Na mais recente edição do Bar do Vaz, o jornalista Roberto Vaz, recebeu nesta terça-feira, 8, uma convidada especial: Mãe Marajoana de Xangô, dirigente espiritual da Tenda de Umbanda Luz da Vida, localizada no quilômetro 6 da estrada do Quixadá, em Rio Branco (AC). Com mais de 20 anos de vivência na Umbanda, sendo dez deles dedicados ao sacerdócio, a espiritualista compartilhou sua trajetória, explicou conceitos da religião e comentou experiências vividas dentro e fora do terreiro.
Fundadora da Tenda de Umbanda Luz da Vida, Mãe Marajoana também é acadêmica de Ciências das Religiões e conduz trabalhos com as medicinas da floresta em rituais de autoconhecimento. Durante a entrevista, ela falou com leveza e firmeza sobre fé, mediunidade e energia, temas que muitas vezes despertam dúvida ou preconceito.
De início, ela explicou o significado dos guias dentro da Umbanda. “O guia a gente tem como alguém que nos guia no caminho. Todo mundo tem um guia. Então Deus, ela guia os caminhos da gente. As nossas guias ou colares, como é dado dentro da nossa religião de Umbanda, são uma ferramenta de baixas vibrações e que tenha esse equilíbrio entre o caminho da terra e o plano espiritual. Então, guias são dados como colares”, explicou.
Sobre temas frequentemente tratados com desconfiança e temor, Mãe Marajoana explicou sobre a influência energética. “Depende de como você vive a vida, né? Nós somos um campo de energia. Se você vive uma energia positiva diariamente, não tem nada que pegue em você. Se você vive numa vida inconstante, é positivo, negatividade na dualidade da vida que nós somos, o que pega em você é o que você foi para você, não de como praga, né? Eu digo como reação das suas ações”, relatou.
“Nós somos um campo de energia. Muitas vezes tem pessoas que não têm a vontade de exercer o que nós chamamos esse pensamento, mas muitas vezes é a fonte vibratória desse ser, ele é um de nós, ele é esse campo. Se ele tem um embate, como nós chamamos energético, você fica ali mais molinho, as pessoas chamam como esse vento caído, ou pegou o quebranto, né?”, acrescentou.
Para Mãe Marajoana, as ervas não são apenas parte de rituais, mas verdadeiras fontes vivas de cura. “As ervas ou as plantas, elas são seres vivos de alguma forma, elas são fontes de energia, então no momento que você intui, pede o auxílio daquela erva que vai auxiliar o nosso irmão, ela vai fazer o que? Que nós chamamos como um processo de puxar, né, para aquele néctar da erva, então ela vai desidratar, ela vai de alguma forma, murchar ou morrer, como as pessoas chamam”, afirmou.
Durante a gravação do Bar do Vaz, Mãe Marajoana destacou que nunca estamos sozinhos. “Eu não ando só, né? E nenhum de nós anda só. Nós andamos com diversas energias, então dentro dessa sala tem quantos seres que está auxiliando com a comunicação? Exu é um deles. Se você atua com a comunicação, com esse ato de levar o conceito, pode ter certeza que eles estão aqui, como sentinelas protegendo esse espaço”, relatou.
Durante uma explicação sobre o passe magnético, Mãe Marajoana detalha o processo como uma troca energética que visa à cura por meio das mãos. “O ato do passe magnético, a gente disse que é a intenção da cura com as mãos, que são de nossas chagras. E esse passe, ele é um campo de energia meu que se envolve com a sua energia. A gente vem com a intenção, que é o ato de como se tivesse te banhando dessa energia, onde toda essa energia que você se encontra, ela se ilumina e vai trabalhando como contexto de campo de energia, que vai neutralizando as energias que de alguma forma não estejam positivas”, explicou.
