O Acre preserva em suas raízes a tradição das rezadeiras, práticas ancestrais de benzedura e cura voltadas à proteção e restabelecimento do bem-estar. Para retratar esse conhecimento e preservar suas memórias, o curta-metragem Vou Rezando e Vou Cantando será exibido no domingo, 2, às 17h, no Centro Eclético Flor do Lótus Iluminado Maria Marques Vieira (Ceflimavi), localizado na Rua Antônio Gomes da Silva, bairro Irineu Serra, em Rio Branco.
Com 11 minutos de duração, a produção homenageia Cândida de Oliveira Braga Rocha, que há 50 anos se dedica à prática da reza, um conhecimento que aprendeu com os pais e aprofundou sob a orientação do mestre Raimundo Irineu Serra, fundador da doutrina do Santo Daime, da qual é seguidora há 60 anos.
Dona Cândida explica que a procura por benzedores ainda é alta, mas que o número de praticantes tem diminuído ao longo dos anos. “Quase não existe mais rezador, e por isso as pessoas nos procuram muito. É um conhecimento passado de geração para geração, mas tentei ensinar minhas filhas e elas não quiseram, porque sabem da responsabilidade. A reza é um dom”, afirma.
Atendendo até seis pessoas por dia, ela se dedica ao tratamento de males populares como “quebrante”, “cobreiro” e “vento caído”, entre outros. Em sua rotina, às margens do Igarapé São Francisco, utiliza galhos de manjericão ou pinhão-roxo, sussurrando bênçãos e estabelecendo conexões espirituais. “Rezo até as 8h da noite. Depois disso, só se a pessoa estiver muito necessitada. Outra coisa: reza não se cobra. Deus nos deu o dom, e não podemos receber por ele”, destaca.
A exibição do curta acontecerá no dia do aniversário de dona Cândida, que completa 69 anos e celebra o reconhecimento. “Fico muito feliz e animada”, diz.
O roteiro e a direção do filme são assinados pela jornalista Katiúscia Miranda Silva, com direção de fotografia do publicitário Marcus Ramon e produção da Imaginarium Company. O projeto foi viabilizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, em parceria com a Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM).
“Esse projeto foi inspirado também na história de Paulo Gustavo, que faleceu no auge da pandemia de Covid-19. Dona Cândida passou por uma situação semelhante, chegou a ser desenganada pelos médicos, mas se agarrou à sua fé e teve mais tempo para contar sua história”, explica Katiúscia.
No ano passado, dona Cândida foi uma das homenageadas pelo Prêmio Mestres da Cultura Popular do Acre, recebendo o reconhecimento na categoria Mestre de Comunidades Tradicionais Ayahuasqueiras. Aos 18 anos, começou a rezar e encontrou no Santo Daime sua base espiritual para auxiliar na cura de enfermidades. Atualmente, segue ativa na doutrina fundada por Irineu Serra e participa dos trabalhos no Ceflimavi. Também recebeu um hinário com nove hinos, entoados em cerimônias e festividades da igreja.
Com informações da Agência de Notícias do Acre.