Foto: Sérgio Vale
O vereador e ex-deputado estadual Neném Almeida (MDB) foi o entrevistado do programa Bar do Vaz nesta quinta-feira, 6, onde analisou o cenário político na Câmara Municipal de Rio Branco. Segundo ele, faltou habilidade política para conquistar espaço nas comissões. Além disso, Almeida destacou que, entre os 21 vereadores, nenhum deseja assumir a liderança de Tião Bocalom no parlamento.
Ex-catador de latas e funcionário do Banco do Brasil há 20 anos, Almeida iniciou a entrevista falando sobre sua atuação na instituição bancária, ressaltando a importância do diálogo e das melhorias para os servidores. “Sou muito grato a Deus por tudo isso e, de coração, quero retribuir de alguma forma à população o que Ele fez na minha vida e da minha família. Sou sindicalista e entrei para o sindicato em 2015. Antigamente, muitos sindicalistas não tinham consciência do poder que possuem, e o sindicalista tem um papel fundamental: ele não pode ser demitido e, muitas vezes, usa essa condição para pressionar os banqueiros. No entanto, entre os sindicalistas e os banqueiros, há os bancários, que também merecem respeito, pois representam o banco e são trabalhadores como nós. Desde 2015, buscamos promover o diálogo. Aprendemos a construir por meio da conversa e, graças a Deus, conquistamos muitos avanços para a categoria bancária. E não apenas dentro da categoria, mas conseguimos expandir nossa atuação por meio do sindicato”, afirmou.
O parlamentar Neném, em entrevista ao jornalista Roberto Vaz, afirmou que a população mais humilde não se interessa pelas histórias dos políticos e criticou a falta de reconhecimento dos políticos sem mandato. “As pessoas que um dia foram pobres parecem que se esquecem do povo. Nossa política hoje está cercada de ‘popstars’ e grandes acontecimentos, mas trabalho que é bom, ninguém quer fazer. Quando chega a hora da urna, o que importa é a história do candidato. Falo isso de coração: quando vejo uma criança pedindo ou uma pessoa no semáforo pedindo ajuda, isso me toca profundamente. Sem mandato, você é muito frágil, não vale nem uma cibalena vencida, nem o vento bate na porta”, declarou.
Durante a entrevista, o emedebista reconheceu que não há diálogo com o prefeito Tião Bocalom, mas apontou a falta de habilidade política dos aliados da prefeitura na articulação para liderar as comissões da Câmara Municipal. Atualmente, das 13 comissões, todas contam com membros do PP e do MDB. “Na realidade, trata-se de habilidade política. Quem está no comando da máquina tem condições de fazer tudo acontecer, como diz o ditado: cortar o cabelo, fazer a barba e o bigode. Mas o prefeito… Eu não sei, porque não tenho conversa com ele. No primeiro mandato, ajudei na eleição, mas depois nunca mais tivemos diálogo, e isso me entristece. Eles tentaram montar as comissões e queriam ser os principais membros, mas deixaram de fora um aliado importante, o PP. No fim, conseguimos garantir que todas as comissões tenham membros do PP e do MDB. Quero defender o presidente da Câmara. Muita gente diz que estou manobrando alguém da prefeitura para ajudar, mas o presidente João tentou diálogo várias vezes nesses últimos três dias, buscando construir um consenso. O problema é que, muitas vezes, as ordens vêm de cima”, concluiu.
Almeida acredita que Bocalom foi influenciado por terceiros contra ele ainda durante seu mandato como deputado.“Eu acredito que alguém envenenou Bocalom contra mim. Quando era deputado, tentei falar com ele várias vezes.”
O parlamentar ironizou o discurso de honestidade de Tião Bocalom, afirmando que, apesar de o prefeito pregar economia de recursos, ele recorre a empréstimos.“Ele vende muito essa questão da honestidade, né? Isso é algo em que ele se apoia. No início, ele dizia pra gente: ‘Se não roubar, o dinheiro dá.’ Então, se o dinheiro dá, por que fazer empréstimos? Se não roubar, o dinheiro deveria ser suficiente. Mas, pelo visto, não foi, já que ele precisou pegar emprestado”, ressaltou.
Sobre a possibilidade de assumir a liderança da gestão de Bocalom na Câmara Municipal, Almeida afirmou que nenhum parlamentar deseja essa posição. “Pelo contrário, lá ninguém quer ser líder”, disparou.
O vereador também alertou o prefeito, ressaltando que não é possível governar sem o apoio da Câmara. “Não dá para governar sem a Câmara. Se pegarmos a Constituição, seja federal, estadual ou municipal, quem governa é o parlamento. Sem ele, não se consegue fazer nada”, explicou.
Almeida deixou claro ao jornalista Roberto Vaz que não deseja cargos na gestão de Tião Bocalom, mas espera que o prefeito governe para o bem da população.“Eu quero que ele seja bom para a população. Não quero um cargo dele, mas quero que nos escute. Para ter uma ideia, mandei mensagem para um secretário perguntando se ele podia me receber, e até hoje não me respondeu”, disse.
Destacando que não é petista nem de esquerda, Almeida afirmou que a gestão do governo Lula fez mais pelo Acre do que os quatro anos do governo Bolsonaro.“Eu não sou petista. Nunca fui petista. Não fiz parte da Frente Popular. Mas tenho 54 anos e nunca vi um grupo político fazer tanto por Rio Branco como a Frente Popular fez. No governo Bolsonaro, e não sou nem Bolsonaro nem Lula, acho uma loucura essa briga até hoje, mas a verdade é que, nos quatro anos de Bolsonaro, veio pouco dinheiro para o Acre. Já no primeiro ano do governo Lula, veio mais dinheiro do que em todo o governo Bolsonaro. E, mesmo assim, quando se faz uma pesquisa, o Lula perde. Nunca ninguém fez tanto pelo Acre como o governo Lula.”
O líder do bloco parlamentar na Câmara Municipal também revelou que cerca de 80 mil pessoas deixaram o Acre nos últimos anos. “Foram quase 80 mil pessoas embora do Acre. E eu posso perder muitos votos com o que vou dizer, mas preciso falar. Muitos princípios se perderam. A culpa é da própria população. Ela é culpada e vítima ao mesmo tempo. Vítima porque não sabe o que está fazendo, mas culpada porque, na hora de votar, vota errado”, avaliou.
Neném Almeida também lamentou a prática política adotada no Acre nos últimos tempos. “A cultura do Acre hoje é de comprar votos. Para você ter uma ideia, muitas pessoas não estão nem preocupadas em fazer política ao longo dos quatro anos. São poucos os que realmente fazem. Sem pretensão, são poucos. A política de verdade é aquela do pé no chão, de estar dentro dos bairros, das comunidades, ouvindo a população.”
Assista a entrevista na íntegra:
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