Está em curso uma silenciosa movimentação na economia regional. Empresas, geralmente de porte médio, estão em fase de conclusão de processos para se aventurarem no mercado internacional. Em uma locução verbal: vão exportar. E falar em exportar aqui no Acre é falar no mercado andino, com destaque para Peru e Chile. Depende do produto, claro. No caso da relação de produtos acreanos industrializados nessas empresas de porte médio, a maior parte é ligada à indústria alimentícia.
O segmento de ovos de galinha é um destaque. Mas há outros. Há ração animal (aliás, é o segmento que já está na agenda até do governo peruano há mais de um ano com excelente desempenho na conversão de quilo de ração em proteína animal). Há o segmento do café também. Tem para todos os gostos.
O que o ac24horas chama atenção é para as possíveis consequências disto. É uma espécie de dilema que o Acre pode viver em breve. Um dilema fruto de um possível crescimento econômico, caso o movimento de integração com os vizinhos andinos se consolide. Qual é o dilema?
Todos querem que as empresas acreanas cresçam, sob a referência óbvia de que empresas fortes podem gerar mais empregos ou demandar mais postos de trabalho. Isso dinamiza um ciclo virtuoso na economia regional que não há ser vivente racional que possa ser contrário a isto. Portanto, é preciso estabelecer essa premissa: economia fortalecida e dinâmica é bom.
Ocorre que o competitivo e agressivo “mercado internacional” é guloso. Exportar não é vender uma ou duas vezes para fora do país. Exportar é uma rotina que exige ao menos respeito a quatro fatores fundamentais: regularidade/escala de produção/qualidade do produto/mercado consumidor.
Respeitados esses fatores, a empresa começa a adquirir conhecimento (que no jargão do “economês” a turma chama de know-how). Ocorre que um risco, automaticamente, se constrói: o produto que sai daqui, que gera emprego, que fortalece as empresas, que gera pagamento de tributos, que podem ser revertidos em benefícios coletivos, é o mesmo produto que pode faltar no mercado local. E aí temos o que, de novo, a turma da Economia, chama de “ambiente inflacionário”. Eis o dilema.
O acreano já conhece isso na prática com o mercado da carne bovina. Além de, naturalmente, haver o “ciclo do boi”, ainda há as demandas do poderoso mercado internacional. Fatores fortes que impactam na mesa do acreano. Embora (é preciso ser justo com produtores e com os frigoríficos), mesmo com os lucros satisfeitos, conseguem oferecer uma das carnes mais baratas do Brasil. Mas o que se quer chamar atenção é para a dinâmica do comércio exportador e as consequências para o consumidor que fica por aqui.
Nesse aspecto, é preciso que empresas menores, que não têm intenções de se aventurar no mercado externo, passem a ver esse contexto como uma oportunidade para se consolidar regionalmente. Crescer em um possível vácuo deixado por quem deixou de vender pelos barrancos daqui. Esse movimento… esse devir… essa dinâmica é preciso ser observada por todos, inclusive pelo consumidor, que não pode ser surpreendido. A surpresa do consumidor desqualifica a decisão tomada. E isso ninguém quer.