Marcelo Camargo/Agência Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (14) que o preço do ovo está caro e que ele ainda não encontrou uma explicação para a alta.
Em seguida, o presidente disse que quer descobrir quem “passou a mão”, isto é, quem está “roubando” no preço do alimento. Lula ainda chamou de “pilantra” o suposto responsável pela alta (leia mais abaixo).
Especialistas dizem que o aumento é impulsionado pelo custo do milho, calor intenso e demanda aquecida na Quaresma, os 40 dias que antecedem a Páscoa. Nesse período, os católicos costumam diminuir o consumo de carne vermelha.
As exportações de ovos produzidos no Brasil dispararam com a crise provocada pela gripe aviária nos Estados Unidos. Entretanto, especialistas afirmam que ainda não é possível relacionar a alta de preços no mercado interno com a situação nos Estados Unidos.
Segundo Lula, o governo está em “uma briga tremenda” para baixar o preço e o vice-presidente tem feito muitas reuniões sobre o assunto.
“Nós estamos com um problema de alimento, que vocês já sabem que tem. O ovo está caro. Até hoje eu não encontrei uma explicação do porquê que o ovo está caro”, disse.
O presidente afirmou que fez um estudo comparando os preços. Ele contou que analisou os seguintes valores:
• De janeiro de 2003, quando a caixa de ovos com 30 dúzias custava R$ 144,15;
• De janeiro de 2024, quando a mesma caixa de ovo custava R$ 143,09;
• De janeiro de 2025, quando a caixa de ovo custava R$ 144,05; e
• De fevereiro de 2025, quando a caixa de ovos com 30 dúzias subiu para R$ 210.
“Eu estou querendo descobrir onde é que teve um ladrão que passou a mão no direito do povo brasileiro de comer ovo. O povo brasileiro come, em média, 260 ovos por ano. É pouco, não dá nem um por dia”, mencionou.
“Mas sabe quantos ovos o Brasil vai produzir este ano? 59 bilhões de ovos. Então não tem explicação esse ovo estar caro, alguém está passando a mão. Esse é o dado concreto, e nós queremos saber quem é”, emendou Lula.
Em outro momento, o presidente questionou se teria sido o calor o fator responsável pela diminuição dos ovos.
“Alguns dizem para mim: ‘é porque aumentou a exportação e o dólar tá caro’. Tudo bem que o cara que vai exportar ele vai ganhar mais porque vai ganhar em dólar, mas o que ficou aqui não tem que subir de preço. Nós só exportamos 0,9%, menos de 1% dos 59 bilhões de ovos. Por que subiu o ovo?”, indagou o presidente.
“Ah, porque fez muito calor, e a galinha diminui os ovos tudo quando tem muito calor. Mentira. Porque calor fez no ano passado, porque no final do ano agora choveu bem […], então as galinhas não reclamaram, então alguém está sacaneando as galinhas”, frisou.
“Nós estamos em uma tarefa muito grande, o presidente da República, o ministro da Fazenda, porque nós queremos encontrar quem é o pilantra que aumentou o ovo tanto. Não é possível”, arrematou Lula.
As declarações foram dadas durante uma cerimônia de entrega de ambulâncias em Sorocaba, em São Paulo.
Tendência de alta
Lula tem criticado o preço do ovo e de outros alimentos cujos valores nos supermercados subiram nos últimos meses.
A inflação dos alimentos é um dos motivos apontados por especialistas e aliados do presidente para queda de aprovação do governo.
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o preço dos ovos deve subir até o fim da quaresma.
Produtores afirmam que a alta recente representa uma “situação sazonal”, comum ao período pré e durante a quaresma, que acontece em abril.
A entidade informou que os custos de produção acumularam alta nos últimos oito meses, com elevação de 30% no preço do milho, que é usado como ração para as galinhas, e de mais de 100% nos custos de insumos de embalagens.
Medidas para frear preços
Nesta sexta (14) entrou em vigor uma das medidas anunciadas para baratear o preço dos alimentos, mas que não trata da produção de ovos.
O Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, aprovou a redução a zero os impostos de importação sobre uma série de alimentos.
• Carnes
• Café torrado e café em grão
• Milho
• Azeite de oliva
• Óleo de girassol
• Açúcar
• Massas alimentícias
• Bolachas e biscoitos
• Sardinha (até 7,5 mil toneladas)
• Óleo de palma (aumento da cota de importação de 60 mil para 150 mil toneladas)
Especialistas afirmam que o impacto dessas medidas deve ser limitado, já que muitos dos produtos seguem preços internacionais. Além disso, custos logísticos e de produção também afetam a competitividade do produto importado.