A Assembleia Legislativa do Estado do Acre (Aleac) promoveu na manhã desta quinta-feira, 27, uma audiência pública para discutir a atenção à saúde indígena no estado. O debate foi proposto pelo deputado Adailton Cruz (PSB), com o objetivo de analisar desafios, apontar soluções e fortalecer políticas públicas voltadas para a saúde dos povos indígenas acreanos.
O evento reuniu representantes de diversas entidades ligadas à saúde e aos direitos indígenas, além de lideranças de diferentes etnias, membros do Poder Executivo e especialistas na área. Durante a audiência, foram discutidos temas como a estrutura dos serviços de saúde nas aldeias, a falta de profissionais especializados, dificuldades no acesso a tratamentos médicos e a necessidade de maior financiamento para o setor.

Foto: Sérgio Vale
O deputado Adailton Cruz destacou que a questão da saúde indígena vai além do atendimento médico e exige a integração de diferentes áreas do governo, além do compromisso de toda a sociedade. Segundo Adailton, é fundamental que haja estrutura adequada para garantir um atendimento humanizado e respeitoso às especificidades culturais dos povos indígenas.
“A atenção à saúde indígena vai muito além da estrutura hospitalar, pois envolve diversas áreas do governo, como o setor social e jurídico, além da responsabilidade coletiva da sociedade. O que não podemos permitir é que os direitos dos povos indígenas sejam esquecidos ou usurpados. Precisamos de enfermarias adequadas às suas especificidades culturais, medicamentos acessíveis e um atendimento que respeite sua identidade. Ainda há muitos indígenas em locais remotos sem assistência adequada, e precisamos encontrar soluções para que, um dia, esses problemas sejam superados”, pontuou.

Fotos: Sérgio Vale
Lideranças indígenas presentes também fizeram pronunciamentos, relatando problemas enfrentados nas comunidades, como a escassez de medicamentos, a precariedade do transporte para atendimento médico e a falta de profissionais bilíngues para atender pacientes indígenas.
O Promotor de Justiça, Juleandro Martins, coordenador-Geral do Grupo de Trabalho na Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, (GT-Indígena) do Ministério Público do Estado do Acre, falou da atuação da instituição Estadual na defesa dos direitos dos povos indígenas, ressaltando a criação do Grupo de Trabalho (GT-Indígena) e do projeto institucional TXAI MPAC.
“Nós temos um elevado índice de desnutrição e óbitos infantis nessa população, além do aumento de suicídios e problemas de saúde mental. Nós precisamos atuar em parceria para mudar essa realidade, e atuar de maneira articulada. Não tem mais como um jogar a responsabilidade para o outro. Os problemas são graves, são históricos. O trabalho precisa ser em conjunto. Precisamos agir”, destacou, reforçando a necessidade de capacitação dos profissionais de saúde e maior articulação entre os órgãos públicos.

Foto: Sérgio Vale
Em seguida, a Secretária da Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas (SEPI), Francisca Arara, destacou a necessidade de maior valorização dos profissionais de saúde indígena e melhores condições de trabalho para as equipes que atuam nos territórios. “Nós temos que ajudar valorizando nossos profissionais de saúde indígena. Quem conhece a nossa realidade somos nós mesmos”, afirmou.
Francisca Arara também ressaltou que a responsabilidade pela saúde indígena deve ser compartilhada entre Estado, prefeituras e governo federal. Francisca também alertou para a falta de estrutura adequada, como transporte aéreo para atendimentos emergenciais, e reforçou a necessidade de investimentos em segurança alimentar. “Saúde não é só remédio, não é só a doença em si, mas a gente tem que estar bem preparado, organizado e planejado”, concluiu.

Foto: Sérgio Vale
Após ouvir os relatos da comunidade indígena presente, a secretária adjunta da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), Ana Cristina, destacou a necessidade de alinhamento institucional para resolver problemas de forma prática e objetiva. “O que eu consigo perceber é que falta realmente o diálogo, os alinhamentos de quem está liderando os processos, porque a comunidade precisa ser assistida, isso é fato”, afirmou.
Um dos principais desafios mencionados pela secretária foi a falta de registro de solicitações no sistema de regulação, o que impacta diretamente na organização das ações itinerantes de atendimento. “Como é que eu vou sair daqui levando um cardiologista se no sistema não me apresenta demanda de cardiologia?”, questionou.

Foto: Sérgio Vale
Segundo Ana Cristina, para que o atendimento seja eficiente, é fundamental que as instituições informem as necessidades de cada território. Ela também citou o problema da falta de leitos na maternidade e a escassez de profissionais em algumas especialidades, reforçando que a construção de uma nova maternidade deve amenizar a situação até o final do ano. “Falo aqui em nome do secretário de Saúde Pedro Pascoal, nós vamos abraçar essa causa. O que a gente puder fazer para garantir o bem estar dessa comunidade, nós vamos fazer”, afirmou.
Ao final da audiência, foi elaborado um relatório com as principais demandas apresentadas e sugerir ações concretas ao governo estadual e federal. A expectativa é que os encaminhamentos resultem em melhorias efetivas para a saúde indígena no Acre.
Com informações Agência Aleac