O Brasil começou a testar a viabilidade de uma nova gasolina com 30% de etanol, acima dos 27,5% atualmente presentes no combustível comercializado no país.
Os testes fazem parte do programa Combustível do Futuro, criado para ampliar o uso de biocombustíveis no país. Até fevereiro, serão analisados fatores como emissões de poluentes e possíveis impactos técnicos em veículos de diferentes tecnologias e idades.
Os estudos estão sendo conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), escolhido pelo Ministério de Minas e Energia (MME) para liderar a iniciativa. Os resultados preliminares serão entregues ao governo ainda no primeiro trimestre de 2025.
Estamos empenhados em assegurar que a transição para uma gasolina com maior teor de etanol seja viável e sustentável, atendendo aos rigorosos padrões técnicos e de desempenho exigidos pelo setor automotivo Luana Cristina Xavier Camargos, coordenadora do Núcleo de Certificação e Homologação do IMT.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), essa já é uma segunda etapa do processo. “O Ministério primeiramente atuou como coordenador do esforço conjunto das entidades representativas da indústria automotiva de duas e de quatro rodas do País para a aprovação de um protocolo. A expectativa, agora, é que testes sejam concluídos pelo Instituto Mauá de Tecnologia até fevereiro, conforme cronograma já estabelecido.”
O programa foi criado com a sanção da Lei do Combustível do Futuro (14.993/24), em outubro do ano passado. Criada para impulsionar a descarbonização da matriz energética brasileira, prevê aumento progressivo da mistura de etanol na gasolina, podendo chegar a 35%.
De acordo com a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), estima-se que o aumento de três pontos percentuais de etanol na gasolina (de 27% para 30%) aumente o consumo do biocombustível em aproximadamente 1,3 bilhões de litros, o que evitaria a emissão de mais de 2,8 milhões de toneladas de CO2 por ano.
O que os testes avaliam
A mudança na mistura de etanol levanta dúvidas comuns entre os consumidores, como a compatibilidade dos motores a gasolina com o novo combustível e o impacto no consumo. Por isso, de acordo com o Instituto, o objetivo dos testes é garantir que a mudança na composição da gasolina não afete a funcionalidade e a dirigibilidade dos automóveis.
Em uma entrevista realizada em março de 2024, quando o então Projeto de Lei estava sendo discutido no Congresso, o professor Renato Romio, do Instituto Mauá de Tecnologia, em entrevista ao UOL Carros, já havia alertado para a necessidade de entender melhor o efeito da nova mistura:
“Não há dúvidas do impacto positivo na redução da emissão de CO2, que afeta o aquecimento global. Mas certamente será necessário dedicar um tempo para estudar os veículos que circulam somente a gasolina, como carros mais antigos ou importados. Será preciso entender se o novo percentual pode trazer prejuízos técnicos, como danos às peças e aumento do desgaste, e também o desempenho em relação a emissões de outros poluentes, que poluem localmente a cidade, como NOx, HC e CO.”
Essa questão foi levantada em 2015, quando o percentual de etanol anidro na gasolina passou de 25% para os atuais 27,5%. Na época, para atender aos modelos importados a gasolina, ficou estabelecido que a gasolina premium continuaria com o percentual de 25%.
A solução fez com que a Anfavea – associação das montadoras – recomendasse que esses modelos fossem abastecidos somente com a gasolina premium até que estudos sobre o tema fossem concluídos. No fim das contas, foi verificado que a nova mistura não prejudicava os motores que funcionam somente com gasolina.
O próximo passo
O Instituto Mauá é a entidade executora dos estudos, que têm como objetivo subsidiar a próxima etapa do programa Combustível do Futuro: a análise de impacto regulatório. Os resultados obtidos até o fim dos testes ajudarão o governo a decidir se a mudança será implementada e de que forma ela poderá ser aplicada ao mercado brasileiro.
Por enquanto, a promessa é que a nova gasolina traga benefícios ao setor sucroenergético, contribuindo para ampliar o consumo de etanol no Brasil e no mundo, enquanto reduz a necessidade de importação de gasolina. O impacto final para os consumidores, no entanto, dependerá das conclusões técnicas e das políticas adotadas após os estudos.