Durante a entrevista, ela explicou que, dentro da Umbanda, a mediunidade pode se manifestar de diversas formas, como intuição, audição, visão ou incorporação. E que essa conexão com o plano espiritual é, antes de tudo, um reencontro com a própria essência.
“Quando alguém chega na nossa casa e ele tem esse conceito e a mediunidade, ela fala muitas vezes com você, que é a questão de ato de incorporar ou acoplar essa energia no meu campo vibratório. E essa energia vai ter essa conversa com você e ele diz para você: confie que eu estou junto com você. Quem são essas mediunidade ou quem são esses espíritos? Eles são a nossa família espiritual”, pontuou.
“Todos nós temos alguém como espírito, nós somos um espírito. Então, quando você tem uma faculdade mediúnica, que a gente diz mais nesse conceito, seja ela de incorporar, de intuir, de ter uma sensibilidade, de ter o dom da visão, da audição, a faculdade mediúnica de incorporação”, relatou.
O jornalista Roberto Vaz lembrou de um momento marcante em sua vida, quando um conflito empresarial acabou solucionado após uma experiência espiritual significativa. Segundo Mãe Marajoana, esse tipo de vivência não é casual, mas uma manifestação espiritual que guia o indivíduo em sua jornada. Ela descreve isso como “um encontro com a alma”.
A gente diz que quando o momento que você se doou, que foi o momento que você chegou, a ir a esse encontro. Que é um dos processos de decisões da vida. Você teve um encontro com a alma. E que quando você teve essa conversa que voltou, a gente diz que é o quê? A mediunidade, ela traz uma organização na sua vida”, pontuou.
“Na vida da gente é isso. Muitos precisam fechar para que outros se renovem. Então, o ato de você ter se encantado, muitas vezes, e isso é um dos maiores processos da mediunidade, eu digo sempre que você ao pisar na Umbanda, tome cuidado, porque às vezes você se apaixona por esse conceito do trabalho da Umbanda, como de todas as outras religiões”, acrescentou.
Ao falar sobre morte e pós-vida, Mãe Marajoana abordou uma das dúvidas mais comuns entre os curiosos sobre espiritualidade.
“Eu digo que as duas são iguais e chamadas de forma diferente. Olhadas de forma diferente. Porque quando nós somos espírito, mas nós somos uma alma em processo de crescimento. Então, eu lhe pergunto com o conceito da minha visão. Acha que Deus ia construir você como espírito, o filho de Deus ia acabar do nada?”, salientou.
“Todo mundo diz que você vai para o céu. E o que que tem no céu? Eu digo uma coisa que as pessoas dizem assim. Eu nunca conversei com quem voltou de lá. Eu incorporo ele toda sexta-feira, né? Que me traz esses aprendizados de como ser humano. Depende de como você vê a sua alma. Depende de como você vê o seu campo interior de alma. Eu não acredito no inferno nem no demônio. Depende das suas vibrações, né? São as escolhas, né? O céu e o inferno não existem só para quando eu morrer. Não, ele está aqui, né?”, acrescentou.
Questionada sobre se os espíritos têm fisionomia, ela contou uma experiência pessoal com uma preto velha. “Quando eu tive esse encontro com uma preta velha de cinco anos de idade, eu vi uma senhorinha sentada no canto da minha casa rezando o rosário. E eu tive medo naquele momento desse encontro, porque eu tinha medo de qualquer pessoa anciã. Eu não conseguia ver a versão do rosto. Eu tinha a fisionomia do corpo, o conceito, mas o rosto eu não conseguia detectar”, pontuou.
A dirigente explicou que sonhos não são apenas manifestações do inconsciente, mas também canais de energia que podem servir como avisos ou chamadas para reequilíbrio interior.
“O sonho, ele depende muito de como esteja você, né? A gente diz que quando você está num dia que está bem corrido, que você está estressado, porque hoje as pessoas entendem muito dessa linguagem, e você sonha coisas que não têm uma pluralidade, não têm real sentido. Isso é um contexto que é o campo da sua energia querendo exalar para que você reprograme-se, como se disse, porque o ato de dormir é recarregar para o outro dia você estar bem”, afirmou.
