Não sou jornalista, embora às vezes seja apontado como tal em vista desta coluna que já tem quase 300 edições. Também não sou advogado embora tenha cursado integralmente nove semestres do curso de direito, nem economista, embora tenha um mestrado na área, nem sociólogo embora tenha um mestrado na área, nem ambientalista embora tenha um doutorado inconcluso (não defendi tese) na área. Sou apenas, diria, um velho agrônomo um tanto apartado da sua formação básica, um escritor tardio e um buscador de sentido para tudo que julgo relevante.
Começo assim (sem cabotinismo), para afastar desde logo uma inquietação natural de jornalistas, que poderiam perguntar por que trato aqui da ética jornalística e de seus pecados, se não sou jornalista. Pois bem. Trato porque faz sentido para mim que jornais e jornalistas cometam repetidamente todos os pecados assinalados pelo historiador, jornalista e escritor Paul Johnson em 1993, no Jornal da Tarde. Em meu favor, a lógica do argumento que supera largamente a autoridade do argumentador.
Tenho como alvo o papel deplorável que a grande mídia exerce, não de agora, no sentido de agir descaradamente como ponta de lança de uma determinada ideologia, como a reivindicar pelo poder que exerce e não por seus valores éticos, a transformação da sociedade, fugindo assim de sua razão de existir. Paul Johnson apontou objetivamente os sete pecados da imprensa:
1-Distorção – quando a notícia vem carregada de vieses de informação, levando o leitor à compreensão pretendida pelo editor. Determinadas palavras e ênfases são suficientes para distorcer uma notícia sem falsificá-la exatamente.
2-Culto das falsas imagens – quando o veículo ou jornalista se dispõe sistematicamente a atribuir, via imagens fortes ou repetidas, características que não correspondem à realidade de fatos ou indivíduos. Normalmente ocorre nas televisões.
3-Invasão da privacidade – ocorre quando a notícia ultrapassa os limites privados da vida de personalidades, gerando com isso impacto relevante na imagem pública do personagem invadido.
4-Assassinato de personagem – é o próprio objetivo do veículo ou jornalista no sentido de pautar determinada personalidade a partir de fatos desabonadores, passados ou presente que, mesmo verdadeiros, não teriam normalmente a relevância nem o interesse que é atribuído. Busca-se, por esta via, destruir a imagem pública do alvo,
5-Exploração do sexo – o uso desmesurado do sexo, seja pela imagem ou simplesmente pela referência, usos e costumes, como forma de atrair a atenção do público e, assim, obter audiência que se converte, obviamente, em faturamento.
6-Envenenamento das mentes das crianças – programas destinados ao público infantil são carregados de mensagens, diretas ou subliminares, de conteúdo impróprio à faixa etária dos espectadores.
7-Abuso do poder – ciente do poder que possui, a imprensa extrapola seu próprio exercício, estabelecendo como propósito alterar os rumos da sociedade, seja política ou culturalmente, introduzindo ou exacerbando demonstrações de usos e costumes muitas vezes alheios à vontade dos indivíduos e famílias consumidoras da notícia.
Pois é. O leitor percebeu em cada pecado a mesma contumácia que eu quando os cruzo com o noticiário do dia a dia? Não parece a receita daquela Rede de Televisão e Jornais que comanda a informação nossa de cada dia? Não parece a cópia de um tratado da imprensa com certos partidos políticos e organizações da sociedade?
Penso que o último pecado apontado por Johnson é o pai de todos os outros. O quarto poder, como é muitas vezes denominado, irmã do Executivo, Legislativo e Judiciário, exacerba-se muitas vezes, ao ponto de, com atualmente, alinhar-se em conluio para exercer um papel que não lhe cabe por definição. A ética da imprensa, baseada na pluralidade de opiniões e interpretações sobre o fato, não suporta atentados contra a liberdade de expressão como no caso da COVID, da maquininha santa e inquestionável e da versão ridícula de tentativa de golpe de estado pelos manifestantes de 8 de janeiro. Isto somente é possível porque a imprensa desnaturou-se ao longo do tempo e, de pecado em pecado, estabeleceu uma relação incestuosa com seus irmãos republicanos.
Hodiernamente, as mídias sociais tentam furar essa barreira e, alternativamente, dar voz às vítimas dos pecados da imprensa. E estão tendo sucesso. O desaparecimento dos jornais impressos e a queda da audiência das emissoras de TV é resultado não apenas do processo evolutivo das comunicações, mas também do descrédito em que caíram quando começamos a perceber que é possível gerar e trocar informações sadias sem precisar da intermediação da imprensa. É possível surgir personalidades credíveis além dos comentaristas pré-pagos na grande mídia. É possível fazer escolhas políticas e culturais por fora da militância dos grandes grupos de comunicação. É possível (talvez somente) fazer uma imprensa livre, sem que o poder seja dos donos da imprensa.
Dirão os censores que as redes sociais permitem a proliferação de mentiras. É mesmo? Mais do que na grande mídia? A vantagem que temos nas plataformas é que a própria sociedade corrige seus erros, rapidamente joga no lixo a mentira. NENHUMA mentira tem vida longa nas mídias sociais, enquanto isso, vivemos até hoje sem um mea culpa do consórcio da imprensa em relação aos pecados que cometeram durante a COVID. Quem veio a público revelar que a peste nasceu em laboratório? Quem se desculpou por prender famílias na praia por causa de uma máscara ineficaz? Quem apareceu para recuperar os estabelecimentos comerciais lacrados e multados sem NENHUMA razão de fato? Onde estão as notícias sobre as pesquisas recentes que comprovam a eficácia dos tratamentos precoces? Pois é. A mentira da grande mídia parece ser eterna, ela nunca pede desculpas.
Daí a sua faina insana no sentido de regulamentar (leia-se CENSURAR) as mídias sociais. Querem, precisam eliminar a liberdade de expressão para que possam, como únicos titulares da informação, dar curso aos seus propósitos negociados na escuridão dos gabinetes de Brasília com seus irmãos. A julgar pelo olhar de Paul Johnson, a imprensa vive hoje em pecado permanente e contínuo, sendo esta, talvez, a única forma de manter-se no poder.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.