Como sabem os leitores, o foco desta coluna não é a política local, raramente confronto os nossos jornalistas experientes e gabaritados na espécie, cheios de fontes e acessos aos bastidores que, convenhamos, em terra de muro baixo nem são assim tão discretos. Contudo, vez por outra, dependendo dos fatos e da conveniência, data vênia, meto meu bedelho na faina dos analistas da aldeia.
Resguardado que não tenho fontes, off’s nem bastidores, quero referir ao recente corte raso que o governador Gladson fez nas indicações do bom senador Alan Rick no governo. Ganharam as mesas de conversas e os sites noticiosos, a dispensa que não poupou sequer a querida Gorete Miranda, lá na Secretaria de Agricultura. Na FUNTAC, onde exercia com muita competência uma das diretorias, também a Mirla Miranda, irmã do senador, foi defenestrada. Outros seguiram o mesmo caminho.
Pois é. A rigor, trata-se de mero exercício do uso da caneta que assim como nomeia, demite conforme os altos e baixos da política, ou seja, politicamente nomeado, qualquer um pode e, certamente será, em algum momento, politicamente demitido. Quem quiser diferente, aguarde um concurso, se prepare e assuma nos termos da lei. Essa não é a questão.
O surpreendente no caso foi o momento. Por que agora? Perguntam todos. Ora, e por que não? Com a candidatura da vice-governadora Mailza posta na rua (não a campanha, obviamente), essa ruptura aconteceria a qualquer instante. Sabemos todos que não havia condições de manter duas candidaturas viáveis no mesmo campo político. Com a esquerda em frangalhos, tentando se pendurar numa arriscada candidatura do Jorge Viana ao senado, era obvio que a direita seria fraturada para que os candidatos pudessem se opor de alguma forma e tentar conquistar o voto do eleitor, jamais seria uma candidatura única, então, não fazia muito sentido aguardar o desfecho de um roteiro certo e sabido. O governador agiu, penso, na base do “não deixar para depois o que se pode fazer agora”. Se agiu certo ou errado, é lá com o futuro.
Essa decisão marca em definitivo a afirmação de um plano eleitoral que passa pelo fortalecimento da Mailza no próximo ano e meio, pela reeleição do senador Marcio Bittar e, obviamente, o retorno do Gladson ao senado, o que corresponde a empurrar o Alan Rick para os braços do MDB que assim terá a chance de apontar o companheiro de chapa, muito provavelmente, a ex-deputada Jéssica Sales. As vagas do senado na chapa majoritária encabeçada pelo Alan Rick continuam aguardando candidatos, esperando um corajoso que pode ser, nestas circunstâncias, um Petecão desanimado com a falta de afago nas hostes governistas. Voltar para o ninho oposicionista não lhe será custoso.
Uma pergunta que se impõe é: quem puxará o cordão lulopetista no Acre? Mailza, nem pensar. Com a direita mais consolidada em torno de si, aí incluindo os representantes do bolsonarismo e, sendo ela mesma vinculada a pautas conservadoras, é patente que se aliará ao candidato a presidente oriundo desse espectro político. Alan Rick? Também não. O senador é um representante claramente identificado com a direita, bolsonarista, assiduamente contrário ao governo em seus votos no Senado, não caberia, pois, de uma hora para outra, mesmo tensionado pelo MDB de certos cabeças brancas, fazer um giro de 180 graus e vestir o modelito vermelho-abortista-identitário, seria desmoralizante. Sobra… NINGUÉM! A não ser, é claro, o próprio Jorge Viana, que a essa altura provavelmente pensará no próprio umbigo. Como diria a janja “Fuck you, Lula!”
A se manter o quadro acima desenhado, teremos em 2026 duas candidaturas viáveis no campo da direita e nenhuma no campo da esquerda. É razoável presumir que Lula ou seu poste terá a mais fragorosa derrota eleitoral já havida no Acre, o que pesará como chumbo na candidatura do lulopetista Jorge Viana ao Senado. A não ser que o dito cujo tire da cartola um pombo desconhecido. Pensando bem, que tal ele próprio vir ao debate defender sua neoflorestania? Seria especialmente proveitoso para o debate sobre o desenvolvimento acreano, que somando a formidável experiência recente na APEX, o Jorge exibisse em campanha para o governo, longe de entrevistas adocicadas, a sua agenda para o Acre que sob seus critérios, refinados com tantas viagens pelo mundo, está cafona, feio e atrasado.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no DIÁRIO DO ACRE, no ACRENEWS, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.