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Dia Mundial da Água e os extremos climáticos severos no Acre

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Da redação ac24horas

O Acre, localizado na Amazônia, uma das regiões com maior disponibilidade de água do planeta, enfrenta uma crise hídrica crescente. Secas graves e inundações intensas têm se tornado cada vez mais frequentes, afetando a qualidade e a disponibilidade de água. A situação se agravou nos últimos anos, com recordes de temperaturas e mudanças nos padrões de chuvas.


De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2024 foi oficialmente o ano mais quente já registrado no planeta, com uma temperatura média global 1,55°C superior à média do período pré-industrial. No Brasil, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou uma média de 25,02°C, a mais alta já registrada no país.


Segundo especialistas, essas mudanças têm influência direta sobre o Acre, resultando em períodos prolongados de estiagem e redução dos níveis dos rios.


Em 2016, o sistema de abastecimento de água da capital esteve à beira do colapso, quando o Rio Acre atingiu 1,30 metros. Situação que se agravou em 2024, quando o Rio Acre atingiu a cota histórica de 1,23 metros em Rio Branco trazendo riscos ao abastecimento de água e à economia local.


A escassez hídrica também prejudica a agricultura, o transporte fluvial e a segurança alimentar. Com a redução dos níveis dos rios, as comunidades ribeirinhas ficam isoladas, dificultando o escoamento de mercadorias e elevando o preço dos alimentos e favorece queimadas.


Mudanças no ciclo da água e no papel da floresta

Segundo o MapBiomas, o aumento das temperaturas e a redução das chuvas alteraram os padrões de evaporação e escoamento dos rios. A vegetação desempenha um papel essencial nesse equilíbrio, pois absorve e libera água para a atmosfera.


No entanto, o desmatamento tem comprometido essa dinâmica, diminuindo a infiltração e acelerando a manipulação dos recursos hídricos.


A chefe de Divisão dos Recursos Hídricos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Maria Antônia Zabala, destacou que a conservação dos recursos hídricos é um desafio cada vez maior devido às variabilidades climáticas que vêm ocorrendo, assim como a atuação dos fenômenos El Niño e La Niña, que contribuem para a ocorrências de eventos extremos cada vez mais recorrentes e severos.


De acordo com o relatório “Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil 2023”, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), a Região Hidrográfica Amazônica, que inclui o Acre, concentra 81% da disponibilidade de águas superficiais do país.


Entretanto, as mudanças climáticas provocam períodos mais prolongados de seca e enchentes mais intensas, afetando os ecossistemas e a economia local.


Inundações e perdas econômicas: a outra face da crise

Se, por um lado, a seca extrema assola o estado, por outro, as inundações também se tornaram mais frequentes e destrutivas.


Em 2015, Rio Branco vivenciou a maior cheia do Rio Acre, afetando mais de 100 mil pessoas e causando prejuízos entre R$ 200 e R$ 600 milhões. Os anos de 2023 e 2024 também registraram enchentes de grandes proporções em todo o estado.


Segundo o pesquisador Foster Brown, da Universidade Federal do Acre (Ufac), em um artigo publicado em 2019, os danos causados por eventos climáticos extremos no estado somam centenas de milhões de reais ao longo da última década.


“Ao longo dos anos, os impactos das secas e inundações no Acre têm se intensificado, gerando perdas econômicas significativas e agravando a vulnerabilidade da população. Esse ‘empobrecimento silencioso’ exige mais atenção da sociedade e do poder público”, alertou Brown.


A busca por soluções e a preservação dos recursos hídricos

De acordo com a chefe de Recursos Hídricos da Sema, o Acre tem adotado medidas para mitigar os impactos da escassez e das inundações, investindo em monitoramento da qualidade e quantidade de água, além de fortalecer ações de recuperação ambiental.


Entre as principais iniciativas estão a atualização do Plano Estadual de Recursos Hídricos e a implementação de sistemas de monitoramento hidrológico em tempo real. Essas medidas permitem prever oscilações no nível dos rios e agir preventivamente para evitar desastres.


“Com isso, será possível estabelecer ações de curto, médio e longo prazo para solucionar problemas existentes e prevenir futuros relacionados à água”, destacou a gestora.


Além disso, a recuperação da mata ciliar do Rio Acre tem sido uma das prioridades, com programas de reflorestamento e proteção de nascentes.



“A Sema também aprovou um projeto para captação de recursos junto ao Fundo Brasil da Organização das Nações Unidas (ONU), que inclui a elaboração de diagnóstico e caracterização das nascentes da Área de Proteção Ambiental (APA) do São Francisco e Amapá, proteção de 20 nascentes e reflorestamento de 30 hectares de áreas de APP desmatadas nessas duas sub-bacias do Rio Acre”, informou Zabala.


Gestão sustentável da água

Garantir o acesso à água potável e preservar os recursos hídricos exige uma abordagem integrada, envolvendo o poder público, a sociedade e a pesquisa científica.


Dados do Instituto Trata Brasil revelam que, em 2022, 52% da população acreana — cerca de 431 mil pessoas — não tinha acesso à água potável.


A adoção de políticas públicas externas para o uso racional da água, a conservação de ecossistemas aquáticos e a adaptação às mudanças climáticas são fundamentais para enfrentar os desafios impostos pelo novo cenário climático.


No ano passado, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico decretou situação de deficiência hídrica na região do Rio Purus, reforçando a urgência de ações para garantir o abastecimento e a sustentabilidade dos recursos hídricos no Acre.


Dia Mundial da Água: conscientização e mobilização


Em comemoração ao Dia Mundial da Água, comemorado no dia 22 de março, o Governo do Acre, em parceria com a Prefeitura de Rio Branco, órgãos ambientais e instituições de ensino, promove uma série de atividades para sensibilizar a população sobre a importância da conservação da água.


As ações incluem palestras em escolas da rede pública estadual e municipal entre os dias 18 e 22 de março, além de uma passeata com apresentações culturais no dia 27.


A iniciativa conta com o apoio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), Serviço de Água e Esgoto do Acre (Saneacre), Secretaria de Saúde (Sesacre), Secretaria de Educação (SEE) e outras entidades.


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