Ela conta que sonhos com entes queridos ou entidades espirituais são formas de comunicação e orientação. “Quando você tem um sonho que você tem todo esse encaixe que nós chamamos como uma mensagem, você vai ter aquela percepção de que você estava em um campo. Então às vezes tem pessoas que têm um sonho com o contato com entes queridos que já se foram, que no qual eles trazem alguma mensagem de uma necessidade. Tem pessoas que se vêem em vários campos”, afirmou.
Sobre os sonhos considerados ruins, Mãe Marajoana afirma que são reflexos de estados vibracionais e emocionais instáveis.
“O sonho apavorante, o que as pessoas chamam como pesadelo, ele vem também como um campo vibratório. Você já parou para analisar que muitas vezes você tem esses pesadelos quando você não está muito bem com você, seja em algum plano da sua vida, seja o olhar espiritual, seja o relacionamento, seja o profissional, seja algum campo que você não está numa vibração bacana, que nós temos um fio prana que nos liga a algum lugar. Então esse sonho, muitas vezes, ele vem como um campo vibratório que nós estamos”, explicou.
Segundo ela, até mesmo os pesadelos mais inquietantes podem representar alertas importantes. “Às vezes esse sonho que as pessoas chamam como tenebroso, ruim, ele é um acordar de dizer: ‘Opa, eu preciso me resolver algumas questões da minha vida’. Eu digo sempre que na vida nem tudo é perca, são ganhos. Ou você ganha de alguma forma que você alcançou, ou você ganhou a experiência. Se você tem uma noite de sono adequada, no outro dia você vai estar bem para novamente continuar o seu dia. Se você não tem uma noite adequada de alguma forma e o sonho começou a interferir, a gente diz que são intrusos convidados por nós de alguma forma, consciente ou inconscientemente”, observou.
Indagada sobre o sofrimento prolongado de pessoas acamadas, ela pontua que não há uma explicação única, mas sim caminhos espirituais que se cruzam com escolhas feitas antes do nascimento.
“Eu posso vir falar sobre o que eu tenho como entendimento para comigo. Eu tenho que olhar no meu campo de visão e respeitar todos os outros olhares. Eu acredito que todos nós temos uma escolha do que nós viemos fazer aqui. Nós temos o verbo esquecimento. E ao determinado desse tempo da sua caminhada terrestre, você faz com que o seu caminho seja escolhido por você. Então, vamos supor, às vezes a gente pergunta assim: uma pessoa que fez o bem e morreu tão cedo… alguém que fez o bem e morreu tão cedo… quem sou eu para julgar o ser humano? Qual foi a escolha dele nesse caminho? Então, muitas vezes, o que te denomina aqui? Qual é o nosso conceito de vida? A gente nascer e morrer, morrer para nascer ou nascer para morrer?”, pontuou.
“Então, às vezes, você vê que uma pessoa que é apegada, seja bens materiais ou pessoas, às vezes essa pessoa, nesse momento da volta ao seu encontro espiritual, ela possa ter uma dificuldade. Ou pessoas que a gente diz que não buscou uma vida tão tranquila, mas ela pode ter essa oportunidade do outro plano de se resolver, de se melhorar”, acrescentou.
Sobre o trabalho espiritual que conduz, Mãe Marajoana afirma que não há escolha racional sobre qual entidade incorporar durante uma gira, tudo acontece conforme a necessidade energética do momento.
“Quando nós dizemos a palavra incorporar, eu posso trazer um exemplo: imagine, tenho esse copo, né, e esse líquido. Esse líquido, para entrar nesse corpo, ele tem uma faculdade mediúnica, que no caso seria dessa de incorporação. Ao olhar para esse líquido que está acoplado comigo em parceria, minha família espiritual, ela me faz olhar pelos olhos dele, né, a reconhecer esses valores dele. Então, no momento que eu estou incorporada com a energia de uma preta velha, eu estou incorporado pelos valores da consciência dessa energia”, afirmou.
