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Privatização aumenta 56,73% gasto com pedágio no trecho Rio Branco/São Paulo para transporte de cargas

Por
Itaan Arruda

BR-364

Privatização aumenta 56,73% gasto com pedágio no trecho Rio Branco/São Paulo
para transporte de cargas

Por Itaan Arruda
O gasto com pedágio deve aumentar, aproximadamente, 56,73% no trecho Rio Branco/São Paulo, com a privatização dos 686,7 quilômetros da Rota AgroNorte entre Porto Velho e Vilhena para transporte de cargas. O cálculo tem como base os dados repassados pelo Sindicato das Empresas de Logística e Transporte de Cargas do Estado do Acre (Setacre).
Atualmente, o percurso de ida e volta entre Rio Branco e São Paulo tem custo com pagamento de pedágio que varia de R$ 2.640 a R$ 3 mil. A variação depende do tipo de carreta e do número de eixos. A estimativa com que as empresas trabalham é de que os sete pontos de cobrança de pedágio entre Porto Velho e Vilhena acrescentem R$ 1,6 mil na rotina das empresas.
“O impacto é grande. Hoje, qualquer tipo de custo a mais gera impacto para a categoria porque já temos um custo muito elevado”, avalia Nazaré Cunha, presidente do Sindicato das Empresas de Logística e Transporte de Cargas do Estado do Acre. “Esse custo, consequentemente, será passado para o consumidor. Não há como as empresas absorverem”. Cunha entende que a privatização “é um caminho sem volta”. Por isso, os empresários do segmento estudam se articular politicamente junto à bancada federal para tentar emplacar uma agenda com demandas específicas. “Não temos a quem recorrer a não ser o governo. Porém é bem difícil. Não temos um setor a que podemos nos dirigir”.
Cunha e os outros colegas do sindicato patronal terão muita dificuldade na seara política. Dos oito parlamentares federais, apenas dois talvez não defendam a privatização. E dos dois, até o fechamento desta edição, apenas um se posicionou publicamente, declarando-se “preocupado” com a possibilidade de aumento do preços dos produtos no Acre com a privatização da BR-364 em Rondônia. “Fico preocupado com mais carestia no preço das coisas”, afirmou o senador Sérgio Petecão.

Nazaré Cunha, da Setacre: privatização “é um caminho sem volta”. Mas ela quer debater com bancada federal e Governo do Acre uma agenda do segmento | Imagem arquivo ac24horas

Acisa é a favor da privatização

A presidente da Associação Comercial do Acre, Patrícia Dossa, fez uma consulta à diretoria antes de se posicionar institucionalmente. Deixou escapar que o tema não é consenso. Mas a maioria é a favor.
A falta de consenso no grupo produziu uma percepção que quer ser privatista, mas que tem consciência do consumidor empobrecido e de renda já muito comprometida que se tem por aqui. As ressalvas foram muitas.
“A Acisa apoia a privatização das estradas do Brasil todo e de Rondônia, desde que seja um processo transparente e traga reais benefícios à nossa sociedade e ao setor produtivo”, afirmou Dossa. “A infraestrutura rodoviária é essencial para a economia regional e qualquer concessão deve sempre garantir investimentos adequados, mas sem custos excessivos para os usuários. Nós defendemos uma privatização clara e acessível, priorizando a capacidade técnica e tarifas justas. E é fundamental evitar aumentos abusivos nos pedágios e assegurar um cronograma de investimentos definido”.
Sob um aspecto, a Acisa não tergiversou. Considerou tímida a meta de duplicação de apenas 107,57 quilômetros dos 686,7 quilômetros privatizados. “Não nos parece a melhor opção duplicar somente uma parte do trecho”.
Em relação aos prováveis aumentos dos custos no transporte de cargas, a Acisa orientou os empresários. “E, para enfrentar os prováveis aumentos nos custos do transporte, as empresas do Acre devem adotar estratégias como otimização das rotas, apesar de que não temos muitas opções… mas é possível fazer parcerias logísticas, investimentos em frotas eficientes e negociação com os fornecedores para minimizar os impactos”.
A presidente finaliza dizendo que o grupo vai continuar acompanhando o processo de privatização. “Nós seguiremos acompanhando o processo para garantir que a privatização ocorra de uma maneira justa, competitiva e realmente comprometida com o desenvolvimento regional”, afirmou.

Patrícia Dossa, da Acisa, consultou diretoria que se revelou favorável diante de um processo que, claramente, vai aumentar a pressão inflacionária | Imagem: Arquivo ac24horas

4UM/Opportunity prevê investimentos de R$ 10,23 bilhões

Vencedora do leilão da BR-364, a 4UM/Opportunity anunciou investimento de R$ 10,23 bilhões nos 30 anos em que terá a concessão dos 686,7 quilômetros da estrada federal entre Porto Velho e Vilhena, na divisa com o Mato Grosso.
O trecho rondoniense da BR-364 privatizado tem se consolidado como importante eixo de escoamento da produção de parte da soja do Centro-Oeste. Na declaração divulgada no site oficial do Ministério dos Transportes, o ministro Renan Filho deixou claro. “No ano passado, o Brasil produziu 150 milhões de toneladas de soja. Crescemos oito por cento em relação ao ano anterior. Esse percentual equivale a toda produção de soja da Índia. Esse crescimento sem investimento em infraestrutura é inimaginável”, justificou o ministro.

Ministro dos Transportes, Renan Filho, ressaltou a transparência nas 10 concessões em pouco mais de dois anos à frente da pasta e reforçou o perfil estratégico da privatização do trecho rondoniense para escoamento da produção de soja. Foto: Márcio Ferreira

Estão previstas construções de 107,57 quilômetros de duplicações; 190,59 quilômetros de faixas adicionais; 24 passarelas de pedestres; 17,79 quilômetros de vias marginais; 24 passagens de faunas (interligações subterrâneas de uma margem à outra da rodovia para evitar atropelamentos de animais); 90 pontos de ônibus.
O ex-ministro do Planejamento e da Fazenda na gestão de Dilma Rousseff e atual diretor de Planejamento e Relações Institucionais do BNDES, Nelson Barbosa, reforçou o coro de entusiasmo com a agenda de privatizações.
“Essa concessão irá ajudar bastante a economia no escoamento da safra, mas é muito importante também para melhorar a segurança da população. Este é mais um projeto de agenda de investimentos do governo Lula que conta não apenas com investimentos federais, mas com concessões”, diferenciou Barbosa, em declaração transmitida ao vivo na internet, quinta-feira, dia do leilão.

À esquerda, diretor de Relações Institucionais do BNDES, Nelson Barbosa. À direita, Confúcio Moura, senador (MDB/RO). Foto: Márcio Ferreira

O consórcio formado 4UM/Opportunity já tem muitas estradas no currículo. A 4UM já administra trechos da BR-381 em Minas Gerais e o Grupo Opportunity, além de administrar o Porto de Santos, também é responsável por concessões de rodovias em rotas importantes no Nordeste.

Números

R$ 10,23 bilhões de investimentos em 30 anos
R$ 686,7 quilômetros privatizados da Rota AgroNorte
1,1 milhão de pessoas atendidas
95 mil empregos diretos, indiretos e efeito-renda

Itaan Arruda

Jornalista, apresentador do programa de rádio na web Jirau, do programa Gazeta em Manchete, na TV Gazeta, e redator do site ac24horas.


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