uma lei que atingirá bilhões de euros no fluxo comercial.
Nas redes sociais, o novo primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, afirmou que “haverá tarifas de 25% sobre todos os veículos não compatíveis com o acordo Canadá, México e EUA”.
“O presidente Trump causou essa crise comercial – e o Canadá está respondendo com propósito e com força”, disse.
A reação canadense ocorre apesar de parte do fluxo comercial ter sido poupada depois de um entendimento entre os dois países. Mesmo assim, as novas taxas vão atingir em 10% das vendas de carros do Canadá aos americanos.
Conforme o UOL mostrou, há uma corrida às concessionárias nos EUA diante do temor dos consumidores de que a guerra comercial seja transferida aos preços de veículos.
Hoje, a UE aprovou uma lista de produtos americanos que serão alvos de retaliação. A ideia do bloco é a de aplicar tarifas de 25% contra uma variedade de produtos. A lista inclui desde amêndoas a iates, passando por motocicletas, soja e aço.
As tarifas europeias serão colocadas em três etapas. A primeira delas entra em vigor em 15 de abril, afetando 3,9 bilhões de euros em produtos.
Em 16 de maio, mais uma parcela do pacote seria adotado, atingindo 13,5 bilhões de euros e, em 1 de dezembro, a soja seria incluída na lista, a um valor de 3,5 bilhões de euros. A ideia da aplicação da sanção em etapas, é dar espaço para uma negociação.
A meta inicial era taxar bebidas alcoólicas dos EUA. Mas França, Itália e Irlanda foram contrários, temendo que seus produtos no mercado americano – principalmente vinho e uísque – fossem afetados ainda mais. Trump ameaçou aplicar tarifas de 200% sobre esses bens europeus, caso Bruxelas optasse por uma resposta.
O primeiro-ministro francês, François Bayrou, descreveu a proposta de taxas bebidas americanas como “um passo em falso”. Para o vinho francês, uma tarifa de 200% seria o fechamento do maior mercado do mundo. Nos últimos 20 anos, o comércio de bebidas entre Europa e EUA aumentou em 450%, com um total de 7 bilhões de euros.
“As tarifas da UE podem ser suspensas a qualquer momento se os EUA concordarem com um resultado negociado justo e equilibrado”, disse o porta-voz comercial da Comissão, Olof Gill.
O volume de importações dos EUA afetadas pelas tarifas da UE será de cerca de 22 bilhões de euros por ano.
A base para a retaliação foi a decisão de Trump de colocar taxas sobre o aço europeu.
“A UE considera as tarifas dos EUA injustificadas e prejudiciais, causando danos econômicos para ambas as partes, bem como para a economia global. A UE declarou sua clara preferência por encontrar resultados negociados com os EUA, que seriam equilibrados e mutuamente benéficos”, disse o executivo da UE em um comunicado.
Apenas a Hungria – um aliado do governo Trump – se opôs ao pacote, enquanto todos os outros 26 países votaram a favor.
“A escalada não é a resposta. Essas medidas causariam mais danos à economia e aos cidadãos europeus, aumentando os preços. O único caminho a seguir são as negociações, não a retaliação”, disse o ministro das Relações Exteriores e do Comércio da Hungria, Péter Szijjártó.
Retaliação contra áreas republicanas e Big Techs
Para montar a lista de produtos a serem retaliados, a UE escolheu aqueles com origem em estados republicanos, ou de locais onde democratas e o partido de Trump disputam a hegemonia – como a soja, carnes em Nebraska e Kansas, e madeira na Geórgia, Virgínia e Alabama. De acordo com Bruxelas, o objetivo é que isso gere uma pressão sobre Trump a partir da base eleitoral.
Não se exclui, porém, que caso a negociação com a Casa Branca não prospere, a Europa poderá adotar um novo pacote de sanções, com medidas contra as plataformas digitais e o setor de serviços e tecnologia. Este plano será apresentado na próxima semana e poderá ser implementado a partir de maio.
No começo desta semana, a UE ofereceu a Trump um acordo pelo qual todas as tarifas de bens industriais seriam zeradas entre os EUA e a Europa. Mas o presidente americano respondeu que isso não seria suficiente.
Trump reage nas redes sociais
Diante de mercados em queda e de ataques por algumas das maiores economias do mundo, Trump se limitou a usar as redes sociais para tentar dar garantias aos americanos de que sua política é a correta.
“Fiquem tranquilos! Tudo vai dar certo. Os EUA serão maiores e melhores do que nunca!”, afirmou.
Nos últimos dias, o presidente dos EUA tem criticado tanto os mercados, quanto governos estrangeiros que optam por retaliações. Mas vem fazendo apelos para que os americanos “aguentem firmes”.
“Este é um ótimo momento para transferir empresas para os EUA”, disse Trump após as tarifas da China, Canadá e Europa. Em uma segunda postagem em sua plataforma Truth Social, o presidente disse que as empresas que entrarem nos EUA enfrentarão menos burocracia, “nenhum atraso ambiental” e “tarifa zero”.