Questionada sobre já ter sido incumbida por espíritos para levar mensagens, ela disse que já teve episódios. “Várias vezes. Já chegou muito da gente estar num momento, né, e você ter aquele conceito de dizer: ó, diga para o irmão ter fé, ter paciência, que na vida tudo passa. Ou, muitas vezes, já me aconteceu de entes queridos chegarem e dizer: ó, diga para ele cuidar da minha filha e eu não conhecer a pessoa, dentre outros. Mas não é uma coisa que vou acender a luz, né. Eu digo sempre que são as necessidades”, pontuou.
A firmeza de Marajoana se mantém mesmo diante da carga emocional do trabalho espiritual. “Comigo, não. Depende de como você se prepara, né. Eu digo sempre que o primeiro processo de incorporação é no corpo. Se você não cuida do seu corpo, como você vai cuidar do espírito?. Muitas vezes o espírito está muito mais incubado ou escondido do que o próprio corpo. Então, quando eu não tenho uma preparação, seja ela corporal ou também espiritual, realmente você vai estar com várias janelas abertas”, afirmou.
Sobre os elementos que compõem a gira, o culto espiritual, Marajoana fala com naturalidade. “Isso é bom para que a gente possa, dentro de desmistificar, cada, eu digo sempre, vertente religiosa. Eu tenho uma vertente de Umbanda. Quantas Umbandas, de alguma forma, olham da sua vertente, né. Eu olho por essa janela da Umbanda que eu pratico”, observou.
Mãe Marajoana conta que fabrica suas próprias velas e vê nelas um instrumento poderoso. “Eu uso vela e fabrico velas, né. Vela de sete dias, vela palito, vela aromática, vela de tudo que você imaginar. Eu adoro vela, que é a energia dos quatro elementos sagrados na natureza. Eu digo isso sempre para as meninas: com uma vela, eu desço o inferno e faço ele tremer comigo, né. Porque é o sentido da intenção que você coloca. “Na nossa casa, nós usamos a bebida como sentido do ar, né. Mas nenhum dos filhos bebe. No momento da incorporação, não. Só a mediunidade que me conduz para uma necessidade. Mas nós não temos essa cultura de ter a bebida, né. Porque muitas vezes a gente entende: vai a pessoa que vai ali para se livrar do álcool. E aí você oferece aquilo que ela está querendo se livrar, né”, pontuou.
Ao final da entrevista, Mãe Marajoana reforçou seu compromisso com o acolhimento e negou qualquer cobrança para frequentar a Umbanda. “Eu não cobro nada para a gente trabalhar no nosso trabalho de gira, né. São todos tratamentos ou consultas que ninguém tem nenhum valor. Não cobro nenhum tipo de valor para o trabalho. Porque eu não atuo com trabalhos que venham prejudicar ou interferir no livre-arbítrio do ser humano”, relatou.
Ao fim da conversa, Mãe Marajoana deixou uma mensagem de fé e introspecção. “Quando a gente tem um rio na vida, e a nossa vida ela é um rio. Que você de alguma forma sabe o tamanho do oceano que você é. Não tenha medo de enfrentar um novo no caminho. Às vezes na vida da gente, a gente tem medo de fechar um ciclo, muitas vezes necessário para que outro abra. A gente tem medo de dar continuidade ou ter essa persistência de alcançar com confiança e atitude e esforço daquele que a gente sabe que às vezes está faltando alimentar. Mas quando a gente começa a se alimentar ele vem crescer. E que a gente aprenda a olhar o mundo com os olhos do coração. Eu acredito que quando a gente aprender a olhar o mundo com os olhos do coração, você encontrou o seu lugar que é dentro de você”, encerrou.
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