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Escolhe o amor e a solidariedade, não o ressentimento e o ódio

Por
Irailton Lima

Se o objetivo comum daqueles que vivem e reconhecem o Acre como seu lar e destino é torná-lo um lugar de harmonia social, prosperidade, justiça e paz, a tarefa de construir as necessárias instituições fortes e justas descritas por Daron Acemoglu no já mencionado livro “Porque as nações fracassam”, requer uma nova configuração de forças sociais e políticas. Explico.


Instituições do tipo inclusivas, como analisado por Acemoglu, que atuam como garantidoras de uma ordem social baseada no estabelecimento de leis justas e de sistemas democráticos de garantia de seu cumprimento, superando os velhos vícios de elites dedicadas a impor privilégios e concentrar o poder, não surgem da vontade dos grupos sociais dominantes. Ao contrário, a história mostra que grupos dominantes jamais abrem mão dessa condição para compartilhar o poder, mesmo diante do risco iminente de rupturas sociais bruscas.


A experiência histórica e a pesquisa científica mostram que os processos de mudança social só acontecem quando, por alguma razão, o povo acorda de seu sono profundo de letargia política, compreende o jogo de poder e decide impor limites à ganância e ao egoísmo de suas elites. Em resumo, essa é a história das revoluções pelo mundo, tanto as lideradas por socialistas quanto por liberais.


A ganância e o egoísmo que estão na raiz do problema, por sua vez, são atributos diretos de um modo de vida social que se baseia na ideia de que a vida é um jogo de todos contra todos, em que os mais aptos, ou mais espertos, mais inteligentes e mais “trabalhadores” acumularão riquezas extraindo valor do trabalho de outros, um padrão social em que ser solidário e justo é caminho para o fracasso.


A ordem do capital impõe sua lógica sobre consciências e vontades individuais. Dela se originam a desigualdade, a violência e, em última instância, as frustrações e os ressentimentos sociais que fortalecem políticos extremistas e discursos de ódio.


É curioso observar que a nossa região, ainda que fazendo parte da periferia de um país periférico, sempre esteve submetida aos movimentos pendulares, ou seja, às idas e vindas, do capital, seja como capital industrial, no caso dos dois ciclos da borracha, seja o capital agrário-financeiro de agora. Em ambos os casos, o que restou ao povo foi observar a “banda passar” na forma de riquezas que se alimentam da exploração da natureza e dos arranjos institucionais criados, e são canalizadas para fora daqui, impedindo ou dificultando a formação do capital primário que poderia alavancar um processo mais duradouro e consistente de desenvolvimento regional.


Aliado a isso, um sistema educacional subfinanciado e mal gerido, que mais colabora para o atraso, a desigualdade e o subdesenvolvimento do que promove oportunidades de inclusão às camadas populares, dá o fecho do sistema de tragédias políticas que nos condenam à irrelevância do “não-lugar” em que nos encontramos hoje. Isso explica o porquê de as novas gerações verem a oportunidade de futuro no caminho do aeroporto, e não no da escola ou da universidade.


Mudar essa realidade deveria ser a missão de cada um de nós, seja nas rodas de conversa em família, na labuta diária no trabalho ou nas discussões em grupos de Zap. E a nova revolução poderia começar com o ato libertador de questionar a si mesmo: afinal, o egoísmo e a ganância são mais adequados para nossa vida individual e nossa convivência social do que a solidariedade e o amor ao próximo?


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Irailton Lima