A Granja Carijó quer exportar ovos de galinha para o Peru. Há dois anos, iniciou um processo de expansão aumentando a capacidade da fábrica de ração, o entreposto de ovos e melhorou o sistema de distribuição. A execução do planejamento segue o cronograma, administrando fatores que misturam elementos técnicos e políticos.
O empresário Diogo Luiz Valente de Figueiredo, 38, aguarda uma missão do governo peruano para que a unidade da Carijó, localizada no Km 52 da BR-317, em Senador Guiomard, receba a liberação para exportar. A Carijó é sifada pelo Mapa. Mas o protocolo exige que o país que vende o produto o faça dentro das normas sanitárias do país importador.
O roteiro que o empresário acreano aguarda é o seguinte: o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em Brasília, precisa “responder” ao Ministério de Desenvolvimento Agrário e Irrigação, em Lima: dúvidas técnicas, relacionadas, sobretudo, às questões sanitárias. A “conversa” entre os dois ministérios acontecendo, o passo seguinte é a auditoria no local onde é elaborado o produto.
O senador Sérgio Petecão (PSD/AC), que é o presidente do bloco parlamentar Brasil/Peru, tornou pública a agenda com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Na pauta do parlamentar, um pedido: agilidade no diálogo com as autoridades peruanas e a renovação de uma velha promessa nunca cumprida pelo Governo Federal. “O ministro sabe do problema da falta de estrutura de fiscalização aduaneira na nossa tríplice fronteira. É o gargalo”, afirmou o senador.
“Nós queremos iniciar a comercialização com o Peru ainda em 2025”, antecipa o empresário Diogo Luiz (como gosta de ser chamado), da Granja Carijó. Querer estar no mercado andino exigiu que a unidade da Vila Pia fosse ampliada em 25%. A estimativa inicial é que o volume exportado para o Peru alcance 8% do que é produzido diariamente. É uma estimativa.
Lima, com população contabilizada entre 9 e 10 milhões de habitantes, é um mercado que está muito longe do horizonte do empresário acreano. “Lima não tem vantagem competitiva para nós”, avalia o empresário. Ele quer consolidar a marca em regiões estratégicas. E, nesse aspecto, nada melhor que o Sul do Peru. Arequipa, Juliaca e Cuzco têm, aproximadamente, 1,9 milhão de habitantes.
O empresário Diogo Luiz já responde a algumas críticas relacionadas ao abastecimento do mercado acreano. “Sobre as críticas de que o fato de não dominarmos cem por cento o mercado acreano isso nos desabilita a exportar, onde está escrito isso?”, ironiza. “É uma loucura, é um delírio querer dominar cem por cento do mercado”.
O que o empresário está de olho, diariamente, é para o câmbio. Com a moeda peruana (soles) mais valorizada que o real (S/. 1 = R$ 0,65) a taxa de câmbio continua atrativa para a exportação. Os 138 funcionários da unidade da Vila Pia agradecem.
Aproximadamente, 20% do que a Granja Carijó produz são comercializados em Vista Alegre do Abunã, Guajará Mirim e Porto Velho. São vendidos cerca de 400 mil ovos por dia da empresa acreana em Rondônia.
E Diogo Luiz tem uma explicação. “A carne acreana é uma das mais baratas do país. É fato. Então, para o rondoniense, comer carne não é tão barato quanto aqui. É aí que o ovo passa a fazer parte da dieta com mais regularidade por lá”, relaciona o empresário.
Localizada à margem da BR-317, a Granja Carijó entrou em operação há cerca de 15 anos e mudou a geografia da região da Vila Pia. Somada a outras empresas que utilizam o milho como insumo, a produção acabou sendo pressionada por demanda. Nesse caso, é um cenário em que tudo precisa funcionar como uma orquestra. Qualquer gargalo compromete toda cadeia. E quando o mercado peruano, de fato, passar a integrar a agenda da direção, a pressão será ainda maior. Regularidade, qualidade, escala de produção e mercado: esse é o quarteto mágico de quem decide encarar o comércio internacional. A Granja Carijó, que já planeja estar com unidades de logística estratégica no Peru, só aguarda a chegada dos auditores peruanos. “Estamos prontos”, assegura Diogo Luiz.
Por trás das estratégias da Granja Carijó e de outras empresas da região Norte rumo ao Peru, existe um trabalho de articulação empresarial e política arquitetado pela PerBra. O diretor comercial de Logística e Comércio Exterior da holding, Alejandro Salinas, está há mais de 20 anos radicado no Brasil. Tempo suficiente para diagnosticar os gargalos e as potencialidades comerciais dos dois lados da fronteira.
No radar da PerBra, o Acre é parte de um processo maior. O foco são as empresas do Norte do Brasil. “O Norte em si como fornecedor e também como comprador”, aponta Salinas. Mantendo discrição em relação à marca, o representante da PerBra lembra que há uma marca de guaraná de Manaus que já está em adiantado processo de inserção no mercado peruano.
O exemplo em que Salinas mais mantém entusiasmo é quando fala da acreana Nutrak. A ração já está no Peru há mais de um ano e entrou na agenda do governo peruano na política de fortalecimento da cadeia do pescado. Nos cálculo de Salinas, a ração acreana conseguiu conversão mais atrativa que outras rações já testadas.
Uma conta rápida para exemplificar. “Em um ano, usando outras rações, o Peru conseguiu engorda de um quilo de pirapitinga. Com a Nutrak, em 11 meses, conseguiu-se três quilos”.
Além da Nutrak e da Carijó, outra indústria acreana que já mira o mercado peruano é o Café Contri, inclusive com a comercialização de café em cápsulas. Contri também prioriza a região Sul do Peru.
Nos dias 24 e 25 de fevereiro, uma missão peruana formada pelo diretor nacional de Normativa Sanitária do Peru e pelo diretor da região Sul Cite Aquícola chega ao Acre. A Cite Aquícola é uma agência ligada ao governo central peruano.
Um ponto da agenda chama atenção: a possibilidade de importação de truta peruana por parte de um empresário da Capital. Truta é um peixe com consistência e sabor muito parecido com o salmão, de fácil aceitação no mercado consumidor de todo Brasil.
“Ainda não é possível adiantar quem será o empresário. Mas, caso a missão avalie que ele tem condições de receber o produto, a estimativa é comercializar vinte toneladas de salmão por semana”, afirma Alejandro Salinas, da PerBra Holding.
O quilo do salmão praticado no Acre é inviável na mesa do acreano de renda média, com um preço que facilmente ultrapassa os R$ 90 a R$ 100 o quilo. Há explicação. Produzido no Lago Titicaca, a truta do Peru percorre um caminho longo até chegar às gôndolas dos supermercados da Capital acreana. “Praticamente, oitenta por cento das trutas produzidas no Peru são contrabandeadas para o Chile. De lá, segue para São Paulo e de São Paulo vem para cá. Agora, nós podemos encurtar o caminho e, com isso, baixar os custos”, afirma o diretor da holding.