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“Sereia entre tubarões”: acreana realiza sonho e se torna carreteira de norte a sul do país

Por
Thais Farias

“Lugar de mulher é onde ela quiser!”. Esse tem sido o lema na vida da carreteira acreana Jéssica Nascimento Monte, de 25 anos, a “sereia entre os tubarões”, como ela mesma se denomina. Tudo começou há dois anos, após se decepcionar profissionalmente e decidir dar a volta por cima dentro da cabine de uma DAF 460, cortando o Brasil de norte a sul.


Mãe de duas filhas, fez o que só uma mulher é capaz de fazer: passou mais de um ano dirigindo carreta pelas estradas desse país tendo uma filha bebê como passageira, fazendo as pausas necessárias para banho, trocas de fralda e alimentação.


Nascida e criada em Rio Branco (AC), no bairro Aeroporto Velho, Jéssica conta que sua paixão pelos caminhões veio de berço. “Sou filha de caminhoneiro, então cresci dentro do caminhão. Aprendi muito com meu pai e meus irmãos, que também seguiram a profissão”, detalha.


Conduzir um veículo pesado tem sido a realização de um sonho de infância para a motorista, que hoje se diz realizada na profissão. Antes disso, chegou a trabalhar numa autoescola da família. Lá, atuou como instrutora de trânsito e também no atendimento ao cliente. No decorrer do tempo, ainda passou por algumas empresas.


Foto: Arquivo Pessoal/cedida)

“Por incrível que pareça, na maior parte das empresas, tanto os funcionários, como os patrões, me acolheram bem, me receberam com cuidado, davam atenção. Somente em um local é que foi muito difícil de trabalhar por conta de muito preconceito”, lamenta.


De acordo com Jéssica, em praticamente tudo que acontecia de errado empresa, ela acabava pegando a culpa pelo simples fato de ser mulher. “Até na hora da minha entrevista de emprego eles falaram que eu seria a primeira mulher e ficaram preocupados, pois segundo eles, ‘era um serviço para homem’. Mas eu dei a cara a tapa e deu certo, porém foi muita pressão para mim e eu decidi que conseguiria algo melhor e saí”.


Esse referido serviço, segundo Jéssica, lhe ocasionou diversos traumas. “Tive vários problemas psicológicos [no trabalho]. Foi aí que eu decidi seguir meu sonho de pegar a estrada”.


Foto: Arquivo Pessoal/cedida)

A virada de chave

Quando decidiu seguir a vida como uma verdadeira caminhoneira, a família de Jéssica ficou preocupada. “Me disseram que a estrada estava muito perigosa, que eu iria deixar minhas filhas em casa, não sabiam como iria ser. E eu falei que estava doente, que minha cabeça não estava bem e eu precisava trabalhar”.


Ela abriu mão de tudo para ser caminhoneira, trabalhar para outras pessoas. “Até que meu pai falou: ‘minha filha, já que é isso que você quer e que você acha que é melhor para você, vai’. Só assim é que todo mundo passou a me apoiar, me ajudar psicologicamente e me incentivar”.


O início de sua trajetória na carreta foi junto da filha, ainda bebezinha. “Ela ficou rodando comigo até 1 anos e 3 meses. Ela nasceu no mês de maio, aí só esperei o resguardo e já começamos a viajar. Hoje uma tem 4 anos e essa de 1 ano e 10 meses”.


Carreteira, teve de pegar a estrada com a filha ainda bebê – Foto: Arquivo Pessoal/cedida

Apaixonada pelo ofício, a acreana não considera a rotina como carreteira puxada. “Posso sair a hora que eu quero, paro a hora que eu quero. Geralmente, saio de madrugada e no finalzinho da tarde já paro [de dirigir] para dormir”.


Volta a cada 15 dias para casa. É o tempo que gasta de Rio Branco, no norte, até a região sul do país. “Descarrego, carrego de novo e volto para Rio Branco”. Também já fez viagem internacional, fazendo a rota Mercosul. “Transportava milho numa carreta graneleira para o Peru. Uma viagem bem complicada, passei 15 dias no topo, bem difícil”.



Hoje transporta todo tipo de produto em sua carreta. Geralmente traz carga para um supermercado de Rio Branco e ainda carrega produtos considerados perigosos, como algodão em pluma e madeira.


Pra quem quer essa vida, Jéssica aconselha sempre focar no pensamento positivo e no que quer ser. “Sempre digo que lugar de mulher é onde ela quiser. Não tem essa de caminhão é para homem. Hoje a mulher está ocupando espaço enorme no trânsito, tanto que há empresas em que quase 100% da frota e composta por mulheres, porque são mais cuidadosas, mais atenciosas. A mulher está ocupando um papel essencial na sociedade. Antes de tudo, sempre colocando Deus na frente dos nossos sonhos, porque ele é a base de tudo”, conclui.


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Thais Farias