Frei Renan Barros, acreano de 41 anos, é sacerdote católico da Ordem dos Servos de Maria e atua na Paróquia São Peregrino, em Rio Branco. Ele foi o entrevistado desta terça-feira, 25, no programa Bar do Vaz, onde abordou sua trajetória de vida, sua entrada no sacerdócio e afirmou que, no Acre e no Brasil, há um alto número de pessoas retornando da igreja protestante para a igreja católica.
Renan, que cantou no início e no fim do programa, destacou na entrevista que a descoberta da vocação para o sacerdócio aconteceu aos poucos, ainda na juventude. “Então, vai dizer, eu nasci em uma igreja católica. Minha mãe me levava desde muito pequeno, então fui me envolvendo nesse espírito religioso. Na adolescência, comecei a tocar um pouco de violão, a ajudar na missa e entrei para o grupo de jovens. Fiz os sacramentos, a catequese, tudo isso. Então, esse é um ambiente bastante inserido. Eu era universitário, mas nem padre tinha. Nós éramos guiados por algumas mães e senhoras que cuidavam da nossa comunidade. Esse amor pela igreja e pelas coisas de Deus foi crescendo desde pequeno, mas tomar a decisão de seguir essa vida não foi fácil. Acho que qualquer decisão na vida, especialmente na temática vocacional, não é simples. Então, comecei a ter dúvidas. Quando um jovem participa muito da igreja, já começam a perguntar: ‘Você vai ser padre?’ Eu respondia que não. As irmãs também perguntavam: ‘Você não quer ser padre?’ E eu dizia que não. Mas, com tantas perguntas, comecei a refletir. Será que estão vendo algo em mim? Será que Deus está falando através deles? A partir dessa dúvida, comecei a rezar. Pedi a Deus: ‘Senhor, mostra-me o caminho.’ E as coisas começaram a clarear. Até que fui convidado a fazer uma experiência no seminário”, relembrou.
O religioso destacou que, no Acre e no Brasil, há um grande número de católicos que estavam na igreja evangélica e estão retornando ao catolicismo. “Realmente voltou a crescer. Recentemente, saíram dados sobre o aumento do número de católicos. No Brasil, esse movimento tem sido perceptível. É fato que o número de protestantes cresceu, mas agora se estabilizou. O que temos visto? Muitos católicos que haviam deixado a igreja estão voltando, e muitos protestantes estão descobrindo a fé na Igreja Católica.
O que acontecia antigamente? Tínhamos um catolicismo ‘de IBGE’. As pessoas diziam ‘sou católico’, mas não frequentavam a igreja. Eram católicos apenas de nome, por tradição, porque haviam sido batizados. Hoje, vemos um católico mais participativo. Quando vamos às igrejas, percebemos uma aproximação maior tanto daqueles que estavam afastados quanto de protestantes que estão redescobrindo a fé católica”, disse.
Renan fez questão de explicar a diferença entre padre e frei durante o programa. “Por exemplo, eu moro com dois frades e nossos formandos. O frade é apenas um irmão, ele não pode realizar os sacramentos. Para isso, precisa da ordenação sacerdotal. Eu pedi minha ordenação e fiz três anos de preparação. Minha consagração, primeiramente, foi pela minha ordem religiosa. Há frades que escolhem ser apenas irmãos, sem o sacerdócio. No meu caso, além do compromisso religioso, fui chamado ao ministério sacerdotal”, explicou.
Frei Renan também falou sobre a importância de animar o povo de Deus. Segundo ele, sua maior referência é o padre Marcelo Rossi. “Na verdade, eu surfei na onda que já existia, vinda do movimento chamado Renovação Carismática Católica. Minha primeira referência foi pela televisão, assistindo ao padre Marcelo Rossi. Depois, como eu participava desse movimento dentro da igreja, fui aprofundando essa vivência, que é acolhida pela igreja e pelo Papa. É um movimento de louvor, alegria e clamor ao Espírito Santo.”
Responsável pela condução do Cerco de Jericó, evento que reúne cerca de 2 mil pessoas todas as quintas-feiras na Igreja São Peregrino, o frei também falou sobre sua live diária às 5h da manhã, que tem mobilizado uma multidão, tanto online quanto presencialmente. “Durante a Quaresma, me comprometi a fazer 40 dias de lives. No começo, fiquei inseguro: ‘Será que vou dar conta? Vai dar certo?’ Mas assumi o compromisso com Deus e com minha equipe. Levanto às quatro da manhã, tomo um banho, aqueço a voz e começamos às cinco. No início, minha voz quase não saía, mas agora meu corpo já se adaptou. O mais impressionante é que as lives atraem muitas pessoas de fora. Hoje, por exemplo, tinham cerca de 30 pessoas presencialmente.”
Frei Renan também revelou o trabalho social realizado pela Igreja São Peregrino. “O lado social precisa ser alimentado por uma motivação espiritual. Caso contrário, nos tornamos apenas uma ONG. As ONGs fazem um trabalho essencial, mas a igreja precisa levar Cristo, e é Ele quem nos sensibiliza para ajudar. Na São Peregrino, atendemos cerca de 90 famílias cadastradas. Tudo na igreja católica é muito organizado. As famílias são visitadas, assistidas e recebem alimentos. Quando possível, oferecemos cursos profissionalizantes e outras formações, sempre com parcerias. Além disso, também ajudamos pessoas que aparecem pedindo apoio eventual”, declarou.
O religioso fez questão de destacar que o bispo Dom Joaquim deu sua bênção ao projeto. “Dom Joaquim tem acolhido nosso trabalho e deu sua bênção para o nosso Cerco de Jericó”, esclareceu.
Durante seus estudos em Roma, na Itália, Frei Renan enfrentou uma grande tragédia familiar. Sua mãe faleceu de forma inesperada ao ser atropelada por uma caminhonete enquanto ia para a igreja acompanhada de sua neta. Segundo ele, esse período foi extremamente difícil e o levou a um início de depressão. “Acho que estava no começo da depressão. Procurei um psicólogo e fui medicado. Tinha insônia e precisei tomar remédios para dormir, mas eles me deixavam muito mal no dia seguinte. A frase que me sustentava era: ‘Hoje vai ser melhor do que ontem’. Eu me levantava, tomava um café fortíssimo – café italiano é terrível de forte – e ia para a faculdade. Me concentrava nos estudos para enfrentar aquele momento. Fiz um ano de terapia e tomei medicação durante esse período. Graças a Deus, hoje estou bem e consigo falar sobre isso”, concluiu.
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